SPOILERS!
Lisbeth Salander está mais encrencada do que nunca. O grupo dos defensores de Alexander Zalachenko ressurge para tentar enfurná-la em uma clínica psiquiátrica e encobrir as fraudes judiciárias realizadas no início dos anos 90, quando a garota era apenas uma adolescente.
Terceiro livro da Série Millennium, A Rainha do Castelo de Ar se configura uma obra ágil, cheia de personagens novos, grande arco de ações através do tempo e um excelente trabalho de crítica à justiça sueca, às instituições de saúde para pessoas com problemas psiquiátricos e, mais uma vez, aos maus tratos sofridos pelas mulheres.
Stieg Larsson adota como ponto de partida o acontecimento do final de A Menina que Brincava com Fogo. Descendo da ponta do iceberg, vemos o autor partir para uma linha dramática de investigação, culminando nos eletrizantes capítulos em que se dão o julgamento de Lisbeth e o inesquecível enfrentamento entre Annika Giannini e Peter Teleborian. É uma pena que após a finalização do julgamento o autor tenha desacelerado e finalizado o livro com uma exposição boa, mas longe do que fora a maravilha com a qual nos presenteara durante toda a obra.
A diferença deste volume para o anteriores é a aparência mais burocrática, mais narrativa do que estávamos acostumados. Por se tratar de um livro de investigação de crimes cometidos pela Seção há muitas décadas, a história se torna mais cerebral e menos lúdica, se assim podemos dizer. Mas isso não é demérito algum para a obra e não a diminui. Ao contrário do que alguns leitores se manifestaram em relação à “encheção de linguiça do livro”, classifico a sua primeira metade como o surgimento de uma grande tempestade, que chega exatamente na segunda metade, com toda a força possível.
Embora a finalização seja patética — no sentido original da palavra –, Larsson não deixa nenhum ponto solto. O ritmo mais “familiar” adotado desde a viagem da protagonista para Gibraltar se tornou um “mal necessário” e tem suas alternâncias, como o eletrizante confronto final entre Lisbeth e seu meio-irmão Ronald Niederman. O desfecho nos mostra um amadurecimento. Libeth mudou. O leitor se sente meio constrangido ao terminar a última página, mas ao mesmo tempo se sente feliz e elétrico. A confusão de sentimentos é propícia ao que o autor nos apresenta. O livro vai de um ponto a outro da sociedade e organização estatal e social sueca e europeia, bem como faz Lisbeth atravessar a ponte que vai de um lado a outro de si mesma.
A Série Millennium vai ficar na memória de todos os leitores que passaram horas e horas suando frio e roendo as unhas, virando as páginas freneticamente e passando noites em claro, acompanhando as aventuras dessa admirável (anti?) heroína de nosso início de século.
A Rainha do Castelo de Ar (Luftslottet som sprängdes) — Suécia, 2007
Autor: Stieg Larsson
Publicação no Brasil: Companhia das Letras, 2009
688 páginas