Home Colunas Lista | Star Trek: Lower Decks – 2ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Lista | Star Trek: Lower Decks – 2ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Solidificando a mitologia dos subalternos.

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Temos que tirar o chapéu para Mike McMahan. Ele realmente conseguiu, já na 2ª temporada de Star Trek: Lower Decks, estabelecer uma sólida base para sua série que lida com os “figurantes” da franquia, equilibrando muito bem o fantástico e rico uso de uma enorme coleção de referências de maneira inteligente e certeira com a construção de uma mitologia expansiva própria, desenvolvendo Mariner, Boimler, Tendi e Rutherford – juntos e separadamente – como personagens completos e tridimensionais em aventuras dos mais variados níveis de criatividade.

Sempre com humor afiado e por vezes até arriscando-se a algo mais histérico, o showrunner fez de Lower Decks, quase que literalmente em um estalo, uma das melhores séries de toda a franquia que, em 2021, fez aniversário de 55 anos. Ao mesmo tempo, a série tornou-se uma forma de se compreender ainda mais a pluralidade de visões que Star Trek sempre nutriu e sempre apresentou, com os textos dos roteiros da animação funcionando por vezes como uma sessão de terapia Trekker. Fica agora a torcida para essa qualidade toda continuar no vindouro terceiro ano!

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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!

10º Lugar:
Mugato, Gumato

2X04

Mugato, Gumato, porém, continua sendo divertido e cheio de referências espertas, a começar, claro, pelo retorno do símio chifrudo branco da raça conhecida por mugato – mas que tem outras pronúncias! – que o Capitão Kirk enfrentou em A Private Little War, episódio 2X19 da Série Original. Aqui, eles são impiedosamente caçados pelos Ferengi em um planeta-selva para a extração de seus chifres, aparentemente muito valiosos nesse universo como infelizmente acontece muito aqui no nosso com as mais diferentes espécies. É com essa situação que uma expedição composta por Shaxs, Mariner, Boimler, Rutherford e uns “camisas vermelhas” deparam-se quando vão ao tal planeta investigar aparições dos animais raros, com toda a truculência dos dois primeiros demonstrando-se vazia perante a inteligência com que os dois últimos resolvem o problema: eles provam aos Ferengi, com gráficos e números, o que fazem com uma apresentação de PowerPoint – ou o equivalente do futuro – que há mais a se lucrar preservando do que matando os mugatos.

9º Lugar:
The Spy Humongous

2X06

O genial desse grupo é o quanto eles acham que ser capitão é, basicamente, fazer discursos bonitos e encorajadores, com voz empostada e, de preferência, com postura “épica”, algo em Boimler embarca no começo, somente para ele próprio perceber o quão vazios são seus colegas que, na hora da ação, são só palavras e nenhuma atitude. O comentário subliminar é hilário e se aplica tanto à percepção dos alferes sobre os oficiais, deixando evidente a distância que existe entre eles, como também para qualquer outra série ou filme em que haja uma estrutura hierárquica dessas. Os Camisas Vermelhas da Cerritos podem não ser meros extras que só existem para morrer, mas toda sua construção no episódio lida muito bem com o apelido e com a própria ambição dos lower deckers que, de fato, um dia alguns devem chegar aos postos mais altos.

8º Lugar:
Where Pleasant Fountains Lie

2X07

No entanto, talvez incongruentemente, este episódio acendeu meu alerta mental, especialmente considerando que o showrunner tem em seu currículo obras como Rick and Morty e Solar Opposites. Na verdade, esse alarme vem ensaiando de apitar desde An Embarassment of Dooplers, e novamente com The Spy Humongous, com sua gênese sendo meu receio – ainda discreto e distante, sem dúvida – de que o tipo de humor de McMahan em suas outras séries animadas “sangre” para Lower Decks, fazendo com que a série perca sua essência trekker e se torne um Rick and Morty que por acaso se passa no universo criado por Gene Roddenberry. Apesar de ter sido hilário ver Billups quase ser enganado por sua mãe rainha e participar de um ménage a trois como sua primeira e altamente hesitante experiência sexual, esse é o tipo de abordagem que esperamos de série da categoria “escracho total” que é como classifico as outras duas citadas e um sem-número de outras que existem por aí como uma amálgama de mesmice que só parece ser diferentona.

7º Lugar:
First First Contact

2X10

No entanto, devo dizer de antemão que esse enquadramento não foi lá tão bem sucedido quanto Mike McMahan achava que seria. Sim, ele cria o gancho necessário para nos deixar curiosos pelo vindouro terceiro ano da série, mas ele parece pouco orgânico quando pensamos no episódio como um todo monolítico. A própria promoção da capitã é algo razoavelmente aleatório, tirado da cartola do showrunner sem preparação alguma, ainda que sua natureza “secreta” fosse um impeditivo para que algo fosse anunciado antes, mas não para que houve uma mínima construção que evitasse a surpresa completa para nós, espectadores. E o final, mesmo fazendo referência ao tema recorrente da inimizade com os Pakleds que vimos pela primeira vez em The Spy Humongous e, depois, mais fortemente, com um ingrediente Klingon, no sensacional wej Duj, acabou parecido demais com a saída de Boimler ao final da temporada inaugural.

