Home Colunas Lista | Top 15 – Melhores Álbuns Nacionais de 2022

Lista | Top 15 – Melhores Álbuns Nacionais de 2022

Mais um ano de obras maravilhosas da música brasileira

por Handerson Ornelas
4,3K views

Estamos finalmente chegando ao fim desse longo ano de 2022! Muita coisa aconteceu ao longo desse período e repercutiu inclusive pela música brasileira, gerando algumas obras artísticas primorosas. E como é de praxe todo fim de ano, é hora das famosas listas de melhores do ano aqui no Plano Crítico. Assim, seguindo nossa tradição, como fazemos desde 2015, listamos aqui os melhores álbuns nacionais de 2022. Vale lembrar que não há ranking ou ordem de preferência na lista, apenas o objetivo de listar e recomendar o que consideramos os 15 discos brasileiros de maior destaque nesse ano. Diante de mais um ano excelente da música nacional, inúmeros mereciam lugar nessa lista e foi um verdadeiro desafio selecionar os 15 indicados. Antes de partir para a lista, eu te faço um pedido, caro leitor: dê valor à música nacional! Tem muita coisa maravilhosa sendo feita e que precisa ser valorizada. Dito isso, confira abaixo, os melhores álbuns de 2022 segundo o Plano Crítico e compartilhem conosco suas opiniões nos comentários!

 

Em Nome da Estrela – Xênia França

Eu demorei muito tempo para ouvir a estreia da Xênia em seu álbum homônimo, de 2017. Felizmente, não foi um erro que cometi em seu segundo trabalho de estúdio, Em Nome da Estrela. A voz dessa cantora baiana é algo simplesmente divino, ouvir seu R&B – que se camufla em dosagens muito bem calibradas de música pop brasileira – é uma experiência acalentadora e reconfortante. A cantora constrói um álbum versátil e dinâmico, que se renova a cada faixa e pega ótimas influências da música afro-baiana. Uma coleção de canções feitas para se desligar do mundo, se deixar levar para um espectro de paz onde o timbre maravilhoso de Xênia te guia por planícies sonoras da mais pura beleza.

Gêneros: R&B, Pop
Aumenta!: Renascer

Sim Sim Sim – Bala Desejo

O Bala Desejo, agora vencedores de Grammy Latino, é um verdadeiro milagre da música nacional em pleno 2022. Ver uma banda que essencialmente respira anos 70, pegando influências de Rita Lee, Jorge Ben, Banda Black Rio, entre outras, alcançar todo o reconhecimento que merecem, levando prêmios e participando do maior festival do país, é um conjunto de feitos muito surpreendentes para se conceber nos dias de hoje. O álbum de estreia do grupo mergulha forte nessa atmosfera hippie-brasileira-setentista, sendo imaginado como um trabalho conceitual onde a kombi que dá nome ao grupo viaja por várias cidades levando seu carnaval. Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra formam uma espécie de dream team – com direito a participações maravilhosas de outros grandes nomes da nova MPB (Tim Bernardes e Ana Frango Elétrico só para citar alguns). É uma das melhores obras recentes da música brasileira.

Gêneros: Pop, rock, psicodélico
Aumenta!: Baile de Máscaras (Recarnaval)

Habilidades Extraordinárias – Tulipa Ruiz

Desde 2017 sem lançar álbum novo, quando Tulipa Ruiz anunciou seu retorno este ano, fiquei absurdamente alegre. E melhor ainda é ver ela retornar com um álbum tão certeiro: Habilidades Extraordinárias mostra a razão desta ser uma das maiores artistas a surgir da música nacional na última década. Sua versatilidade em incorporar diferentes sonoridades brasileiras, o carisma de seu doce vocal e a assertividade como intérprete garantem que esse seja mais um excelente álbum de sua discografia. Diante do famoso “mundo VUCA” tão falado nos dias de hoje, Tulipa consegue tanto divertir quanto acalentar com sua música, e reitera a seus ouvintes a importância da calma diante do caos da vida cotidiana: “Tá tudo incerto afinal / Tudo bem nunca entender (…) / Tudo bem, tudo bem.”

Gêneros: MPB
Aumenta!: Habilidades Extraordinárias

Revolta – Katu Mirim

Não é sempre que a gente vê hip-hop misturado com metal, agora imagine isso sendo feito no Brasil e por uma mulher de origem indígena – certeza que você ainda não tinha visto. O álbum de estreia de Katu Mirim possui um frescor que garante destaque diretamente por sua proposta diferenciada. Ótimos versos entoados com fúria e imersos no ativismo indígena são carro chefe da obra, tudo isso inundado em riffs pesados. As rimas de Katu se distanciam das maiores tendências hoje do mercado do rap – não há nada poético ou espertinho a la influencer aqui – tudo é interpretado com paixão e com sangue no olho de quem acredita em cada verso que profere e exige seus direitos revistos pela sociedade.

