Avaliação da temporada:
(não é uma média)
Assim como a primeira temporada, The Last of Us tem um segundo ano baseado em clichês. A abordagem do segundo jogo, que é a inspiração da temporada, é, sim, diferente de várias formas da história inicial de Joel e Ellie. Saísse de cena uma trama bonita sobre a construção de um laço familiar entre os protagonistas, com um desfecho moralmente ambíguo que encapsula o amor irracional de um pai por sua filha, para termos agora uma narrativa de vingança e ciclo de violência que já vimos diversas vezes. Se a embalagem não tem grandes novidades, é o desenvolvimento da franquia que a tornou tão memorável, com um drama íntimo e profundo, personagens envolventes e identificáveis em uma jornada com grande escopo cheia de tensão, sangue e melancolia que captura a audiência em cada degrau que Ellie toma para completar sua vingança e se perder em meio à ela.
A adaptação é surpreendentemente fiel nos momentos chave do segundo jogo, apesar de condensar boas porções da narrativa, principalmente as partes da exploração de Seattle. Uma mudança perceptível está no tom, de como a série é menos agressiva dramaticamente falando, procurando uma abordagem que se parece mais com a sensibilidade da primeira história de Joel e Ellie. É talvez nesse ponto que muitos pessoas não gostaram da produção, que tem sim doses maiores de romance, de ternura e de emoção do que no jogo, mas penso que é uma adaptação apropriada considerando o salto temporal da morte de Joel e o foco maior no relacionamento entre a protagonista e Dina. Gosto do drama entre as duas e gosto da química delas ao longo da temporada, especialmente nos momentos íntimos da direção.
Também penso que o começo da temporada é especial em termos de tensão e desenvolvimento desse universo. Através do Vale é um baita capítulo de ação com o ataque à Jackson; Dia Um é uma aula de design de produção e de emulação de gameplay para algumas das melhores set-pieces da série, além de dar corpo à guerra entre a WLF e os Serafitas; e outros episódios da metade inicial da temporada lidam bem com o uso de infectados e os trechos de ação com terror. Tenho ressalvas com o desenvolvimento frágil do protagonismo de Ellie (problema do roteiro, não da atuação de Bella) ou então com a subutilização de Tommy, mas de maneira geral é uma trajetória que começa muitíssimo bem. É uma pena, porém, que a reta final da temporada, principalmente o último e decepcionante Convergência, atropele grandes eventos da história e, no que parece um problema de orçamento, deixa de lado a destreza com a construção de grandes cenas. Também noto que em termos estruturais, a adaptação poderia ter mudado a linearidade e a intercalação entre determinados núcleos de personagens (a ausência de Abby faz mal à narrativa). Mesmo com esses problemas, alguns mais graves do que outros, o saldo final é bem positivo e o desfecho, por mais atabalhoado que seja, deixa bem estabelecido o arco para o terceiro ano.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
7º Lugar: Convergência
2X07
No entanto, a qualidade singular de determinadas cenas não elevam Convergência para o clímax que o segundo ano de The Last of Us merecia. A abordagem fragmentada desse capítulo atrapalha demais a percepção geral de todos esses núcleos, tanto em termos de desenvolvimento narrativo, quanto da direção dramática, que também soa corrida, sem dar tempo para a audiência repousar em algumas despedidas (a morte de Owen e Mel não ser um final de episódio em fade-out é algo completamente criminal). Fica um sabor de subutilização de cenários, de segmentos, de set-pieces e de personagens (alguém aí lembra do Isaac?), bem como de uma produção mal pensada em sua condensação em sete episódios que roubam da audiência o desenvolvimento completo dos diversos trechos que acompanhamos. Estava gostando tanto da temporada e queria muito que tivéssemos dez episódios (até um a mais faria bem à narrativa), mas é o que temos para hoje. Mesmo decepcionando, Convergência mantém o tom desse universo, tem alguns momentos dramáticos de destaque e deixa estabelecido o início do arco de Abby para a próxima temporada.
6º Lugar: O Caminho
2X03
Vale pontuar que essas ressalvas são questões mais pontuais e facilmente podem ser resolvidas nos próximos episódios, quando tivermos uma dimensão melhor do papel de Tommy na adaptação e de como lidarão com o arco principal de Ellie. Se o que vemos sendo construído no núcleo de Jackson é um indicativo, podemos ter uma derrocada digna do material de origem no destino selado da protagonista, melhor descrito na frase de Gail: “Algumas pessoas não podem ser salvas”. Um episódio quieto, O Caminho conquista por seu drama íntimo e cadenciado que filtra os temas sobre vulnerabilidade, companheirismo e, claro, egoísmo da série, mas também prenuncia outro caos coletivo pelas mãos da natureza humana que muitas das vezes deixa a crueldade e o rancor vencer, principalmente quando ideias de ódio ganham fardas e símbolos. A jornada de vingança da Ellie está só começando, então para os mais ansiosos, vamos lembrar que quando a tempestade chegar, são episódios importantes como esse aqui que dão base para o clímax.
