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Lista | The Boys – 3ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Maturidade e covardia.

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Demorei mais do que o usual para escrever meus comentários finais e preparar o ranking de episódios da terceira temporada de The Boys, pois eu precisava refletir sobre The Instant White-Hot Wild, o último episódio, e o quanto ele afetaria, em minha percepção, os sete capítulos anteriores. Afinal, creio ser possível concluir que até mesmo os mais resolutos defensores do episódio o consideram o pior da temporada. No meu caso caso, eu o achei o pior DE LONGE, tanto que, como mencionei na lista, ele é o único cuja colocação na rabeira eu tinha certeza absoluta, com os demais sendo quase que completamente fungíveis em suas posições tamanha a qualidade homogeneamente alta deles.

Sobre a temporada como um todo – ou, mais precisamente, os sete primeiros episódios – serei breve: ela foi marcada por uma impressionante maturidade temática que transformou os artifícios de ultraviolência e sequências sexualmente carregadas em detalhes, exatamente como deveriam ser. Com base nisso, eu estava sinceramente mais do que preparado para novamente dar a nota máxima para a temporada, como dei para a primeira. Mas, então, eis que veio o oitavo episódio para me fazer repensar tudo.

A questão é que, para mim, o episódio de encerramento, apesar de excelentes momentos, como tudo o que envolve as três gerações de supostos heróis finalmente se encontrando na torre da Vought, acovardou-se na abordagem de seus personagens, roubando-nos de um encerramento que seguisse a linha do que veio antes e, em muitos aspectos, fazendo toda a temporada retroceder ao seu início e dando a impressão de que o vindouro quarto ano será a mesma coisa, só que levemente diferente e assim por diante em uma espécie de loop infinito. Não gosto de conjecturar sobre o futuro de uma série – se Eric Kripke sucumbiu ou não ao sucesso -, mas é a impressão que me deu, o receio que fiquei. E, então, a pergunta é: pode um episódio desses “apagar” efetivamente o que veio antes?

Foi sobre essa pergunta que me debati e tenho para mim que não. Claro, um episódio ruim – ou pelo menos bem abaixo do que veio antes – simplesmente precisa afetar a abordagem geral do todo, pois não é possível segregá-lo com honestidade. No entanto, reduzir uma temporada ao seu final – e final de temporada ainda por cima, não da série como um todo – parece-me um exercício preguiçoso. Entenderei perfeitamente quem considerar que The Instant White-Hot Wild afetou a temporada mais do que eu achei que afetou (em termos numéricos e práticos, o episódio fez a temporada cair de cinco para 4 HALs), mas discordarei veementemente de quem achar que a natureza “resetadora” do final tira completamente os méritos do que veio antes.

Primeiro, um filme e uma série não é apenas sua “história”. Além de outros diversos aspectos técnicos, não podemos esquecer do elenco e sua atuação. Nesta terceira temporada tivemos – e não tenho dúvida alguma disso – algumas das melhores atuações da série como um todo, inegavelmente valendo destaque absoluto para Antony Starr e Karl Urban, nesta ordem, mas sem também esquecer de Jack Quaid, Karen Fukuhara, Laz Alonso, Tomer Capon, Colby Minifie e, mesmo com não mais do que uma participação especial, Giancarlo Esposito (e não, Jensen Ackles não entra nessa lista). Depois, há desenvolvimentos que continuam plenamente válidos e que não são “eliminados” pelo final. Afinal de contas, a “conversão” de Ryan por seu pai só foi possível pela rejeição do garoto por Billy Butcher, algo que, eu sei, Billy só fez pensando no bem do garoto, mas com esse tiro saindo pela culatra. O uso do V24, querendo ou não, mudou a dinâmica da narrativa e, mesmo que usar novamente a substância seja problemático, isso não está descartado em uma emergência. Os Sete basicamente acabou, temos que lembrar, só sobrando Homelander, Profundo e Trem Bala, o que certamente levará à recomposição do grupo por novos personagens e, como dizem por aí, alguém vestindo o uniforme de Black Noir.

E a abordagem temática da temporada como um todo foi exemplar. Temos masculinidade tóxica “graças” ao Soldier Boy, temos novamente a influência da mídia e das redes sociais nas pessoas, temos a questão da corrupção pelo poder ganhando destaque central no palco narrativo e assim por diante. Portanto, há muita coisa a ser ainda apreciado em The Boys e não tinha como o último episódio, por pior que tenha sido, apagar ou anular o que veio antes. Ele certamente relativiza tudo e, no meu caso caso, foi uma grande decepção, mas eu ainda vejo como uma crises de soluços que, espero, não continuará na quarta temporada que, se não for a última, espero fortemente que seja a penúltima.

