Home Colunas Plano Polêmico #51 | Seria Ginny (e não Laurie Strode) a primeira autêntica final girl do slasher?

Plano Polêmico #51 | Seria Ginny (e não Laurie Strode) a primeira autêntica final girl do slasher?

Uma teoria sobre Ginny, de Sexta-Feira 13 Parte 2, como a primeira autêntica final girl do slasher.

por Leonardo Campos
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Sim. Começarei a minha reflexão sobre a pergunta do título com uma afirmativa. Quem conhece os meus textos sabe que sou um grande admirador de Laurie Strode, personagem representada por Jamie Lee Curtis desde 1978, mas convenhamos, a primeira autêntica Final Girl do profícuo subgênero slasher foi Ginny Field, figura ficcional feminina que sobreviveu ao primeiro embate com Jason Voorhees no cinema, em Sexta-Feira 13 Parte 2, produção lançada como parte integrante da Safra 1981 deste rentável segmento narrativo do cinema estadunidense, atualmente bifurcado ao redor do planeta. Falamos muito sobre a recorrente protagonista de Halloween: A Noite do Terror, também presente em Halloween 2: O Pesadelo Continua, Halloween H20: Vinte Anos Depois, Halloween: Ressurreição e na recente nova trilogia, Halloween (2018), Halloween Kills: O Terror Continua e no vindouro Halloween Ends, desfecho desta nova saga, exaltada como o perfil desejável para uma final girl que expõe força feminina e batalha contra o seu algoz masculino, mas esta postura foi adotada pela personagem apenas no sétimo filme da franquia, conectado diretamente com o segundo. Era o basta de Laurie para Michael Myers, pois nos dois primeiros filmes, ela foi salva por outras figuras mais fortes da narrativa, tendo como destaque apenas a sua habilidade de conseguir escapar do assassino mascarado após a intervenção alheia, algo diferente da protagonista do retorno de Jason do além para vingar a sua mãe.

Por isso, considero Ginny Field, interpretada por Amy Steel, a primeira autêntica final girl do slasher, personagem que abriu as portas para Nancy, de A Hora do Pesadelo, dentre outras mulheres protagonistas deste subgênero que desde os marcos iniciais dos anos 1960 e 1970, demonstra fôlego de atleta para se reinventar. Não busco, aqui, negar a importância da admirável construção de Laurie Strode, uma figura ficcional esférica, bem conduzida em suas dimensões físicas, psicológicas e sociais, traço distinto do texto dramático de John Carpenter e Debra Hill em 1978, continuado em alguns momentos da franquia de Michael Myers, em especial, na atual trilogia. O que considero é que há algumas características que precisam definir este posto de protagonista no slasher, classificando-as das mais autênticas aos desenvolvimentos menos impactantes, como é o caso da pergunta norteadora que intitula esta reflexão. Como disposto no artigo E Com Vocês, a Final Girl, as personagens deste subgênero não estão em cena apenas para correr e gritar, colocando-se como vítima destes antagonistas misóginos, mas reagir com inteligência, sagacidade, firmeza, destreza e outras posturas que delineiem a sua força diante do combate contra as forças do mal e reestabelecimento da ordem, mesmo que momentaneamente.

Olhando em retrospectiva, tendo em consideração o manancial de textos sobre slashers lidos antes, durante e depois do meu processo de formação enquanto crítico de cinema e um estudioso praticamente acadêmico do subgênero slasher, percebo o quão as análises destacam a posição de Laurie Strode como a personagem de maior destaque neste segmento, construção que merece tal lugar apenas em seu processo evolutivo, em especial, na composição da personagem de 1998, não no filme de 1978, salva pelo Dr. Loomis duas vezes, quase aniquilada por Michael Myers na casa onde foi babá e no hospital onde se manteve internada no filme de 1981. Com Ginny Field, foi diferente. Apesar de Alice (Adrienne King) ter enfrentado a primeira figura antagonista da franquia Sexta-Feira 13, isto é, a mãe de Jason, é Ginny que precisa lidar com a mixagem de humano e sobrenatural na continuação, filme que traz o assassino “do além” para se vingar da morte de sua defensora matriarca que resolveu ceifar a vida dos monitores do acampamento em Crystal Lake, considerando-os culpados pelo afogamento de seu filho.

Neste retorno de Jason, uma lenda até então, aparição que esteve apenas no pesadelo de Alice no desfecho do primeiro filme, os personagens precisam lidar com uma enigmática figura de força que vai além dos traços humanos. É alguém que recebe tiros, facadas e outros tipos de alvejadas que não garantem a sua morte. Tudo bem que Michael Myers também é assim, mas Laurie Strode não soube lidar com o seu antagonista nos dois primeiros filmes, da mesma maneira que a protagonista de Sexta-Feira 13 Parte 2 enfrentou o seu monstro, praticamente sozinha, com um leve apoio do namorado Paul (John Furey) apenas no desfecho, num embate físico e psicológico turbinado, intenso, a ocupar um bom espaço da narrativa de 87 minutos, escrita por Ron Kurz, baseado nos personagens de Victor Miller e Sean S. Cunningham. Supliciada pela fúria do antagonista que ainda não utilizava a sua famosa máscara, mas trajado por um saco que funcionava como uma espécie de capuz, semelhante ao assassino do proto-slasher Pânico ao Anoitecer, de 1976, Ginny tem a sua trajetória de martírio acompanhada pelos acordes gritantes da trilha sonora icônica de Harry Manfredini, acompanhamento para as cenas que reforçam a sua angústia nos espaços concebidos pelo design de produção de Virginia Field, repleto de obstáculos que tornam a trajetória da final girl um desafio bastante físico, tendo como contribuição a astúcia da personagem que não é tão bem construída dramaticamente quanto a heroína de John Carpenter, mas se comporta em cena mais guerreira e digna do posto de primeira autêntica final girl do subgênero slasher, antecipação de outras figuras marcantes deste esquema de produção que envolve mortes em sequência, assassinos geralmente mascarados, segredos do passado que retornam para projetos de vingança e punição para quem foge dos ditames da sociedade tradicional de suas respectivas épocas.

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