Home Colunas Lista | Star Trek: Lower Decks – 1ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Lista | Star Trek: Lower Decks – 1ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

A segunda série animada da história da franquia Star Trek, vindo nada menos do que 46 anos depois da primeira e não só com uma proposta cômica, como também canônica? E, ainda por cima, lidando com a os bastidores da Federação, ou seja, com os personagens que normalmente são extras nas séries e filmes “normais” desse universo sempre em expansão? Que ideia fascinante e ao mesmo tempo arriscada que Mike McMahan teve e que, ainda bem, a CBS encampou.

Lower Decks chegou sem muito alarde e, muito rapidamente, mostrou que o showrunner havia planejado algo realmente sólido que ia muito além do “problema da semana” e que não se apoiava nas referências às criações passadas. Na verdade, minto. As referências são sim parte integral da série, mas McMahan soube alcançar o equilíbrio perfeito entre meras piscadelas ao espectador conhecedor da franquia e elementos que efetivamente impulsionavam a história, estabelecendo uma voz própria e uma mitologia própria ao nos introduzir a um divertido quarteto de alferes da USS Cerritos, nave “desimportante” da Frota Estelar, que efetivamente trabalha nos “conveses inferiores” do título, mas que permanecem sendo o foco da narrativa, especialmente Beckett Mariner, experiente e que só não é oficial ou até capitã por se recusar a obedecer regras e Bradward “Brad” Boimler, seu exato oposto. Completando o grupo há o humano Samanthan “Sam” Rutherford, ainda adaptando-se a seu implante cibernético e a Orion D’Vana Tendi, ambos absolutamente maravilhados por tudo ao seu redor.

Por mais céticos que os Trekkers possam ser, Lower Decks é Star Trek puro e a temporada inaugural, que começa bem, mas não tanto, logo se revela realmente estupenda na forma como aborda toda a rica mitologia da franquia, ao mesmo tempo que desenvolve seus personagens, especialmente a rebelde Mariner que, secretamente, é filha de Carol Freeman, capitã da Cerritos. O olhar granularizado e humorístico sobre esse pequeno recorte do cotidiano de uma nave da Frota Estelar gera frutos quase que imediatamente e compete – com boas chances de ganhar – pelo posto de melhor primeira temporada da leva recente de séries do universo Star Trek neste bem-sucedido revival que a CBS vem tentando emplacar.

Como fazemos em todas as temporadas que criticamos por episódio, encerramos nossa cobertura com um ranking dos episódios, que segue abaixo. Qual é seu episódio favorito? E o que menos gostaram? Mandem suas listas e vamos conversar!

10º Lugar: Terminal Provocations

1X06

Mas muito pior do que não fazer sentido – algo que eu poderia relevar muito facilmente -, a progressão da narrativa é sem graça e transforma o curto episódio em algo arrastado a ponto de, em comparação, tornar a fuga de Tendi e Rutherford do psicopata Badgey extremamente interessante e movimentada. Sim, há o tema da tecnologia rebelando-se contra os criadores perpassando todo o episódio, mas isso é apenas a cola temática, pois não há qualquer desenvolvimento decente para ele que justifique até mesmo essa semelhança entre as histórias.

 

9º Lugar: Envoys

1X02

A oportunidade dessa linha narrativa é mais uma vez contrastar as atitudes dos dois cadetes, com Boimler tendo todo seu conhecimento adquirido a partir de livros e manuais e Mariner a partir de experiências muito bem vividas ao longo de sua aparentemente muito movimentada carreira, apesar de sua idade. Novamente, o conflito diverte e coroa a inocência de um e a esperteza de outro, mas sem realmente trazer nada de novo para a mesa. Além disso, a visita ao planeta permite que a equipe criativa coloque em tela diversas raças alienígenas clássicas da franquia, especialmente andorianos e ferengis em um desfile de referências mais bem inseridas aqui do que em Second Contact.

8º Lugar: Second Contact

1X01

Second Contact, episódio inaugural, faz o necessário para apresentar os personagens principais, estabelecer a premissa, situar o espectador em um ambiente familiar, mas ao mesmo tempo pouco explorado e, claro, colocar as engrenagens funcionando para o que parece ser uma série com bom potencial. Sem perder tempo com enrolação, os fãs da franquia são logo brindados com pistas visuais que estabelecem a ação na  U.S.S. Cerritos, especializada em “segundo contato”, ou seja, toda a parte literalmente chata e burocrática que segue o tão propalado e festejado “primeiro contato” com raças alienígenas até então desconhecidas. Nunca realmente pensamos nisso, mas essa ambientação e premissa fazem absoluto sentido e granulariza ainda mais esse já vastíssimo universo criado por Gene Roddenberry.

7º Lugar: Moist Vessel

1X04

Se ele fez o óbvio no episódio anterior, quebrando a estrutura de duplas que os dois primeiros capítulos usaram até não poder mais, aqui o roteiro de Ann Kim chega até mesmo a romper com a premissa, de certa forma esquecendo a visão a partir dos bastidores – ou dos conveses inferiores – e partindo para o que mais próximo a temporada até agora chegou de uma aventura que poderia constar dos anais das outras séries da franquia. Claro, o foco ainda é nos tripulantes “desimportantes” da U.S.S. Cerritos, especialmente Mariner que ganha destaque como se fosse uma oficial de longa data, algo que é literalmente o que acontece quando sua mãe, a capitã Carol Freeman, a promove – fazendo-a participar das intermináveis e chatíssimas reuniões internas de oficiais – para forçá-la a pedir transferência para outra nave ou posto, depois que ela a envergonha ao bocejar durante as longa tecno-bobagens que abrem o capítulo.

