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Crítica | Arrested Development – 4ª Temporada

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5
Quando foi anunciado o retorno de Arrested Development, 7 anos após o seu cancelamento por baixa de audiência, na FOX, o criador da série, Mitch Hurwitz, alertou a toda comunidade órfã da família Bluth para que tivesse calma e saboreasse os episódios sem pressa, já que haveria coisa demais para ser digerida. E ele não estava brincando. O retorno da série trouxe uma quantidade monstruosa de informações, o que a tornou ainda mais atrativa do que já era.

Dar continuidade a uma história como a da família Bluth não foi uma tarefa fácil. Se nos lembrarmos bem do último episódio da 3ª Temporada, Development Arrested (2006), teremos uma situação até que bem resolvida dos fatos, sem gigantescos vácuos narrativos para serem preenchidos. Os eventos posteriores ao sequestro do Queen Mary por Lucille Bluth poderiam muito bem ficar a cargo da imaginação do espectador. Com o cancelamento da série pela FOX, após os lamentos, os fãs da série pelo menos se conformaram com o modo como as coisas terminaram. Não era um final de série, mas dentro das circunstâncias, foi aceito como um final. Só que os Bluth ainda tinham muito pra viver e contar.

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Produção e Novas Características

Depois de tanto tempo, é evidente que os 9 atores principais estavam comprometidos com outros projetos, o que dificultou tremendamente o trabalho da Netflix para produzir a 4ª Temporada. Reunir o elenco inteiro foi um trabalho hercúleo e consta que isso aconteceu uma única vez durante as filmagens, numa cena vemos, aos pedaços, no decorrer dos 15 episódios. O restante foi gravado com meses de diferença entre uma cena e outra, exigindo excelência plena em dois setores principais da equipe: roteiro e montagem. Mas para que se conseguisse um bom resultado final, algumas coisas precisaram ser reajustadas, a começar pelo formato série.

Já era sabido que todos os episódios da nova temporada iriam ser disponibilizados no mesmo dia pela Netflix (e Mitch Hurwitz ainda teve a pachorra de pedir calma aos fãs), e que, dada a impossibilidade de reunir todo o elenco para um grande número de episódios, cada capítulo desse novo ano seria centrado em um dos membros da família, como peças de um colossal quebra-cabeça sendo encaixadas aos poucos. Não é preciso dizer que isso exige extrema atenção e neurônios dos espectadores. Definitivamente, essa temporada de Arrested Development não é uma série para quem tem preguiça de pensar.

Partindo do sequestro do Queen Mary, Mitch Hurwitz fez uma verdadeira saga familiar e junto de um grupo seleto de roteiristas, organizou uma das mais intricadas sequências de roteiros que já tivemos oportunidade de ver em um retorno de série. Não se trata apenas de episódios bem escritos, com bom funcionamento interno e uma linha narrativa coerente, caminhando para um objetivo “X” ao final da temporada. Trata-se de 15 episódios com histórias focadas em diferentes membros da família Bluth, ligações sutis e improváveis entre cada um dos episódios e múltiplas linhas narrativas internas que se afunilam para o Cinco de Cuatro, numa sequência de eventos que é quase impossível acreditar que deu certo.

Todo mundo está em Newport Beach, na noite do Cinco de Cuatro, fazendo alguma coisa que considera importante, e dá até dor de cabeça se nós pensarmos que todas essas ações tiveram desenvolvimento em três tempos (passado, presente e futuro) no decorrer dos episódios e sob vários pontos de vista: Lucille 2 e Herbert Love em suas respectivas campanhas e discursos (nota para a construção do muro); Tobias e o irmão de Lucille 2 + os internos da Austerity para a apresentação do musical não autorizado pela Marvel baseado em O Quarteto Fantástico (1994); George “Maharis” Michael em um discurso fail com base em um bilhete deixado pelos Anonymus (que ele achava que era outra coisa); Michael Bluth tentando seduzir Lucille 2 por dinheiro; Buster tentando se vingar de Herbert Love; Herbert Love terminando com Lindsay e dando-lhe dinheiro; Gob tentando se livrar dos mongóis; Lucille Bluth mudando de perspectiva de vida sobre ser uma vilã; etc, etc… O trabalho de interação e construção de todas essas timelines merece reconhecimento e não há como não admirar o trabalho de Mitch Hurwitze sua equipe de roteiristas nesse projeto.

E em toda essa grande festa de narrativas, temos os atores.

É impressionante como certas personagens se adequam perfeitamente a acada ator, e esse característica, somada a qualidade dramática do elenco da série, permitiu com que não tivéssemos nenhuma diferença de interpretação da 3ª Temporada para esta, mesmo 7 anos depois. É claro que fisicamente os atores estão mudados (o caso mais absurdo é o do ator Justin Grant Wade, que interpreta Steve Holt), mas voltaram a dar vida a seus personagens como se nunca tivessem interrompido a série, e o que é melhor, trata-se de interpretações em crescendo, vindas à tona conforme cada situação é lançada e novos problemas precisam ser resolvidos. O elenco de apoio também é glorioso e abarrotado de atores consagrados (com participação ativa até do diretor Ron Howard, o narrador).

Embora tenha o início um pouco confuso, a 4ª Temporada de Arrested Development não demora muito para mostrar serviço e nos presenteia com pouco mais de 8 horas de diversão inteligente, atuações brilhantes e situações que causam um misto de vergonha alheia e riso descontrolado. Quem bom que a série voltou em boa forma! E que bom que a internet tem se mostrado uma fonte de material de qualidade, provando que não só a TV pode ter e produzir séries inteligentes. A 4ª temporada de Arrested Development é um produto exemplar de um novo mercado. Os tempos mudaram. E fazer parte dessa mudança é bom demais!

Arrested Development – 4ª Temporada (EUA, 2013)
Direção: Mitchell Hurwitz, Troy Miller
Roteiro: Mitchell Hurwitz, James Vallely, Richard Rosenstock, Caroline Williams, Dean Lorey, Brian Singleton
Elenco: Brian Singleton, Portia de Rossi, Will Arnett, Michael Cera, Alia Shawkat, Tony Hale, David Cross, Jeffrey Tambor, Jessica Walter, Henry Winkler, Kristen Wiig, Seth Rogen, Christine Taylor, Ed Begley Jr., John F. Beard, Liza Minnelli, Brian Huskey.
Duração: 22 min. cada episódio

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