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Lista | Star Trek: Discovery – 3ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

Star Trek: Discovery tinha uma tabula rasa a sua frente com a tripulação da nave titular acompanhando Michael em um salto para quase mil anos no futuro, literalmente indo até aonde nenhuma série da franquia jamais foi. Nesse futuro distópico, o dilítio, material essencial para as viagens interestelares, explodiu simultaneamente em todo o universo, quebrando completamente a possibilidade de unificação de planetas e, claro, a Federação que, no começo, é apenas uma lenda.

O mote, portanto, foi usar a Discovery como última esperança para reverter esse quadro considerando que é a única nave equipada com motor capaz de cobrir distâncias enormes sem necessidade de dilítio, algo que é trabalhado de maneira que a tripulação não só procurasse explicação para o fenômeno da Combustão, como também para que a Federação – ou o que restou dela – pudesse ser encontrada e novamente integrada aos planetas que, ao longo de mais de um século, foram inevitavelmente abandonados à sua sorte. Com novos personagens interessantes, especialmente Book que funciona tanto como interesse amoroso para Michael quanto como “tutor” sobre esse futuro estranho e Adira, personagem não-binária que carrega um simbionte Trill, a primeira humana a conseguir isso sem ter efeitos adversos, a temporada de 13 episódios teve seus altos e baixos, mas conseguiu desenvolver com um bom grau de eficiência essa premissa.

Os pontos negativos realmente salientes foram a grande vilã Osyraa, líder da Corrente Esmeralda, uma organização que usa de escravidão e violência para alcançar seus objetivos, que foi introduzida abruptamente como uma personagem genérica e sem graça, somente para, depois, quase que completamente do nada, ganhar contornos extremamente interessantes com sua proposta de um tratado de paz e cooperação mútua com a Federação. Reputo, porém, que Osyraa é a consequência de um problema ainda maior: o episódio duplo focado exclusivamente na Imperatriz Philippa Georgiou retornando ao Universo Espelho com ajuda de uma entidade misteriosa para curar-se de uma “doença temporal”. Não só Terra Firma foi completamente desconectado da trama principal, como ele descaradamente serviu de backdoor pilot para a prometida série da Seção 31 capitaneada por Georgiou. O resultado foi que esses dois episódios roubaram tempo demais da série que poderia ter sido usado justamente para trabalhar melhor a Corrente Esmeralda e sua líder.

No entanto, a trinca final de episódios – basicamente um episódio triplo – veio resgatar a qualidade da temporada, dando boa atenção a todos os personagens da série, especialmente Saru, mas sem se esquecer dos secundários e entregando um final mais do que satisfatório para as desventuras de Michael, agora finalmente capitã, e equipe, nesse futuro distante. Como sempre fazemos com temporadas que acompanhamos por episódio, segue nosso ranking de episódios, do pior ao melhor.

Concordam, discordam, muito pelo contrário? Mandem suas próprias listas e comentários!

13º Lugar:
Terra Firma, Part 2

3X10

Chega a ser inexplicável essa escolha dos showrunners, resultando em um gigantesco filler que, ainda por cima, como uma cereja estragada em um bolo solado, não conta uma boa história. Se o retorno para o Universo Espelho no episódio anterior foi interessante porque aconteceu em um momento em que estamos já completamente acostumados com os personagens de Discovery, algo que não aconteceu lá atrás na 1ª temporada, a insistência em permanecer por lá para marretar o óbvio, que essa Georgiou não é mais a mesma Georgiou que saiu de seu universo original, cansa terrivelmente, sem acrescentar nada, sequer um segundo de algo que já não sabíamos. Até mesmo toda a gigantesca sequência de “reabilitação por tortura” da outra Michael, a reviravolta e o final que leva à morte dela por sua mãe, além da forma como a entidade galáctica aleatória que a tudo assiste e que gosta de se chamar Carl reage ao ocorrido, é uma ode ao que é mais óbvio e mais telegrafado (e eu sei que os Guardiões da Eternidade são canônicos da série, mas isso não faz deles algo bom).