6º Lugar: Cupid’s Errant Arrow

1X05

Apesar de as três histórias permanecerem paralelas o tempo todo, sem jamais sequer encostarem umas nas outras, Cupid’s Errant Arrow prova que um bom roteiro é capaz de curar quase tudo, algo que a direção de Kim Arndt ajuda muito pelo quanto ela alcança um equilíbrio cuidadoso entre cada linha narrativa, sabendo quando pular entre histórias e o quanto mostrar de cada uma. Parece trivial, mas quando roteiros arriscam-se dessa maneira, mesmo em episódios curtos como este, a tendência é que haja uma desagregação do conjunto, mas isso, felizmente, não acontece aqui. É como o delicado equilíbrio em castelo de cartas, em que um movimento em falso pode derrubar o todo, mas que cada carta colocada corretamente sustenta mais um andar. E as histórias separadas funcionam exatamente assim, cada uma sustentando a outra e ganhando o espaço que precisa e não dividindo-o de maneira equânime.

 

5º Lugar: Much Ado About Boimler

1X07

E é refrescante notar, ao final, quando a situação realmente aperta, que tudo era fingimento exatamente por Mariner não saber com certeza o que ela é ou quer se tornar, elemento narrativo que, se para frente ganhar mais relevo, pode funcionar como uma boa forma de unificar os diversos capítulos e até temporadas sob a premissa de crescimento profissional dela e de seus colegas. Claro que isso traria problemas para a própria premissa da série, que é lidar com o pessoal “sem nome” que fica ao fundo das grandes missões que vemos nos filmes e séries da franquia, mas, por outro lado, traria uma sensação de unicidade, saindo da fórmula padrão de “casos da semana”. Mas, claro, teremos que aguardar para ver o caminho que Mike McMahan pretende trilhar com sua criação.

 

4º Lugar: Temporal Edict

1X03

E, como se isso não bastasse, os gelrakianos – raça criada para a série – reúnem todas as características assíncronas de muitos episódios clássicos da Série Original. Enquanto eles usam roupas tribais e armas rústicas como lanças com pontas de cristal e cultuam quase que como deuses os cristais que pontilham o planeta, inclusive estabelecendo lutas gladiatoriais em estádios como forma de resolução de conflitos, os alienígenas, estranhamente, têm tecnologia suficiente para terem naves espaciais que eles usam para atacar a Cerritos e… pichar as paredes da nave inimiga enquanto os tripulantes estão estafados em razão do Decreto Temporal. Tudo bem que Mariner tem que “apontar” essa característica para estabelecer a conexão direta com Kirk (“não estamos mais nos anos 2260!”), mas Lower Decks não prima muito pela discrição em suas referências, pelo que é muito divertido vê-la ironizar as muitas bobagens benignas que sempre marcaram a franquia.

 

3º Lugar: No Small Parts

1X10

E, melhor ainda, a pancadaria é digna dos melhores filmes da franquia, algo que também é raro de se ver em Lower Decks, mas que vem em boa hora, inclusive com Rutherford, sofrendo de um hilário problema com o botão de humor em seu implante cibernético, tendo que usar Badgey (que vimos em Terminal Provocations e que aqui é usado muito bem, sem enrolação) para contaminar a nave inimiga com um vírus. O resultado disso tudo é uma surpresa atrás da outra, cada uma menos esperada que a anterior: a morte de heroica de Shaxs; a destruição do implante cibernético de Rutherford, com sua consequente perda de memória; a ponta de ninguém menos do que a USS Titan capitaneada por William Riker (Jonathan Frakes), com sua primeira oficial e companheira Deanna Troy (Marina Sirtis) e, claro, o cliffhanger com Boimler saindo da Cerritos para trabalhar na Titan. Em outras palavras, esse definitivamente não é o tipo de final que se poderia esperar de uma série animada de teor cômico e isso é absolutamente incrível!

2º Lugar: Veritas

1X08

Com isso, o episódio parece querer colocar Star Trek na tribuna, literalmente em julgamento, quase que indagando do espectador o que ele acha de uma série sci-fi que se faz quase sem sci-fi propriamente. E a brincadeira é boa e valida, com os quatro protagonistas tendo suas respectivas oportunidades de lidar com o passado imediato, cada um de sua maneira peculiar e bem característica que constrói uma narrativa de passo rápido, que mantém o frescor constantemente e que usa as referências de maneira integral ao seu desenvolvimento, sem que elas pareçam penduricalhos utilizados apenas para o fã apontar para a tela e citar o nome do episódio em que isso ou aquilo citado por essa ou aquela pessoa aconteceu. Até mesmo a presença de Q (John de Lancie retornando ao seu clássico e espalhafatoso papel), que nos leva imediatamente para Encounter at Farpoint, funciona bem como um quadro dentro do quadro que serve de comentário até para o tom farsesco que tudo acaba tomando.

1º Lugar: Crisis Point

1X09

O que começa com um conflito entre mãe e filha que, lá no fundo, têm o mesmo temperamento, evolui organicamente para um conflito de Mariner consigo mesma e na literalidade, já que, dentro do filme, a Mariner virtual ataca Vindicta para defender a mãe. Essa abordagem conversa perfeitamente bem com a mesma temática envolvendo Mariner de Much Ado About Boimler, em que o roteiro lida com o que exatamente ela quer ser e porque ela acaba se contentando em ficar nos conveses inferiores se ela tem capacidade para muito mais. Vindicta é a versão radical e psicótica da Mariner rebelde, que se recusa a seguir ordens e a obedecer hierarquia, com direito ao extermínio de todo e qualquer tripulante que passe na sua frente, mesmo que indefeso. A coragem do episódio inclusive está justamente aí, em não perdoar ninguém, ainda que a sempre sensível D’Vana Tendi sirva de bússola moral para o que passamos a testemunhar com enorme surpresa e até estupefação.

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