5º Lugar: Dias Futuros
2X01
Dias Futuros é um episódio de começo de temporada bem padrão, cheio de preparações e contextos, mas também sólido em sua reintrodução de Joel e Ellie, agora em posições e momentos extremamente diversos. O drama continua funcionando, mesmo que não seja tão brilhante, com destaque para o trabalho paciente e cuidadoso em revelar como os dois mudaram sem descaracterizá-los, bem como para as ótimas introduções das figuras novas que orbitarão a saga da dupla. Tudo que é estabelecido aqui promete bastante, passando pelos problemas na comunidade, a apresentação de novas formas dos monstros e as consequências dos atos de Joel, seja com os antagonistas à espreita, seja com a desconstrução do laço dele com Ellie.
4º Lugar: Sinta o Amor Dela
2X05
Apesar de alguns probleminhas a serem pontuados, mais de momentos específicos do que necessariamente no quadro geral do episódio, Sinta o Amor Dela é outro ótimo episódio dessa temporada, retratando apenas o segundo dia em Seattle – curioso como a narrativa tem um tom paciente, mas também condensa muitos elementos, às vezes até correndo em alguns blocos, como falei no início da crítica, para chegarmos rapidamente na cena final de Ellie. Com o tom vermelho encapsulando a sede de vingança da protagonista (um recurso óbvio, mas tonalmente eficiente), o momento violento e de tortura representa uma porta inevitável para a jornada sombria de Ellie, além de ser um degrau interessante para a atuação de Bella Ramsey que muitos parecem se esquecer: a atriz sabe interpretar personagens cruéis com muita qualidade. Antes de vermos mais dessa Ellie, agora com Jesse, Dina e Tommy (finalmente!) no entorno de tudo isso (e não esqueçamos da guerra das facções, que fica mais de rodapé aqui), o desfecho deixa o cheirinho de que semana que vem temos um episódio inteiro de flashback com a volta de Joel!
3º Lugar: O Preço
2X06
Penso que a cena em si não merece elogios o suficiente. O diálogo é afiado, o contexto é sombrio, o arco até a sequência é bem construído e a dramaturgia é do mais alto escalão, com Pascal e Ramsey sugando um do outro o maior nível de emoção possível – sério, quem ver isso aqui e disser que Ramsey não sabe atuar, tá vendo alguma coisa errada. Como o título do episódio não deixa enganar, O Preço é justamente sobre o custo das ações, principalmente de Joel, mas, agora, de Ellie também, com uma abordagem inteligente que descarta a ação para dar palco ao drama. O quanto essa jornada irá custar para Ellie, teremos que aguardar. No mais, tenho muitos receios de que o capítulo final dessa temporada vai ser corrido ou insatisfatório dado o desenho da história até aqui, mas esse episódio em si é uma ode às melhores qualidades desse material, é uma bela despedida para Joel (e para o Pascal) e dá muita substância para tudo que veio antes e tudo que vai acontecer depois.
2º Lugar: Dia Um
2X04
No fim, Dia Um é uma aventura de tirar o fôlego, misturando a linguagem televisiva com a jogabilidade para entregar diversas set-pieces tensas e intensas, com cuidado não apenas da direção, mas de todos os departamentos técnicos (especialmente os efeitos práticos) para elevar o escopo e a escala da produção. E não esqueçamos que esse é o primeiro dia em Seattle, que promete muito mais! Narrativamente falando, o roteiro atiça a curiosidade até de quem conhece os jogos com uma exploração e expansão de mitologia que chama muito a atenção, com a presença de Wright trazendo um certo carisma maligno que encapsula bem a realidade desse universo. E mesmo com tanta ação e horror, o capítulo filtra momentos de intimidade e de desenvolvimento de personagens que são bonitos de ver. Me preocupo um pouco com a ausência de Abby e de Tommy, mas estou gostando bastante do direcionamento criativo da história. Que venham os próximos dias…
1º Lugar: Através do Vale
2X02
Através do Vale é um episódio que faz quase o impossível: adapta espetacularmente um momento dilacerante da jornada de Joel e Ellie, enquanto ainda lida com o núcleo mais grandioso em termos de escala da série até aqui. Haja coragem para fazer os dois no mesmo capítulo. Agora, fica o questionamento se Bella Ramsey vai conseguir carregar a produção com a saída do carisma e da afabilidade de Pedro Pascal, mesmo que ele ainda apareça aqui e ali no restante da temporada. Mas isso é uma pergunta e um problema para a próxima semana, porque nessa, fomos presenteados, ou bombardeados, dependendo do ponto de vista, com um capítulo excelente. A vingança passou o bastão, vamos ver o que Ellie faz com ele.