12º Lugar:
The Sanctuary

3X08

Para começar, temos o rosto da vilania propriamente dito. A Orion Osyraa, vivida por Janet Kidder (sobrinha da eterna e saudosa Lois Lane, Margot Kidder) é, pelo menos da forma como foi apresentada no episódio, a epítome da vilã genérica que se vale de olhares fuziladores, voz ameaçadora e gestos quase em câmera lenta para passar aquele tipo de maldade que fica mais em casa em desenhos animados. Claro que ela pode acabar se tornando a mais sensacional personagem do universo Star Trek (ainda que as chances são as mesmas de eu acertar na Mega Sena, sendo que eu nem jogar jogo…), mas ela precisará comer muito feijão com arroz para conseguir ter chance de ser mais do que apenas uma paródia de vilã.

11º Lugar:
Far From Home

3X02

As idiotices começam depois que as usuais tecno-baboseiras são faladas e repetidas aos borbotões sobre o estado da nave e o que é necessário para consertá-la. Nada de errado aí se isso não levasse Paul Stamets, recém-saído de um coma induzido e ainda todo quebrado, juntamente com Jett Reno, que tem suas costas arrebentadas no impacto, como os “dois patetas” salvadores da pátria que se auto encarregam de consertar sozinhos a nave criando uma sub-trama de rolar os olhos que se resume a Stamets se arrastando por um tubo, Reno dando instruções óbvias para ele (o que não faz nem sentido) e, mais para a frente, o ressuscitado Hugh Culber dando conselhos médicos importantíssimos como “respire fundo” e “tente ficar calmo” ao seu amor. O negócio chega a ser tão patético que por alguns segundos eu não conseguia sequer acreditar que deixaram passar um roteiro bisonho desses…

10º Lugar:
Terra Firma, Part 1

3X09

Terra Firma é focado em Philippa Georgiou e marca seu retorno ao Universo Espelho em uma abordagem que era inevitável e mais do que esperada. Afinal de contas, por tudo o que ela passou com a tripulação da Discovery no universo prime – ou, claro, no universo que se acha prime – e por tudo que já vimos acontecer com ela em termos de esmorecimento de sua maldade pura e transformação em algo como um caricatura ambulante de vilania (e isso não é, vale dizer, um aspecto negativo, apenas uma constatação), era óbvio que em algum momento a Georgiou modificada teria que encarar seus fantasmas do passado e, como Star Trek é Star Trek, mesmo que alguns insistam em dizer que Discovery não é Star Trek, isso mais cedo ou mais tarde aconteceria de maneira literal.

9º Lugar:
People of Earth

3X03

Mas o episódio tem também a função de nos apresentar a Adira (Blu del Barrio, pessoa não-binária que representa o primeiro personagem não-binário da franquia, ainda que, no episódio, a identidade de gênero não seja abordada), um dos investigadores vindos da Terra que mostra interesse acima do normal pela Discovery, recorrendo até mesmo à sabotagem para forçar a permanência prolongada deles na nave para estudar o motor de esporos. Mostrando interesse em permanecer na nave, Adira certamente será mais uma conexão importante com esse futuro distópico que, diria, ainda não foi apresentado corretamente na série. Mais importante que isso, Adira hospeda um simbionte Trill, ser senciente já conhecido da franquia Star Trek que acumula as memórias de todos os seus demais hospedeiros, pelo que é revelado, ao final, que Adira também é o almirante Tal e, com isso, potencialmente tem conhecimento sobre o que efetivamente sobrou da Federação.

