Home LiteraturaConto Crítica | Doctor Who: As Raízes do Mal, de Philip Reeve

Crítica | Doctor Who: As Raízes do Mal, de Philip Reeve

por Luiz Santiago
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Acima da superfície morta de um Planeta sem nome, longe, entre as Estrelas de Outono, a Estrutura Heligan pende firmemente sozinha na luz fria do espaço. A árvore que jamais conheceu a ação da gravidade, exceto a sua própria, cresceu imensamente, estendendo seus massivos galhos em todas as direções. Entre as suas folhas brilhantes o povo construiu suas casas e salões e galerias, mas a árvore não os nota. Ela está dormindo, como vem fazendo há séculos, sonhando, devagar, amargos sonhos de vingança.

Philip Reeve, Prólogo de As Raízes do Mal.

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Equipe: 4º Doutor e Leela
Espaço-tempo: Estrutura Heligan, futuro distante

Ao lado de A Cidade Sem Nome, a aventura do Segundo Doutor na série de contos comemorativos da Editora Puffin (2013), As Raízes do Mal é uma história que se encaixa perfeitamente no mundo clássico de Doctor Who. A aventura tem a cara do 4º Doutor e Leela; o cenário exposto por Philip Reeve foi muito bem escolhido e o impasse a ser resolvido se constitui em um dos melhores dessa série literária de aniversário.

A despeito de algumas colocações que aparentam falta de atenção do autor para determinadas gerações do Time Lord, temos uma contextualização exemplar no conto, e pela primeira vez na série, vemos a ligação entre frases e ações do Doutor durante suas viagens.

O 4º Doutor e Leela chegam em um lugar muito curioso, num futuro distante. No Prólogo que disponibilizei no início do texto é possível ter uma noção básica do local e sua localização, além, é claro, da indicação de perigo que ali se ergue.

O fato é que Philip Reeve brinca com o próprio veneno do Doutor: ele é confrontado por algo que ele mesmo fez no futuro (dele, não dos habitantes da Heligan), e para além de julgamentos morais e éticos sobre os atos desse Time Meddler (que ironia!), temos um resultado bastante interessante.

É interessante pensar nesse quesito. Quem conhece a série clássica sabe que o Doutor “enfrentou” um Time Lord conhecido como “O Monge”, ou “Time Meddler”, justamente por interferir em momentos da História da Terra que poderiam colocar em perigo todo o futuro. E… ora, não é exatamente isso que uma de suas encarnações futuras acabou fazendo nessa aventura? E pensando bem, o Doutor não faz isso frequentemente?

A luta do Doutor contra seu próprio feito, a consciência que ele adquire e o rumo que toma o vilão da vez recebem na escrita de Reeve uma excelente colocação. Mas há coisas que não são bem aproveitadas durante a narrativa.

A primeira, mais importante e mais preocupante delas é a questão da gravata borboleta. É possível sim explicar o que Reeve faz no conto como um “esquecimento do Doutor”, mas essa explicação é incompleta e furada demais. Primeiro, porque, apesar das gravatas borboletas ficarem famosas no figurino do Segundo, houve ocasiões em que o Primeiro e o Terceiro Doutores também as utilizaram, então, por que esse desapego do Quarto Doutor de Philip Reeve para com elas?

Ele pode sim, nesse Universo, ter se esquecido que um dia usou gravata borboleta, ou quem sabe, nesse Universo, suas encarnações anteriores não usaram-nas, mas isso não seria bastante incoerente com a própria surpresa (e excelente, diga-se de passagem) que o autor nos prepara?

Já a segunda coisa é menos preocupante. Trata-se do cameo de K-9. Havia tanto espaço para que o cão robô agisse de alguma forma, ajudando Leela e o Doutor, que eu fico pensando até como seria interessante ver o povo da Estrutura Heligan o encontrando. Juro que durante a leitura fiquei esperando a presença de K-9 saindo da TARDIS, cortando as raízes, ou pelo menos perguntando alguma coisa ou fazendo alguma observação científica e anacrônica ao final do conto. Mas nada disso aconteceu.

O cão é citado no início e esquecido ao final. Não era uma participação crucial, apresentando-se claramente como um cameo, mas para uma escrita tão bem pensada, parece até concluir que o autor optou por não fechar todos os pontos que ele mesmo abriu.

De qualquer forma, The Roots of Evil é um “conto de terror” feito sob medida para qualquer whovian, e daquelas criações literárias que te faz querer ser um Produtor Executivo por um dia, para poder adaptá-lo para a TV.

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Philip Reeve fala sobre o projeto

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