XXXXXXXXXXX

Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!

8º Lugar:
The Instant White-Hot Wild
(ou “O Único Episódio Cuja Colocação Tenho Certeza”)

3X08

Já que comecei de forma negativa, então deixe-me abordar de uma vez o que o episódio tem de bastante problemático. Basicamente, o que temos aqui é uma sucessão de pequenas redenções e acontecimentos em relação a alguns personagens-chave que simplificam demais seus respectivos arcos narrativos, fazendo com que o maior avanço macro da temporada, se espremermos com vontade, claro, seja a inserção da sinistra “super” Victoria Neuman na corrida presidencial dos Estados Unidos graças a seu acordo com Homelander e o assassinato, por Profundo a mando de seu chefe, do potencial candidato a vice-presidente do país.

7º Lugar:
Payback

3X01

Essa qualidade e maturidade já são perceptíveis, em retrospecto, logo no primeiro episódio. Payback é o famoso começo de temporada que tem como principal objetivo rearrumar o tabuleiro, apresentar o novo status quo e semear as linhas narrativas que serão abordadas no novo ano. Normalmente, esse tipo de capítulo costuma ser mais ingrato, pois precisa relembrar os eventos passados para justificar os acontecimentos presentes, o que às vezes leva à didatismos, correndo o risco de trabalhar muitos personagens ao mesmo tempo, tornando-se fragmentado. Mas nada disso ocorre aqui, pois o roteiro de Craig Rosenberg sabe balancear ação extrema e chocante com repaginação de personagens e situações, sem esquecer de introduzir novos conceitos, com a direção de Phil Sgriccia mostrando-se valiosa no tempo dedicado a cada núcleo, o que mantém a fluidez constantemente e suaviza as transições e os inevitáveis textos expositivos.

6º Lugar:
Barbary Coast

3X03

Ao contrário, The Boys, pelo menos com o que podemos ver nesses três primeiros episódios de sua terceira temporada, graduou-se de uma excelente paródia de super-heróis, para uma excelente série que vai além de rótulos. Claro, continua sendo hilária, continua sendo sobre super-heróis doentios, continua sendo sobre um grupo de pessoas sem poderes que querem manter os supes em xeque. Isso não mudou, nem mudará, mas, agora, The Boys parece estar disposta a fazer tudo isso para incomodar, para tornar cada cena uma denúncia sobre a corrupção do poder, sobre o abuso e manipulação de poder e sobre nossa constante e inequívoca incapacidade em lutar contra isso sem nós próprios nos deixarmos corromper pelo poder, em um ciclo vicioso e destrutivo que não nos permite vislumbrar um final feliz.

5º Lugar:
The Only Man in the Sky

3X02

Aliás, nesse tocante, vale salientar como Antony Starr, com suas bochechas de Don Vito Corleone, está soberbo no papel do super-herói mais poderoso e mais perigoso do mundo. Homelander é a personificação da fúria incontida que, porém, não tem oportunidade para dar vazão ao que sente até seu momento catártico de honestidade absoluta que, ironicamente,  eleva sua popularidade e o liberta para fazer o que bem quiser, inclusive peitar Starlight com a ameaça que todos nós esperávamos e que ele coloca abertamente no jogo: mudar o panorama geopolítico do mundo com seus poderes.

4º Lugar:
The Last Time to Look on thi World of Lies

3X05

É notável como, ao longo de seus 61 minutos, com direito a um divertido número musical no hospital protagonizado por Kimiko e Francês, tudo o que transcorre é um drama sério, que poderia acontecer em qualquer série ou filme, sem que o roteiro recorra às marcas registradas de The Boys. As únicas vezes em que vemos poderes sendo usados de maneira violenta ocorrem essencialmente sem exageros performáticos, duas delas com Soldier Boy e sua rajada peitoral descontrolada e a outra com Blue Hawk e sua super-força, e sempre com objetivos claros dentro da narrativa, evitando toda e qualquer gratuidade. Com isso, até consigo antever alguns reclamando da “falta de ação” ou algo nessa linha, mas, correndo o risco de parecer um daqueles críticos de nariz empinado e de cachecol enrolado no pescoço – e que eu sei que às vezes sou – ação cansa, especialmente a ação pela ação. O difícil é justamente não depender dela e o quinto episódio da temporada, graças ao roteiro bem construído de Ellie Monahan com a direção cuidadosa e sem firulas de Nelson Cragg, consegue por vezes até mesmo nos fazer esquecer que estamos vendo uma série que em tese poderia ser classificada como sendo de super-heróis.