Gêneros: Rap, Rock
Aumenta!: Sem Silêncio

Fim das Tentativas – Rico Dalasam
Depois da Festa – Tuyo

Precisei trapacear aqui e colocar dois EPs nessa posição, já que apesar da duração dessas obras ser bem curta, a qualidade entregue pelos dois trabalhos é excepcional. Ambos brilhantes desde as capas (entre minhas preferidas desse ano), Fim das Tentativas do Rico Dalasam e Depois da Festa do Tuyo são suco de brasilidade, incorporando uma espécie de R&B tipicamente brasileiro e delicioso de ouvir. É interessante como as duas obras compartilham uma atmosfera tão similar que se encontram em uma certa intersecção: além de terem a mesma duração (13min), existe uma sonoridade aqui que garante um clima de celebração ao mesmo tempo que não perde a veia melódica, contemplativa e romântica, absorvendo a essência do que há de melhor hoje no R&B brasileiro.

Gêneros: R&B, rap
Aumenta!: Guia de Um Amor Cego / Eu Vim Pela Comida

V – Maglore

O Maglore é uma das melhores bandas que já surgiram no cenário nacional, eu não canso de repetir isso. E V é mais um acerto que reitera o quão irretocável vem sendo construída a discografia do grupo baiano. Parece que o vocalista Tiago Oliveira trouxe um pouco das influências de seu ótimo disco/carreira solo para o grupo, enveredando para lados mais típicos da MPB em alguns momentos do álbum. Em seu quinto disco de estúdio, a banda continua com sua receita impecável que sabe misturar tanto o rigor artístico da MPB dos anos 70 quanto a alma popular do pop rock dos anos 80, colocando no fim uma roupagem indie que garante que sua sonoridade seja essencialmente moderna. Como tudo que a banda lança, é uma obra imperdível.

Gêneros: Pop rock, indie rock
Aumenta!: A Vida É Uma Aventura

Alto da Maravilha – Russo Passapusso, Antonio Carlos e Jocafi

Projetos que reunem diferentes gerações da música brasileira parece ser uma tendência dos últimos anos. E eis aqui uma das mais belas que já encontrei, onde duas gerações da música baiana se encontram para produzir um álbum quase impecável. Russo Passapusso, o frontman e mente mirabolante do Baianasystem se junta à dupla Antonio Carlos e Jocafi, grandes nomes da MPB da década de 70 para construir uma obra que reune sonoridades das mais diversas para mostrar o quão plural pode ser a música brasileira. É um álbum essencialmente de MPB, mas não aquela MPB elitista e boêmia pela qual o termo às vezes é conhecido, mas aquela com o P – de popular – ultra maiúsculo, pegando um pouco do samba, do rock, axé e tantos outros gêneros com a essência do espírito nacional. No caminho ainda sobram maravilhosas participações de gente do brilhantismo de Gilberto Gil, Curumin e Karina Bahr.

Gêneros: MPB, samba
Aumenta!: Catendê

Gêmeos – Terno Rei

Sempre gostei do trabalho do Terno Rei fazendo seu som tipicamente indie, fortemente influenciado pelo rock alternativo e shoegaze noventista. Mas em Gêmeos o grupo se supera, se destacando desde a produção mais caprichada, até às influências do britpop e emo que aqui parecem aflorar com maior intensidade – tudo isso resultando no que soa como a obra mais “pop” e acessível do grupo. Músicas com a melancolia inundada pelo sentimento nostálgico, governadas por synths retrôs e guitarras cheia de efeitos, uma atmosfera que se completa com as letras contemplativas sobre o passado, relacionamentos e dilemas da juventude, tudo isso em relatos confessionais de elevada sensibilidade.

Gêneros: Indie rock, shoegaze, emo
Aumenta!: Dias da Juventude

Língua Brasileira – Tom Zé

Tom Zé é um ícone da MPB que precisa ser constantemente reverenciado, não se esqueça disso. Em plenos 86 anos, esse gênio continua a esbanjar criatividade e efervescência. O seu mais recente álbum, Língua Brasileira, é um verdadeiro laboratório para suas loucuras musicais. Entre uma seleção de ótimas faixas, a brilhante Metro Guide talvez seja o melhor destaque para sintetizar o disco: começa com uma musicalização, com direito a sanfoninha de forró, do texto presente no guia do metrô de Nova York e termina com uma exaltação à cultura nacional. É uma daquelas coisas que só poderiam sair da mente de Tom Zé mesmo – e o resultado é sensacional.

