Home TVTemporadas Crítica | Doctor Who – 2ª Temporada (2006)

Crítica | Doctor Who – 2ª Temporada (2006)

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

A série Doctor Who voltou a ser televisionada em 2005, depois de ser interrompida em 1989 e de uma tentativa fracassada de retorno em 1996, com um telefilme. A adorada e icônica série britânica é a mais antiga série de ficção científica em exibição na TV, e sagrou-se pelos seus episódios bastante imaginativos e efeitos especiais de caráter “B” (pelo menos nessas primeiras temporadas), como bem já havia observado o meu colega e co-editor aqui do Plano Crítico, Ritter Fan, por ocasião da crítica da 1ª Temporada.

Após a regeneração do 9º Doutor (Christopher Eccleston), creio que muita gente que não fazia ideia de que isso era comum na série, se assustou. Aliás, o novo público de Doctor Who teve que aprender rápido o lema que marca o show: mudanças constantes. Elas estão sempre presentes na série, vistas a cada arco de histórias, episódios ou mesmo ao longo dos anos, e essa característica também se repete em relação ao elenco e a tudo o que faz a série existir: música e animação de abertura, showrunners, produtores, companions, Doutores, vilões, TARDIS (interior e exterior), chave de fenda sônica, figurino do Doutor, catchphrases. Doctor Who é um show que se transforma periodicamente, e isso com certeza é a receita de seu sucesso.

Há espectadores que não gostam do Doutor interpretado por Christopher Eccleston e, particularmente, não entendo essa resistência. O ator fez uma ótima encarnação do Time Lord e abriu caminho para uma nova onda de whovians pelo mundo, firmada definitivamente pelo elétrico 10º Doutor, interpretado por David Tennant. A transformação de um para outro foi tamanha, que eu passei todo o episódio do Especial de Natal (o episódio #0 de cada temporada), The Christmas Invasion (2005), tentando me acostumar com aquele Senhor do Tempo mais novo e mais… “noiado”. Mas Tennant é um excelente ator e sua personalidade como 10º Doutor se fez cativante para o público já no primeiro episódio da 2ª temporada, o ótimo New Earth.

E por falar em New Earth, lembrei-me da questão racial do episódio e gostaria de abrir um parênteses aqui. Em julho desse ano de 2013, surgiu uma polêmica inútil sobre a “postura racista” de Doctor Who. Quando li a reportagem e descobri se tratar de uma série de ensaios para um livro chamado Doctor Who and Race, editado por Lindy Orthia, me perguntei até que ponto pode chegar uma pessoa que não tem  o que fazer e resolve forçar uma tese sobre algo que não existe. Como uma série que trabalha com centenas de raças alienígenas, transformação físico-bio-genética do personagem principal e atores de todas as etnias em papeis de destaque (Mickey e Martha, negros, foram companions do 10º Doutor; e Chang Lee, oriental, companion do 8º Doutor; sem contar K-9, Chamaleon e Leela, androides e uma “selvagem” que também já foram companions) pode ser uma série racista? Definitivamente coisa de quem não tem o que fazer.

E voltando à Segunda Temporada…

Embora eu tenha ressalvas em relação a alguns episódios da fase final deste 2º ano, é impossível não avaliá-lo em alta conta. Após o excelente 1º episódio, temos a icônica presença da Rainha Victoria (interpretada por uma atriz da Série Clássica, que quase foi companion do 2º Doutor após a saída de Ben e Polly em The Faceless Ones, 1967), numa aventura de garras e dentes em que vemos o surgimento de Torchwood, o instituto criado pela Rainha para investigar casos alienígenas. Esse Instituto apareceria remodelado de diversas formas nos futuros episódios da temporada. Também é válido citar que o spin-off da série, chamado Torchwood, estreou exatamente neste mesmo ano de 2006, seis meses depois da exibição de Tooth and Claw.