8º Lugar:
Die Trying

3X05

No entanto, é o que está entre a descoberta da infecção e o “bem-vindo ao lar” do final que é o calcanhar de Aquiles do episódio. Não só o fato de a nave-arca de plantas do universo USS Tikhov ainda existir depois desse tempo todo é conveniente demais (sei que é a mesma nave em nome apenas, gerações no futuro, mas mesmo assim ela não ter sido destruída e ainda ser mantida cerimonialmente é talvez um tantinho demais), como a ação que se passa lá não cumpre a missão que parecia pretender. A reunificação da comandante Nhan com outros de sua espécie sem dúvida é uma premissa interessante, mas a execução deixa a desejar, com pouquíssimo espaço para que os costumes barzanianos sejam realmente explorados de forma a criar uma atmosfera É que entendamos o drama do Dr. Attis (Jake Epstein) para além das tecno-baboseiras que explicam o que aconteceu e da situação direta de perda de entes queridos. O que quero dizer é que o fato de ele e Nhan serem barzanianos não afeta em nada o desenrolar da narrativa, com exceção da decisão um tanto quanto estranha de Nhan – e, novamente, sem tempo para ganharmos contexto – de ficar na Tikhov.

7º Lugar:
Scavengers

3X06

Michael não é a primeira e nem será a última oficial da franquia Star Trek a ser insubordinada. Isso está no DNA desse universo utópico, mas muito menos do que perfeito desde o seu começo, mesmo que alguns ainda insistam que todos os personagens das diversas séries sempre obedeceram rigorosamente o livrinho de regras da Frota Estelar. Portanto, ver a protagonista mais uma vez mergulhar em uma missão sem chancela superior em Scavengers não é novidade alguma. Se alguma coisa, é o padrão da personagem desde o primeiro episódio da série. O que torna o capítulo diferente dos demais (e quando digo demais, quero dizer de toda a franquia, não só de Discovery) é que ele não varre as consequências da insubordinação para debaixo do tapete, resolvendo-a com um discurso do tipo “estou desapontado, mas você mandou bem, então está tudo certo” ou mesmo afirmando com todas as letras que a atitude condenável deveria ser considerada uma atitude condenável.

6º Lugar:
That Hope is You, Part 1

3X01

E o primeiro episódio deixou-me com sentimentos conflituosos. Gostei muito do fato de Michelle ParadiseJenny Lumet e Alex Kurtzman terem escrito um roteiro que espertamente reduz a magnitude do ocorrido ao final da temporada anterior à aclimatação da comandante Michael Burnham a esse futuro, sem sequer a tecnologia do Anjo Vermelho já que ela envia a armadura para um último show de fogos de artifício como havia prometido a seu irmão. Saindo do buraco de minhoca para chocar-se com uma nave, com ambos caindo no planeta, ela e o inicialmente misterioso e arredio Cleveland “Book” Booker (David Ajala) precisam unir-se para conseguir dilítio para a nave. Em outras palavras, uma missão simples e objetiva que claramente tem como escopo apresentar a Michael e, claro, aos espectadores, um pouco das circunstância e tecnologias desse futuro. A Discovery? Bem, ela está em local e/ou tempo incerto e não sabido e permanece assim até o final.

5º Lugar:
Unification III

3X07

Discovery volta a mergulhar profundamente na mitologia clássica ao criar, como o título Unification III já deixa bem claro para quem acompanha a franquia, uma continuação para o episódio duplo Unification, da 5ª temporada da Nova Geração em que Spock, então já embaixador, começa o processo de unificação dos romulanos com os vulcanos, duas raças de mesma origem que se tornaram inimigas. É, sem dúvida alguma, o episódio mais hermético das três temporadas até agora, ainda que seu tema universal e as implicações pessoais para Michael Burnham sejam de fácil absorção mesmo para quem não viu as primeiras duas partes ou mesmo qualquer material anterior deste universo.

