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Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 3X10: New Life and New Civilizations

Um encerramento frágil.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Encerrar essa temporada era um desafio para Strange New Worlds. Depois de capítulos que variaram entre a comédia leve e o suspense, com muitas oscilações de qualidade, cabia ao décimo episódio dar peso e sentido a toda a jornada. New Life and New Civilizations tenta assumir essa responsabilidade sem recorrer a muletas nostálgicas do cânone clássico, como tivemos em alguns capítulos desse ano, apostando em uma trama mais original. O mérito da ambição é inegável, mas o resultado é desigual: a história apresenta ideias interessantes, mas frequentemente recorre a soluções mágicas, aceleradas e pouco desenvolvidas, que acabam enfraquecendo o impacto dramático.

A premissa tem fôlego. O retorno dos Vezda, entidades quase míticas que foram apresentadas em Through the Lense of Time, cria a atmosfera de “antigos deuses alienígenas” que Star Trek tantas vezes explorou com eficácia. O artifício de reconstruírem o corpo de Gamble a partir do buffer do transporte é intrigante, remetendo a essa dimensão quase fantasmagórica da tecnologia (estava mais interessado no conceito da criatura tomar a nave, mas tudo bem). Ao mesmo tempo, a revelação de que Batel carrega em seu DNA a chave para selar ou libertar essas entidades dá ao episódio um conflito pessoal, costurado à sua despedida iminente da Enterprise. O problema é que todos esses elementos parecem correr em paralelo, sem que a narrativa encontre tempo para explorá-los com densidade, e pela forma como tudo é explicado a marretadas para a audiência.

Um bom exemplo disso está no papel de Gamble. Anunciado como peça central do plano dos Vezda, ele mal tem tempo de existir como ameaça. Surge, engana a tripulação e logo se torna um obstáculo descartável. Falta ao episódio a coragem de transformar essa presença em um verdadeiro antagonista, alguém que pudesse simbolizar o preço da manipulação e da fragilidade humana diante de forças maiores. Em vez disso, a trama se apressa em levá-lo ao confronto final para liberar espaço ao verdadeiro foco: a despedida de Batel.

Existe algo bonito nessa trama. O sacrifício da personagem, ao assumir o papel de Beholder e condenar-se a uma eternidade como guardiã da prisão, tem carga emocional. Ainda mais quando a narrativa concede a ela e Pike uma vida inteira juntos em forma de ilusão. A montagem, que mostra casamento, filhos e envelhecimento, emociona por oferecer a Pike a vida que ele talvez nunca poderia. No entanto, como acontece em outros momentos do episódio, a cena é sustentada mais por truques visuais e pelo afeto que já nutrimos pelos personagens do que por uma construção dramática consistente. É bonito, mas soa como um atalho.

Do ponto de vista da mitologia, o episódio levanta perguntas que não responde. O que de fato são os Vezda? Como funcionam as supostas conexões genéticas que permitem trancafiá-los? O que significam os efeitos visuais de portais, prisões e estátuas que viram seres vivos? As respostas não chegam, e isso dá a sensação de que estamos mais diante de fantasia do que de ficção científica. Strange New Worlds sempre flertou com esse equilíbrio, mas aqui o pêndulo cai para o lado da conveniência narrativa, com explicações verborrágicas e sem sentido (o bloco na nave em que os personagens descobrem sobre Batel, e também a linha de raciocínio para os tiros no portais, são muito ruins).

Ainda assim, há momentos de destaque. A sincronização entre Spock e Kirk via mind meld é criativa e oferece um raro vislumbre de como essa parceria lendária começa a se formar, sem pressa e sem exagero, com um toque nostálgico no final do episódio. Também há algo de comovente no arco de Pike. A cena final, com a Enterprise partindo em direção a planetas desconhecidos, retoma o espírito de exploração, mas carrega um peso melancólico: Pike segue adiante, mas agora com uma ausência que redefine quem ele é. Vai ser interessante acompanhá-lo no próximo ano.

New Life and New Civilizations simboliza bem o que foi a terceira temporada: ousada em alguns conceitos, mas irregular na execução e sem orçamento suficiente (sério que o clímax da temporada é aquela “lutinha” entre a Batel e o Vezda?). Como final de temporada, deixa a sensação de que a história poderia render um arco em duas partes, com mais espaço para explorar as ideias sci-fi do texto a contento e desenvolver melhor os temas sobre sacrifício, prisão e transcendência. O capítulo acaba se tornando muito condensado, forçando explicações bobas e saídas de roteiro idiotas, chegando num balanço final que tem sim um nível de emoção, especialmente ao dar a Pike e Batel um adeus carregado de simbolismo, mas também reforça os limites da série em lidar com conceitos de alta voltagem filosófica e a dificuldade em abordar ficção científica com uma narrativa mais inteligente. Espero que a próxima temporada seja melhor.

Obs: com o desfecho da temporada, finalmente embarcarei numa jornada de críticas das séries antigas, se alguém tiver interessado em (re)assistir também.

Star Trek: Strange New Worlds – 3X10: New Life and New Civilizations (EUA, 11 de setembro de 2025)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Maja Vrvilo
Roteiro: Dana Horgan, Davy Perez
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Rebecca Romijn, Martin Quinn, Carol Kane, Paul Wesley
Duração: 55 min.

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