Uma das coisas marcantes nessa temporada foi a presença de roteiros que mostraram mudanças sociais extremas no futuro (como tivemos na 1ª Temporada com The Long Game, Bad Wolf e The Parting of the Ways) ou ameaças bastante presentes em momentos críticos da história. Outro fato intrigante é a presença quase impossível dos Daleks, que sempre alcançam um modo de sobreviverem às mais adversas situações. Como raça alienígena recorrente na série, temos a oportunidade de acompanhar a sua evolução ou versões, e nem é preciso ir para a Série Clássica, basta lembrarmos da primeira vez que eles aparecem na Nova Série, para o 9º Doutor; depois a mudança com o conceito de religião que eles possuem, no arco final da 1ª Temporada, e o Culto de Skaro, que aparece no episódio Doomsday.

No campo técnico, a série ainda guarda bastante coisa daqueles “efeitos B” de sua primeira versão, mas o uso de novas tecnologias permitem episódios incríveis como New Earth, The Impossible Planet e o excelente episódio final, Doomsday. Os showrunners da série permitiram que os diretores e a equipe técnica conceituassem artisticamente cada novo local de visita do Doutor e Rose, criando verdadeiros mundos para cada episódio, com destaque para a direção de arte e figurinos de New Earth e The Girl in the Fireplace.

Embora a segunda temporada seja muito boa, há dois tropeços bem incômodos na fase final, os episódios de número 10 (Love & Monsters) e 11 (Fear Her). De maneira muito absurda, principalmente no caso de Love & Monsters, onde o Doutor e Rose fazem apenas uma ponta como participação, vemos um desligamento da linha narrativa da temporada e a apresentação de duas histórias fracas e pouco atraentes (mesmo que o formato de mockumentary adotado em Love & Monsters seja bacana e o ator Marc Warren faça um bom trabalho como Elton Pope). E no outro caso, a equipe técnica ainda consegue realizar algo notável com animação em Fear Her, e o argumento desse episódio é bom e tenebroso, mas dentro desse ano da série não fez muito sentido.

E se começamos o segundo ano de Doctor Who com um novo Doutor, terminamos com a ausência de uma companheira para ele. Os acontecimentos dos dois últimos episódios são de tirar o fôlego e mostram o fim de uma bela parceria. Rose fica presa em uma Terra paralela enquanto é dada como morta na nossa Terra. Sem sombra de dúvidas o último episódio foi um dos mais emotivos da Nova Série até o momento e deu um ótimo cliffhanger para a Terceira Temporada, principalmente após o episódio de Natal, quando a noiva recusa acompanhar o Doutor em suas aventuras. Ele agora está sozinho, e embora saibamos que não por muito tempo, há um quê de saudade e prematura nostalgia nisso tudo.

NOTA FINAL: Durante essa 2ª Temporada foram produzidos pequenos curtas-metragens com cerca de um minuto de duração para cada um dos 13 episódios oficiais. Tais curtas mostram acontecimentos inéditos e ajudam a explicar ou a ampliar fatos que ocorrem durante os episódios televisionados. Esses episódios foram chamados de TARDISODES, e produzidos pela BBC unicamente para download e exibição em aparelhos móveis. O roteirista desses 13 curtas foi Gareth Roberts, e a direção de todos eles ficou a cargo de Ashley Way. A avaliação dessa temporada notificada pelas estrelinhas ao início do texto também contou com a produção dos TARDISODES.

E para finalizar, ainda nesta 2ª Temporada foi produzido um jogo online chamado Attack of the Graske. Escrito por Gareth Roberts (o mesmo roteirista dos TARDISODES), o joguinho faz do internauta um companion temporário do 10º Doutor. Trata-se de uma aventura de Natal e é bem curtinha e divertida, vale muito a pena jogar. O leitor pode acessar o jogo através deste link, e ver se consegue uma boa aprovação do Doutor. Eu tentei e não tive muito sucesso…

Doctor Who – 2ª Temporada (UK, 2006)
Showrunner: Russell T. Davies
Roteiro: Vários
Direção: Vários
Elenco: David Tennant, Billie Piper, Camille Coduri, Noel Clarke, Elisabeth Sladen, Paul Kasey, Shaun Dingwall, Maureen Lipman, Marc Warren, Freema Agyeman
Duração: 50 min. (cada episódio)

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