3º Lugar:
Glorious Five Year Plan

3X04

Como mencionei na crítica da trinca de episódios que abriu a terceira temporadaThe Boys amadureceu e, agora, parece estar em outro patamar narrativo que vai muito além da violência extrema, sexo pervertido e dos absurdos inomináveis em favor da paródia e da sátira que tanto ganham manchetes por aí. Retirem os elementos característicos da série e ela mesmo assim permanece de pé como um thriller de ação sobre a corrupção do poder e todas as piores consequências que normalmente decorrem daí. Em outras palavras, a camada que nos apresenta, dentre outros, ao sensacional massacre de um magnata russo e de seus guarda-costas com vibradores temáticos d’Os Sete ou ao hamster superpoderoso que atravessa a cabeça de um soldado – e que já merece um curta-metragem só dele, digo logo – é como a proverbial cereja em um bolo já muito saboroso, mas não uma cereja que pode ser descartada e sim uma que é também parte da maneira como a história é contada.

2º Lugar:
Here Comes a Candle to Light You to Bed

3X07

E isso, claro, me leva finalmente à Black Noir. Nunca em um milhão de anos dedicados exclusivamente a imaginar sequências absurdas para o personagem, eu chegaria ao que foi feito aqui. Não sei se os méritos ficam com Grellong, Kripke ou mais alguém da produção – ou ao colegiado de roteiristas e “pensadores” por trás das câmeras, o que é mais provável em uma daquelas reuniões que eu gostaria muito de ser uma mosca na parede para poder assistir -, mas colocar o silencioso e sempre mascarado personagem retornando a seu “lugar seguro” de infância, a abandonada lanchonete Buster Beaver’s Pizza, como refúgio para não ser achado por seu ex-líder Soldier Boy, e fazê-lo interagir com o próprio Buster Beaver (Eric Bauza) e sua turma em versões animadas, com direito à voz até de Giancarlo Esposito, em um momento Uma Cilada para Roger Rabbit foi absoluta e incrivelmente genial. E, se o mero conceito já seria suficiente para eu classificar como uma jogada de mestre da equipe criativa, não sei como adjetivar a efetiva execução das cenas em que vemos, dentre outros, a principal razão pela qual Noir não gosta de Solider Boy (afinal, fazê-lo recusar o papel de Axel Foley em Um Tira da Pesada é imperdoável, especialmente porque a lógica por trás disso é não abafar o destaque midiático do Capitão América fajuto) e, claro, o flashback na Nicarágua de Barbary Coast sob outra luz, desta vez descortinando os bastidores do sequestro de Soldier Boy pelos soviéticos. Tudo funciona aqui, com os personagens muito falantes substituindo o silêncio absoluto de Black Noir e com a abordagem de extrema violência cartunesca que esse passado simplesmente exigia. Desde já eu digo que veria facilmente um spin-off só do Black Noir com seus amigos imaginários!

1º Lugar:
Herogasm

3X06

Ora, ora, quem diria! Sam Raimi, em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, brilhantemente jogou o hype dos espectadores contra eles mesmos ao transformar os Illuminatis em uma espécie de sátira à exasperação dos fãs por ver aquilo que eles acham que querem ver e reclamam quando não veem, e, no mesmo ano, Eric Kripke faz exatamente o mesmo em The Boys com Herogasm, de longe o mais esperado episódio de toda a série por prometer mundos e fundos de sexo pervertido entre super-heróis e entregar somente um “surubinha” consideravelmente discreta que é apenas o pano de fundo para abordagens muito mais relevantes. Afinal, a melhor característica da série baseada nos quadrinhos de Garth Ennis é fazer comentários ácidos sobre o mundo ao nosso redor e reduzir o tão esperado e completamente doentio arco homônimo das HQs em uma festinha que apenas serve de palco para um massacre seguido de uma pancadaria, foi uma jogada brilhante na categoria de rasteiras bem dadas ao fandom cada vez mais mimado que vem se criando por aí.

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