6º Lugar:
An Embarassment of Dooplers

2X05

A divisão de tempo é o trunfo da diretora aqui, já que ela não só dedica o tempo exato que cada linha narrativa precisa, como sabe abordar os ritmos internos de cada uma sem suar e sem causa solavancos na história. Se a “dooplicação” rende uma história quase surreal, mas que se desdobra naturalmente, inclusive com amplo espaço, por um lado, para Rutherford lidar com seu trauma com a ajuda da sempre atenciosa e preocupada Tendi e, por outro, a Capitã Freeman entrar em parafuso, a ação na Starbase 25 com Mariner e Boimler é frenética, com direito a uma excelente perseguição automobilística que leva o espectador a um passeio à la National Lampoon por tudo que a base tem a oferecer, inclusive um gigantesco aviário. Em outras palavras, é uma variedade de foco e progressão que acaba entregando material suficiente para agradar todo mundo.

5º Lugar:
Strange Energies

2X01

O grande gatilho narrativo do episódio que, como disse, ecoa o capítulo inaugural da série, é algo hilariamente prosaico, com Mariner resolvendo literalmente lavar os prédios da civilização que eles estão visitando em segundo contato para mostrar a eles que vale a pena fazer isso (WTF???) e, inadvertidamente, ativando “um negócio sci-fi”, como ela mesmo diz, que atinge Ransom com “energias estranhas” e o transforma em uma figura com poderes divinos que ameaça tanto o planeta como a USS Cerritos. E não poderia ser mais divertido um episódio de começo de segunda temporada que não só referencia o primeiro da mesma série, como, também, o chamado “segundo piloto” (terceiro episódio da primeira temporada na contagem que podemos considerar como canônica) da Série ClássicaOnde Nenhum Homem Jamais Esteve, em que o mesmo acontece com Gary Mitchell, bem presente, aliás, levando Mariner à exata mesma solução.

4º Lugar:
We’ll Always Have Tom Paris

2X03

Depois de um excelente recomeço com Strange Energies e o atingimento do ápice – que, espero, seja apenas um deles – em seguida com Kayshon, His Eyes Open, We’ll Always Have Tom Paris até dá a impressão de ser mais “normal” por retornar a série à sua estrutura mais comum, com todos os seus protagonistas em um local só, mas a verdade é que, mais uma vez, o showrunner acertou em cheio no que já posso chamar de “série das séries” de Star Trek. Confesso que fico até com receio do que está por vir, pois não enxergo McMahan escapando de sua própria qualidade absurda em tão pouco tempo, mas certamente estarei por perto para conferir!

3º Lugar:
I, Excretus

2X08

I, Excretus, já no título uma referência direta ao nome Borg de Jean-Luc Picard, Locutus, há um retorno à estrutura carregada nas referências e, mais uma vez, de maneira inteligente, bem costurada em um roteiro hilário e enlouquecido que coloca oficiais e alferes em simulações virtuais que invertem seus papeis na hierarquia da Frota Estelar sob a supervisão da pandroniana Shari Yn Yem (Lennon Parham), que tem como objetivo aberto graduar a tripulação da Cerritos e secreto reprovar todo mundo de forma a mostrar como o sistema dela é imprescindível. Para começo de conversa, jamais esperaria ver um pandroniano novamente, raça alienígena capaz de dividir seus corpos em três seções e que apareceu somente em Star Trek: A Série Animada, da década de 70 e Parham está excelente dando voz à personagem que mais parece uma apresentadora de show de calouros, mas com objetivos sinistros.

2º Lugar:
wej Duj

2X09

Sabe aquela ideia brilhante que é tão óbvia que dá um pontinha de “raiva” por não a termos tido antes? Essa foi minha reação em um crescendo espelhado por meus sorrisos cada vez maiores ao assistir wej Duj, penúltimo episódio da 2ª temporada de Star Trek: Lower Decks. Afinal, se Mike McMahan foi capaz de criar uma série só sobre os personagens de fundo da franquia, era evidente, óbvio, natural, comezinho e até trivial que ele alguma hora mostrasse os subalternos das naves de outros planetas, mas, mais uma vez, o showrunner surpreende com um capítulo que não só faz isso uma vez, mas sim várias e sem perder o frescor, e, ainda por cima, costurando uma narrativa macro que consegue encapsular tematicamente toda a temporada, reunindo detalhes que vimos aqui e ali para criar aquela sensação de “uma história só”, mesmo que, lá no fundo, ele não precisasse fazer isso.

1º Lugar:
Kayshon, His Eyes Open

2X02

É impressionante como Mike McMahan consegue empacotar tanta coisa em um episódio de meros 25 minutos de Lower Decks. Chega ao ponto de ser difícil acompanhar tudo o que ele quer passar com suas espertíssimas histórias que parecem ser a perfeita convergência de tudo o que é Star Trek. E Kayshon, His Eyes Open, título que quase que completamente desvia nossa atenção para um novo personagem, o tamariano Kayshon, que fala em metáforas intraduzíveis, mas que não é nem de longe o foco, simplesmente diz uma e uma coisa apenas a nós, espectadores da franquia: tudo que existe nesse vasto universo é perfeitamente conciliável e é estúpido – E S T Ú P I D O – bater no peito e descartar essa ou aquela série, esse ou aquele filme porque, na cabeça de certos alguéns, não consegue capturar o “espírito” do que Gene Roddenberry criou.

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