Gêneros: MPB
Aumenta!: Hy-Brasil Terra Sem Mal

O Dono do Lugar – Djonga

Todo ano tem álbum do Djonga e todo ano o resultado é o mesmo: excelência de um dos maiores liricistas hoje nesse país, fazendo mágica com seus versos que, mesmo sendo tão prolífico em relação a lançamentos, no geral sempre mantém uma consistência assustadora. O Dono do Lugar é, provavelmente, seu melhor trabalho desde Ladrão, assumindo reflexões a respeito do impacto da fama na vida pessoal do artista, junto com sua tradicional crítica social ácida. Na capa, um Dom Quixote brasileiro lutando contra moinhos de vento – seriam eles reais ou frutos de sua mente? O rapper debate sobre dilemas pessoais com profundidade, demonstrando aqui uma humildade tal qual Kendrick cantou em seu clássico DAMN. Djonga acertou de novo.

Gêneros: Rap
Aumenta!: penumbra

A Vida é Uma Granada – Dingo

O mesmo que eu disse sobre o Maglore eu posso repetir sobre a Dingo (antiga Dingo Bells), uma das melhores bandas hoje em ativa no cenário nacional. Como os álbuns anteriores do grupo, A Vida é Uma Granada possui aquela atmosfera que mistura celebração, inocência e reflexão sobre a vida, tudo isso proveniente da escola Clube da Esquina – escola essa que, tenha certeza, os membros da banda estão entre alguns dos melhores alunos que Milton e companhia “ensinaram”. Canções absurdamente encharcadas de melodia, cantando sobre a efemeridade do tempo com uma sensibilidade ímpar, com direito a arranjos e conjunto de vocais belíssimos.

Gêneros: Pop rock, indie rock
Aumenta!: A Vida É Uma Granada

Numanice #2 – Ludmilla

Alguns dias atrás estava conversando com um amigo sobre o quanto o pagode é um gênero marginalizado no país e como sua origem ainda é completamente vinculada a classes mais pobres (diferente do sertanejo, que já migrou para a elite já faz um tempo). Parece que ninguém comenta – nem mesmo os ditos “jornalistas musicais” – do quanto o gênero absorveu do soul/R&B americano, fundiu com o samba e construiu um estilo completamente autêntico e brasileiro. Não vou entrar no mérito de outros grupos do gênero, mas Numanice #2 – o projeto de Ludmilla cantando pagode é maravilhoso e demonstra que a cantora nasceu para o gênero. É a essência da música popular, perfeita para aquele churrasco entre amigos naquele dia de domingo ensolarado.

Gêneros: Pagode, samba
Aumenta!: Meu Homem é Seu Homem

Anagrama – Isadora Melo

Descobri a pernambucana Isadora Melo somente esse ano, uma das mais gratas surpresas que tive em 2022. Anagrama, seu segundo álbum, esbanja uma sonoridade feita por gente de alto calibre musical. Uma obra de regionalismo escancarado, misturando jazz, afrobeat, MPB e rítmos afro-latinos. Trata-se de uma verdadeira ode à música brasileira e nordestina, reforçando o quanto nossa música possui raízes fortes na música africana, tanto que por vezes soam quase como uma coisa só. Anagrama pulsa com o coração e a alma daqueles que ergueram as bases musicais desse país, com uma força e atitude imensurável.

Gêneros: MPB, jazz, afrobeat
Aumenta!: Sorriso de Faca

O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim – Alaíde Costa

A última década foram marcadas por artistas da velha guarda se reinventando e lançando algumas de suas melhores obras no fim de suas carreiras. Só esse ano, por exemplo, perdemos três que produziram excelentes discos na última década – Elza, Erasmo e Gal. E agora Alaíde Costa é outra artista de valor enorme para a história da música brasileira que, no ápice de seus 85 anos, lançou um belo álbum de samba do nível esperado de uma figura de importância como a dela. Produzido por Emicida e Marcus Preto, trata-se de um repertório feito especialmente para a cantora, que entrega uma interpretação lindíssima em meio a arranjos luxuosos que enfatizam os calos que Alaíde canta com tanta sinceridade.

Gêneros: Samba, MPB
Aumenta!: Turmalina Negra

Live Garage – Macaco Bong

Parece que todo ano surge um lançamento ali no finalzinho do ano que garante lugar nas listas de melhores. No caso de 2022 é o excelente e visceral Live Garage, do Macaco Bong, um dos grupos de rock instrumental mais icônicos do cenário nacional. Sempre preocupados em oferecer um som novo sem perder a essência do grupo, dessa vez eles entregam sua obra mais pesada, com fortes influências de metal. Como é típico de uma banda instrumental, a responsabilidade de guiar o rítmo das canções sem um vocal é grande, mas entregue com absoluta maestria, como já é marca registrada da discografia do grupo. Um oceano de guitarras avassaladoras lideram a melodia presente nos riffs impetuosos e com aquele ar de agreste brasileiro. É rock feito  com sangue.

Gêneros: Rock, Metal
Aumenta!:

 

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais