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Lista | Top 10 – As Melhores Estreias de Personagens da Sergio Bonelli Editore

Dez grandes histórias de estreia.

por Luiz Santiago
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Meu primeiro contato com a Sergio Bonelli Editore aconteceu quando eu tinha por volta de 8 anos, através das revistas de Tex que meu avô tinha em casa. Eu não lia constantemente o personagem, mas sempre que meus novos gibis do Homem-Aranha, da Turma da Mônica ou da Disney acabavam (esses três títulos eram praticamente tudo o que eu lia de quadrinhos na infância), acabava pegando os “livros de adulto” do meu avô (ou seja, os quadrinhos de Tex) para ler. Entre esses anos iniciais de contato, e os meus 20 e tantos anos, nunca peguei Tex ou qualquer outro personagem da Bonelli para ler de forma regular. Isso mudou definitivamente em 2014, quando a Mythos lançou uma coleção chamada Tex Edição Gigante em Cores. Para mim, foi tanto um retorno a esse icônico personagem que eu conheci rapidamente na minha infância, como um momento de descoberta para diversos outros títulos, séries e personagens da editora.

Hoje, 9 anos depois desse reencontro com a Bonelli (2023), e depois de ter lido as primeiras histórias dos principais personagens dessa casa italiana, trago a presente lista, que ranqueia as 10 melhores estreias de personagens bonellianos. O foco aqui não está nos títulos ou nas minisséries, mas nos personagens em suas aventuras de estreia. Confesso que não houve praticamente nenhuma dificuldade em montar a lista. Quando muito, tive pequenas dúvidas na hora de classificar alguns lugares, mas isso é o de menos. A composição da lista, como um todo, foi bem tranquila e não exigiu nenhuma escolha hercúlea ou sacrifício de um título que eu “amava muito, mas não consegui inserir aqui“.

Nos comentários abaixo, diga quais são as melhores estreias de personagens da Bonelli na SUA opinião e fale um pouco da sua relação com a editora, do primeiro contato, ao momento presente. Bem, vamos agora à MINHA lista.

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10º. Zagor

Aventura: A Floresta das Emboscadas
Ano: 1961
Roteiro: Guido Nolitta
Arte: Gallieno Ferri

Encontramos nesta primeira história de Zagor um espaço muito rico e cheio de possibilidades para ser explorado. Não é nenhuma surpresa que os leitores dos anos 60 tenham se atraído de maneira tão rápida pelo título e que ele tenha se tornado popular não apenas na Itália mas em alguns outros países europeus — aqui no Brasil, apesar de ter um público muito fiel, normalmente também ligado às aventuras de Tex, Zagor não é exatamente popular, no sentido mais exato dessa palavra. A riqueza de possibilidade e a maneira de ação heroica trazidas por este primeiro enredo do personagem são uma gorda e natural isca para o leitor voltar ao título. O melhor tipo isca, não é?

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9º. Dylan Dog

Aventura: O Despertar dos Mortos
Ano: 1986
Roteiro: Tiziano Sclavi
Arte: Angelo Stano

Entre um ponto e outro, nossa percepção é a de que estamos em um ciclone de informações, ao mesmo tempo que ganhamos material para construir a personalidade de Dylan Dog, seu secretário e, ao menos como ideia, de seu Universo particular. Algumas brincadeiras referenciais aparecem também nesse aspecto, como o fato de DD tocar clarinete quando precisa pensar meticulosamente sobre alguma coisa. Há aí uma clara brincadeira com o violino de Sherlock Holmes, muito embora as semelhanças do processo investigativo entre os dois homens terminem por aí. Dylan é sério em seu trabalho, mas não tem o nível de minúcia imediata para tudo ao seu redor, como Sherlock. Ele é um excelente farejador de pistas e parece sempre absurdamente informado, mas não tem grandes explosões egoicas ao revelar detalhes daquilo que observa.

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8º. Cassidy

Aventura: O Último Blues
Ano: 2010
Roteiro: Pasquale Ruju
Arte: Maurizio Di Vincenzo

A presente crítica olha para os 6 primeiros volumes da série, publicados no Brasil em formato de Omnibus, pela Editora 85, em agosto de 2022. Todos os roteiros são de autoria de Ruju, mas cada edição conta com um artista diferente. As sementes da minissérie são plantadas em O Último Blues (L’ultimo Blues), ilustrada por Maurizio Di Vincenzo. Nela, presenciamos uma cena marcante, na noite de 16 de agosto de 1977 (noite da morte de Elvis, que é nominalmente citada pelo Blind Bluesman, a representação da Morte nesse Universo): um Dodge Aspen preto percorre a fronteira entre o Arizona e a Califórnia. Cassidy, o motorista, está sangrando, baleado por parceiros de um golpe que deu errado. Ao encontrar e entregar a gaita que um velho negro e cego procurava, Cassidy é informado que estava recebendo um presente. Mais 18 meses de vida. E nesse tempo, ele deveria “colocar as contas em dia“.

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7º. Lilith

Aventura: O Sinal do Triacanto
Ano: 2008
Roteiro: Luca Enoch
Arte: Luca Enoch

A pesquisa histórica de Luca Enoch é muito precisa e ele trabalha com bastante cuidado o evento principal em jogo, alertando para o fato de que Lilith não pode alterar as coisas que vê, não pode se envolver em nenhum tipo de luta… mas é claro que ela não segue esse mandamento à risca. E é isso que torna a personagem ainda mais interessante. Ela viaja no tempo, tem uma missão sombria e ao mesmo tempo salvadora para a humanidade, mas em muitos momentos age sob um código fora do protocolo. O Sinal do Triacanto é uma aventura que mescla sci fi com misticismo, gore, terror, uma espécie de messianismo, História e distopia. Um conceito fascinante com uma protagonista de peso em cena.

