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Crítica | O Filme Expressionista e Outras Histórias de Cinema

Vai um cineminha hoje?

por Luiz Santiago
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Publicado em abril de 2021, pela editora Culturama, este volume intitulado Um Especial Disney: Histórias de Cinema reúne onze aventuras que ligam o Universo da Disney nos quadrinhos à Sétima Arte. De épocas diferentes e concebidas por diferentes times de artistas da Itália e da Dinamarca, essas tramas abraçam a metalinguagem, fazem malabarismos com as regras do cinema e nos convida a rir diante do absurdo de algumas escolhas narrativas ou diante de uma sequência de referências que entendemos e que gostamos de ver nesse tipo de contexto.

Para que a postagem não ficasse maior do que já está, resolvi dividir as pequenas críticas do presente Especial em duas partes, com cinco histórias cada uma, já que Trio de Estrelas ganhou uma crítica em formato integral e foi publicada à parte. Você conhece essa publicação da Culturama? Já leu alguma das aventuras aqui editadas? O que achou delas? Leia as críticas abaixo e também deixe o seu comentário ao final da postagem!

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A Fera de Amigópolis

Integrando o arco A História do Cinema, A Fera de Amigópolis é uma baita homenagem ao diretor Steven Spielberg. Ela começa com Mickey e Pateta chegando ao Galáctico Estúdios a convite de um tal de Spilbrega, amigo de faculdade do Mickey. É um encontro que chama a atenção pela homenagem que está sendo feita, não necessariamente pela história. Isso porque é preciso muito boa vontade para comprar o que o Sr. Spilbrega diz a Mickey e Pateta. Ele precisava de ajuda para transportar o tubarão mecânico da piscina do estúdio até o mar. E com a ameaça de alguém querendo boicotar o filme (leia-se: Bafo) ele chamou um amigo para ajudar. É uma desculpa muito fraca, mesmo se a gente considerar que, nesse caso, Spilbrega pode ter ouvido falar do quão bom investigador é o seu antigo colega de faculdade. Bem, de todo modo, isso não me impediu de curtir o restante da história.

Quando as referências aos filmes aparecem, o leitor se sente no paraíso. É claro que o roteirista Roberto Gagnor foca muito mais em Tubarão, e isso faz total sentido, porque essa história se passa durante o período de filmagens do clássico. Mas é claro que o autor não iria perder a oportunidade de brincar um pouco mais com a filmografia incrível do diretor americano, então selecionou mais dois filmes e os utilizou para fazer a trama avançar. O primeiro deles foi Encurralado, que os desenhos conseguem representar muitíssimo bem, mostrando o desespero de Mickey e Pateta tentando fugir de um alucinado motorista de caminhão. Já o segundo, foi E.T. – O Extraterrestre, com a arte de Giada Perissinotto destacando a inesquecível cena da bicicleta voando e mostrando a Lua gigante ao fundo. Pela forma como abordou a produção de uma grande obra, essa trama me lembrou outro capítulo do mesmo arco, Espada e Sandália, também escrito por Gagnor.

Topolino e il bestio di amicizia — Itália, 29 de maio de 2018
Código da História: I TL 3262-4
Publicação original: Topolino (Libretto) #3262
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Um Especial Disney 6 – Histórias de Cinema, Editora Culturama, abril de 2021
Roteiro: Roberto Gagnor
Arte: Giada Perissinotto
Capa: Giada Perissinotto (arte), Andrea Cagol (cores)
14 páginas

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O Filme Expressionista

Mais um capítulo do arco Patos no Cinema! E desta vez Marco Bosco conseguiu criar as alfinetadas mais divertidas possíveis num diálogo entre Donald e Margarida sobre o movimento do Expressionismo Alemão. Quem nunca esteve perto de alguém pedante ou super pretencioso que fala sobre uma determinada arte sem ter ideia do que está falando? Ou aquelas pessoas que, por saberem que determinado artista é consagrado ou simplesmente por gostarem muito de um artista, colocam tudo o que esse indivíduo faz no mais alto patamar da existência, a despeito de não entenderem nada do que está consumindo? É esse tipo de pessoa e esse comportamento que a presente história critica — e eu fiquei rindo e imaginando os inúmeros encontros que tive e tenho até hoje com esses metidos a críticos e grandes “entendedores de coisa nenhuma”.

