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Crítica | “Cavalo” – Rodrigo Amarante

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Nada em vão, no espaço entre eu e você. Rodrigo Amarante começa o seu primeiro disco solo com esse verso espirituoso e segue numa trajetória de busca por uma música que ele não está certo de ter encontrado antes. Depois de Los Hermanos e Little Joy, o cantor e compositor aposta em uma vibe alternativa que dá um tom completamente diferente à sua carreira. Basta ouvir a primeira música do disco, Nada Em Vão, para perceber que ele está em um outro estágio musical.

Cavalo (2013), foi produzido por Noah Georgeson e gravado após o retorno temporário de Amarante ao Brasil, após morar nos Estados Unidos e de onde não saiu definitivamente, tendo inclusive gravado algumas canções do disco por lá. Essa estadia fora do país permeou sua obra com uma atmosfera de exílio que ele mesmo assume e diz ser bem-vindo a esse momento de sua vida. Longe de casa e fora de uma obrigação de arranjo artístico para adequar sua música a qualquer banda, o artista mergulhou fundo em uma produção inteiramente sua. E então a melancolia deu as caras.

Muitos artistas, quando se dispõem a mergulhar em um universo íntimo, não conseguem lidar com a grande quantidade de emoções dali surgidas e o produto que resulta desse mergulho é um misto de confusão e enigma. Mas há cantores e compositores conseguem trazer de suas crises existenciais profundas reflexões trabalhos musicais que imediatamente se conectam com o público e mostram o máximo dessa fuga, dessa disparada de si para um outro mundo, e como exemplo, podemos citar as experiências personalíssimas de Marisa Monte em Infinito Particular; de Ana Carolina em Quartinho; e Rodrigo Amarante em Cavalo.

Na carta que escreveu sobre o processo de produção do álbum, o cantor falou algumas vezes sobre trabalhar o silêncio, lidar com a solidão, a estranheza de uma terra, a inspiração vinda do vazio externo. Cavalo é justamente isso: um misto de experiências, onde IDENTIDADE é uma palavra-símbolo que se encaixa em tudo e procura dar e buscar sentido. O disco tem canções em português, inglês e francês, e podemos até ouvir algumas palavras em japonês em uma das canções. A língua, o desentendimento ou readequação do entendimento o mundo e a pessoa é um ponto forte em Cavalo.

Num primeiro momento, é de achar estranho o nome dado ao disco. Mas então analisamos a proposta de Amarante e então chegamos à conclusão de que a obra é mesmo um belo e forte animal em disparada, sabe-se lá para onde e correndo de quê. Cavalo é um disco para se ouvir muitas vezes, à exceção, talvez, da música Maná, meu único desafeto no meio das 11 canções incríveis que compõem o disco. Certamente um dos melhores lançamentos brasileiros do ano.

Ouça o disco completo por streaming, disponibilizado pelo cantor.

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