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6º. Deadwood Dick

Aventura: Negro Como a NoiteVermelho como o Sangue
Ano: 2018
Roteiro: Michele Masiero
Arte: Corrado Mastantuono

A obra de Lansdale é recriada aqui para os quadrinhos sob o roteiro de Michele Masiero e pelos desenhos de Corrado Mastantuono. A narrativa é daquelas que quebram a quarta parede, sendo em última análise um diário ou confissão cômica, cínica e desbocada do protagonista, que no arco formado por estas duas primeiras edições da série — Negro Como a Noite Vermelho Como Sangue, lançados originalmente em julho e agosto de 2018 — apresenta-se para o leitor com uma saga de origem, da fuga do personagem até o momento em que ele dá baixa do Exército.

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5º. Ken Parker

Aventura: O Rifle Comprido
Ano: 1977
Roteiro: Giancarlo Berardi
Arte: Ivo Milazzo

O que pega um pouco no desenvolvido deste volume são as estranhas sequências que mostram os suspeitos de terem matado o irmão de Ken Parker. O ponto de vista em que os quadros são apresentados e o mistério que o roteiro vai fazendo até revelar quem realmente são os homens acaba gerando situações em que o leitor não sabe para onde olhar, a quem o protagonista está se referindo ou quem exatamente seguir. Claro que acho muito interessante o suspense na revelação dos criminosos e simplesmente adorei a finalização do arco deles na história, mas a primeira parte do desenvolvimento, na “caça” de Ken Parker (e é uma caça doméstica!), não tem apresentação tão interessante quanto o restante do drama. No todo, O Rifle Comprido é uma introdução densa e marcante para um inesquecível personagem dos quadrinhos italianos. Uma história para se lembrar por muito tempo.

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4º. Martin Mystère

Aventura: Os Homens de Negro
Ano: 1982
Roteiro: Alfredo Castelli
Arte: Giancarlo Alessandrini

Existem muitas discussões sobre pesquisas científicas e produção de conhecimento que o texto desta graphic novel nos convida a pensar e tudo isso é colocado dentro de um processo de investigação dupla por parte de Mystère, o que nos faz admirar ainda mais a capacidade de entretenimento do roteiro, mesmo com tantas informações e variações no decorrer da saga. Esta é, definitivamente, uma das melhores estreias de novos títulos da Bonelli. Uma saga para quem tem espírito de aventureiro… mas não aquele que apenas foge de perigos e troca umas porradas ou uns tiros aqui e ali. Martin Mystère é também uma trama de investigação com inteligência e erudição em alta. Não é para todos os gostos. Mas para quem gosta de História, Geografia e Artes, para dizer o mínimo, é um prato muito cheio.

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3º. Adam Wild

Aventura: Os Escravos de Zanzibar
Ano: 2014
Roteiro: Gianfranco Manfredi
Arte: Alessandro Nespolino

A complexidade política, econômica e social ligadas ao tráfico de escravos na África é colocada aqui, mesmo em uma ficção histórica, de uma maneira aplaudível. O autor consegue nos mostrar de modo rápido e não didático (nem negacionista) todo o ciclo dessa prática, numa aventura que é, a bem da verdade, a introdução para uma grande expedição a ser trabalhada nos álbuns posteriores. Os pequenos incômodos no fechamento de blocos com diferentes personagens acabam não tendo grande peso para o todo da história. O resultado desta estreia de Adam Wild na Sergio Bonelli Editore é instigante e viciante. Mais um grande acerto de Gianfranco Manfredi.

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2º. Dampyr

Aventura: O Filho do Vampiro e A Estirpe da Noite
Ano: 2000
Roteiro: Mauro Boselli, Maurizio Colombo
Arte: Mario Rossi (Majo)

Dez anos e sete meses. Este foi o período de tempo que durou a Guerra Civil Iugoslava (1991 – 2001), conflito que atingiu diversos núcleos étnicos dos Bálcãs e resultou na dissolução do país, criando sete novas nações — se contarmos Montenegro (independente só em 2006) e Kosovo, com independência em 2008 não reconhecida pela Sérvia. Só de pensar nesse ambiente como ponto de partida para as duas primeiras edições de uma ficção histórica com tempero giallo + foco em vampiros + mundo místico e sobrenatural como um todo, não tem como não esperar algo no mínimo interessante. E depois de ler essas duas primeiras edições eu fiquei me culpando por ter demorado tanto para iniciar Dampyr.

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1º. Júlia Kendall

Aventura: Os Olhos do Abismo
Ano: 1988
Roteiro: Giancarlo Berardi
Arte: Luca Vannini

Para quem gosta do gênero cinematográfico de terror tipicamente italiano chamado giallo, para quem gosta de histórias inteligentes de investigação e para quem gosta ou pretendia conhecer e acompanhar um título com uma protagonista feminina bem representada e que não fosse super-heroína, Júlia Kendall é uma escolha que certamente atenderá, com louvor, a todas essas exigências. E no caso de Os Olhos do Abismo (uma referência à famosa frase de Nietzsche), o leitor terá, além de tudo, uma das cinco melhores estreias de quadrinhos da Sergio Boneli Editore. E acreditem: isso não é pouca coisa não.

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