O lado cômico dessa história é que ela expõe a realidade de um gênero em ao mesmo tempo mostra o absurdo de uma atitude. É verdade que no cinema fora dos blockbusters, nós encontraremos objetos simples sendo utilizados como símbolos dramáticos, estéticos e narrativos. Mas isso não é só no cinema de arte. Há diversas formas de usar coisas simples de modo simbólico na literatura, no teatro, na escultura, na arquitetura, na dança, enfim, em várias manifestações artísticas. Todavia, o cinema parece concentrar de forma bem ampla esse tipo de abordagem, e é sempre muito engraçado ver como sentimentos que vão da zombaria (o do Donald) ao olhar aparentemente sério para a obra (o da Margarida) se encontram e estranhamente se complementam na chacota, na birra e nas acusações de ambos os lados. Uma história que me fez rir bastante, além de me trazer um número grande de relações reais que tive mais ou menos nessa mesma linha. É como diz o ditado: “cinéfilo nem é gente“.

Paperino, Paperina e il film espressionista — Itália, 39 de junho de 2009
Código da História: I TL 2796-3
Publicação original: Topolino (Libretto) #2796
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Um Especial Disney 6 – Histórias de Cinema, Editora Culturama, abril de 2021
Roteiro: Marco Bosco
Arte: Ottavio Panaro
Capa: Marco Gervasio (arte) e Stefano Intini (cores)
6 páginas

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O Sítio das Tentações

Só mesmo uma versão de Steven Soderbergh (ou melhor… Porcoberg) para colocar o Gansolino para trabalhar, não é mesmo? Nessa história dinamarquesa escrita por Kai Vainiomäki, vemos o famoso diretor chegar ao sítio da Vovó Donalda com o objetivo de usar o local para filmar sua nova obra. Acompanhado por uma versão de Sandra Bullock (chamada de Sandra Bruaca nessa realidade), o cineasta sugere a Vovó Donalda que assuma a parte de alimentação da equipe de filmagens, o que lhe daria um bom dinheiro, algo que a fazendeira não recusa. Gansolino, por sua vez, é contratado como coadjuvante do filme, só que para isso precisa engordar mais, o que obviamente não é nenhum sacrifício para o personagem… ou será que é? O fato é que com uma equipe tão grande para alimentar, o pobre ganso tem que ajudar a vovó o tempo todo, e ele também descobre que Bruaca é, na verdade, uma draga, não parando de comer um minuto, consumindo, inclusive, o que Donalda guardava para o sobrinho-neto.

É uma história divertida porque brinca com quebra de expectativas e também coloca em cena o estrelismo de alguns artistas. Não que o autor esteja odiando a atriz parodiada aqui, não é isso. Ela apenas representa um comportamento específico de algumas divas do cinema. Mas para isso também há uma quebra de expectativa na história, porque Bruaca não consegue se segurar diante das delícias cozinhadas pela Vovó Donalda, então toda a preocupação com o corpo que motiva Hollywood vai para o ralo, e ela acaba engordando demais, o que gera o problema final da HQ. É uma boa trama de produção cinematográfica, mostrando um pouquinho de filmagens em locação e colocando alguns personagens em caminhos que não estão acostumados a trilhar.

