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Crítica | Sherlock – 1ª Temporada

por Luiz Santiago
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Nas Táticas Elementares de A Arte da Guerra, Sun Tzu afirma que “toda luta é baseada em algum truque.”. Na literatura policial, essa afirmação se encaixa como uma luva no cotidiano dos detetives, profissionais que todo o tempo estão em luta declarada contra um grupo ou um único assassino. Sherlock Holmes é com certeza um dos detetives mais conhecidos da literatura policial, que desde a sua criação em 1887, encanta leitores pelo mundo inteiro com o seu método de dedução e sua lógica dedutiva, “truques” pessoais usados na luta contra o crime.

Adaptadas para o cinema e para a televisão inúmeras vezes, as obras do médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle apresentam um grande potencial e apelo junto ao público, o que podemos comprovar nas mais recentes versões cinematográficas dirigidas por Guy Ritchie (2009 e 2011). Em 2010, a BBC apostou na popularidade das histórias detetivescas e produziu Sherlock, uma série baseada nas obras de Conan Doyle, mas com uma diferença: ambientada nos dias de hoje. A estrutura da série é de filmes (episódios) com 1h30min. de duração, o que facilita a adaptação da história e evita conclusões apressadas.

Protagonizada pelos excelentes Benedict Cumberbatch (Sherlock Holmes) e Martin Freeman (Dr. John Watson), a série alcançou um nível de excelência invejável, e alta aceitação do público, algo mais impressionante se levarmos em conta que não lidamos com uma história nova, desconhecida e pouco popular; mais ainda, conta-se aqui com o alto risco de uma descaracterização da personagem original, porque a história foi adaptada para o século XXI. Mas os temores se mostram infundados após assistirmos ao primeiro episódio, Um Estudo em Rosa (adaptado de Um Estudo em Vermelho, na obra original). Ver a Baker Street no século XXI e Sherlock Holmes usando GPS, computador e celular é um impulso a mais para gostar de série.

Os figurinos, a fotografia e a montagem são os melhores setores técnicos dessa primeira temporada. Em relação à montagem, algumas inspiradas fusões e transições de cena dão à série sua característica inovadora e dinâmica. As lentes que captam Londres em plano geral são levemente distorcidas nas extremidades, dispondo na memória do espectador o tabuleiro de uma cidade enevoada e misteriosa. Nesse contexto, a maravilhosa interpretação de Sherlock Holmes como um sociopata funcional e o seu exato oposto na pessoa de John Watson, fecham o ciclo de elementos necessários para um bom show.

Algo curioso sobre a personagem de Holmes é a sua total (e aparente) ausência de libido. Em alma, poderíamos compará-lo ao Sheldon Cooper de The Big Bang Theory, cuja racionalidade suplanta as emoções. Outro fato curioso são as leves indicações de que algumas pessoas em torno do famoso detetive suspeitam que ele seja gay. Desde o episódio piloto (que seria refilmado e alongado no episódio um), há aqui e ali uma insinuação sobre a “parceria” entre Sherlock e Watson, embora os produtores da série já tenham afirmado mais de uma vez em entrevistas que “se Sherlock for gay, e quem sabe se ele é, ele não gosta de John“. No último episódio, Watson faz piada com essa opinião comum sobre o amigo, opinião essa que Holmes não nega nem afirma – aliás, não é do tipo dele dar atenção às convenções sociais, boatos ou discussão de sexualidade, logo, essa postura é perfeitamente explicável pela composição dramática e psicológica da personagem.

Sherlock é uma série de alta qualidade, bem adaptada e transportada para os nossos dias. Com um ótimo elenco e equipe técnica, não é de se espantar que a reação do público tenha sido muito positiva, e que o seu renovo tenha sido imediato – embora a segunda temporada tenha vindo ao ar apenas esse ano (2012), dado conflitos de agenda com os atores. A série entra para a lista das melhores produções já realizadas sobre o mais incrível dos detetives da literatura policial.

Sherlock – 1ª Temporada (Reino Unido, 2010 -2011)
Criação: Steven Moffat, Mark Gatiss
Diretores: Coky Giedroyc, Paul McGuigan, Euros Lyn
Roteiristas: Mark Gatiss, Steve Thompson, Steven Moffat (baseado nos livros de Sir Arthur Conan Doyle)
Elenco: Benedict Cumberbatch, Martin Freeman, Una Stubbs, Rupert Graves, Jonathan Aris, Andrew Scott, Louise Brealey, Tanya Moodie, Zoe Telford, Gemma Chan, Vinette Robinson
Duração: 3 episódios – 90 minutos em média cada episódio + episódio extra de 55 minutos (Unaired Pilot)

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