4º Lugar:
That Hope is You, Part 2

3X13

Como alguns leitores mencionaram, tudo apontava para que Michael fosse empossada como capitã da Discovery e isso, em tese, seria um desperdício de um grande personagem como Saru nessa posição. E isso poderia ser verdade se toda a jornada não tivesse sido construída com esse objetivo. Saru ganhou excelente desenvolvimento ao longo de três temporadas e há uma lógica inafastável em ele, sensível do jeito que é, tentar fazer o máximo por Su’Kal, retornando para Kaminar. É um final – que não é necessariamente definitivo, temos que lembrar – extremamente digno para o personagem e para seu intérprete. Na outra ponta, o caminho de Michael, de prisioneira da Federação até o posto de capitã não só sugerido por Saru como referendado pelo Almirante Charles Vance, é igualmente lógico e bem construído e, vamos combinar, mais do que esperado. Portanto, o que temos que pesar não é exatamente algo como “ah, mas eu preferiria fulano como capitão” e sim se toda a progressão narrativa caminhou de maneira consideravelmente (não precisa ser totalmente, vejam bem) lógica para chegarmos ao ponto em que chegamos e tenho para mim que a série já estava madura para essa mudança, especialmente em um cenário em que a Discovery continuará nesse futuro de reconstrução da Federação.

3º Lugar:
Su’Kal

3X11

Lá, a trinca principal é brilhantemente metamorfoseada em raças diferentes, artifício que obviamente só foi empregado para permitir que Doug Jones pudesse atuar sem suas costumeiras próteses e maquiagens de Saru, já que seu personagem se torna humano. E é exatamente por isso que a explicação dada pelo roteiro para essas mudanças não importa realmente, já que é muito raro vermos o ator “nu” e toda a oportunidade precisa ser apreciada. E ele não faz feio. Muito ao contrário, apesar de não ter sua voz alterada pelas próteses e de não manter o caminhar igual ao de Saru, mantém os movimentos de cabeça, acompanhado pela visão esguia de seu corpo e um inflexão de voz que muito claramente indica que estamos diante da versão humana do capitão da Discovery, além de permitir que o ator mostre que sabe atuar também sem maquiagem pesada, já que ele lida muito bem com a dor que o Kelpiano sente ao rever, ainda que em um Holodeck, detalhes de sua cultura. Michael, por sua vez, torna-se uma Trill e Culber um Bajorano, alterações que só estão lá para dar substância à de Jones, lógico.

2º Lugar:
There is a Tide…

3X12

Mas, se esquecermos isso por um momento, é fascinante ver como nossas expectativas são estilhaçadas em There is a Tide…, penúltimo episódio da temporada. Não só a Discovery é capturada como o objetivo de tornar possível o encontro entre líderes, como a argumentação de Osyraa carrega uma lógica inafastável: se a Federação não consegue replicar o motor de esporos (uma novidade, pois, até onde me consta, isso não havia sido afirmado antes) e ele é a única alternativa viável para tornar as viagens interestelares possíveis novamente, uma união com a Corrente e seus cientistas podem democratizar o acesso à tecnologia exclusiva da nave vinda de mil anos no passado. Suas demandas e suas concessões são amplas e a troca de ideias entre Osyraa e Vance é frutífera a ponto de o almirante parecer convencido das vantagens de uma aliança.

1º Lugar:
Forget Me Not

3X04

Devo dizer que não esperava uma abordagem tão elegante e tão bem pensada para uma situação como essa. Na verdade, sequer esperava que a saúde mental da tripulação fosse objeto de metade de um episódio da série e que algo assim resultasse em uma narrativa absolutamente fascinante. Não só Saru se consolida como um grande capitão, como todos que se sentaram à mesa, notadamente Staments, Tilly e Detmer – com o alívio cômico de Georgiou, lógico – ganham excelente desenvolvimentos. Aliás, é refrescante notar que os problemas de Detmer parecem ser exclusivamente de fundo psicológico e não algo relacionado com Controle e que a Esfera, aparentemente, assim como Tal e Adira, fundiu-se à nave, inclusive sugerindo um cineminha para todos com o grande Buster Keaton em uma cena primorosa, de um incrível bom gosto e importância para aquele sentimento de comunidade.

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