Homestead Temptations / Landlige fristelser — Dinamarca, 27 de abril de 2011
Código da História: D 2008-268
Publicação original: Anders And & Co. #2011-19
Editora original: Egmont Serieforlaget
No Brasil: Um Especial Disney 6 – Histórias de Cinema, Editora Culturama, abril de 2021
Roteiro: Kai Vainiomäki
Arte: Andrea Ferraris
Capa: Arild Midthun (ideia) e Maximino Tortajada Aguilar (arte)
6 páginas

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Irmãos Metralha: O Filme

Carol e Pat McGreal criaram aqui uma situação de filmagem de filmes de máfia e, como não podia deixar de ser, os protagonistas são os Irmãos Metralha. Só que não estamos diante de um filme de máfia comum. Na verdade, é uma cinebiografia dos Irmãos, o que já traz uma situação cheia de imprevistos. Eu não sou muito chegado às histórias dos Metralha, então isso também teve um peso para achar a trama “apenas ok“, mas existe, claro, um fator de desenvolvimento narrativo que deve ser levado em consideração. Eu até curti bastante a mudança de direção no decorrer do filme, ou seja, começar com o que deveria ser algo mais sério e cheio de segredinhos escusos, e caminhar para uma comédia estilo pastelão sobre os bandidos. Mas as autoras mudam muito bruscamente de foco e fazem a história se perder.

Na reta final, a trama passa a ser sobre um “filme de roubo”, agora arquitetado pelos Metralha utilizando a equipe do filme. E isso até que poderia gerar um enredo muito bom (à la 11 Homens e um Segredo, O Plano Perfeito ou filmes similares) e muito engraçado — de fato há boas passagens no meio dessa confusão toda –, mas como faz parte de uma história que tinha começado com outro rumo, parece bagunçado. Não é uma trama ruim não, mas a troca de foco acabou se tornando uma distração nada bem-vinda.

Boffo Box Office Beagles / Bjørne-banden går til filmen — Dinamarca, janeiro de 2004
Código da História: D 2002-175
Publicação original: Anders And & Co. #2004-03
Editora original: Egmont Serieforlaget
No Brasil: Um Especial Disney 6 – Histórias de Cinema, Editora Culturama, abril de 2021
Roteiro: Carol McGreal, Pat McGreal
Arte: José Maria Manrique
Capa: Josep Tello Gonzalez
6 páginas

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Pipocando no Cinema

Em mais esse episódio do arco Patos no Cinema, Marco Bosco coloca Donald e Peninha tentando dar uma de espertos, buscando assistir a um filme “de graça”. Claro que isso traz consequências ruins para os dois, mas na cabeça do Peninha, o plano é perfeito, o que deixa tudo bem mais engraçado. Eles estão diante de um grande blockbuster chamado Palmadas Estelares (Guerra nas Estrelas, hehehe) e como os ingressos vendem como água, não tem mais lugar. Nesse roteiro, o absurdo vence tudo, porque Peninha chega ao cinema atrasado de propósito só para colocar o estúpido plano em ação, que é o de ser contratado como vendedor de pipoca e babatinha, para entrar na sala, a trabalho, e então conseguir ver o filme.

Em se tratando dessa dupla, é claro que nada daria certo. O roteiro cria situações rápidas com a dupla trabalhando, o Donald reclamando e o Peninha floreando toda a situação, tentando mostrar o quanto sua ideia é primorosa (só que não). E o final apresenta aquela punchline visual e dramática esperada, levando a dupla a realmente ter que trabalhar no cinema para cobrir o prejuízo que gerou. Não tem muito desenvolvimento de nada aqui, é apenas uma sequência (no geral, engraçada) de provocações e tragédias.

Paperino, Paperoga e il campione d’incassi — Itália, 28 de julho de 2009
Código da História: I TL 2800-4
Publicação original: Topolino (Libretto) #2800
Editora original: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Um Especial Disney 6 – Histórias de Cinema, Editora Culturama, abril de 2021
Roteiro: Marco Bosco
Arte: Marco Meloni
Capa: Andrea Freccero (arte), Max Monteduro (cores)
6 páginas

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