Home Diversos Crítica | Star Wars: A Máscara do Medo (Reinado do Império #1), de Alexander Freed

Crítica | Star Wars: A Máscara do Medo (Reinado do Império #1), de Alexander Freed

Jogos políticos em face da opressão iminente.

por Ritter Fan
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Minha relação com romances que expandem o universo de Star Wars não é das melhores, com grandes clássicos amados irrestritamente por todos, como a Trilogia Thrawn original, de Timothy Zahn, não conseguindo de verdade chamar minha atenção, apesar de eu reconhecer seus méritos, como minhas críticas não me deixam mentir. A melhor leitura recente que tive nessa seara foi Star Wars Visions: Ronin, obra não canônica que se passa em um universo paralelo e que amplia a narrativa do sensacional curta O Duelo, da primeira temporada de Star Wars: Visions.  No entanto, quando, na época de lançamento de Rogue One, li a “novelização” de Alexander Freed, detectei no autor uma capacidade incomum de lidar com uma temática que de outra forma seria árida, pelo que, quando soube que ele voltaria a esse universo em uma trilogia inspirada na pegada fortemente política e contida em termos de ação de Star Wars: Andor, fiquei imediatamente curioso.

E minha curiosidade valeu a pena, pois Star Wars: A Máscara do Medo, primeiro capítulo de Reinado do Império, é justamente o tipo de romance que eu aprecio em um universo tão explorado e, normalmente, pelos caminhos mais fáceis. Um resumo justo do livro é que ele provavelmente agradará quem gostou de Andor e certamente desagradará quem achou a série capitaneada por Tony Gilroy muito parada, sem ação e coisas assim. Eu afasto a certeza na primeira categoria citada porque o romance aborda, em primeiro plano, as manobras de cunho eminentemente político e apenas levemente convergentes de Mon Mothma e Bail Organa para lidar com o nascimento do Império, com a história começando três semanas depois que o Chanceler Supremo Palpatine se autodeclara Imperador e converte a República em Império, e essa pegada, na forma literária, pode ser compreensivelmente cansativa para muita gente, mesmo para aqueles que gostaram de Andor.

No entanto, Freed, pelo menos para mim, acerta no tom do que escreve e sua abordagem é empolgante do jeito que jogos políticos podem ser, especialmente porque ele consegue trabalhar duas linhas narrativas paralelas entre Mothma e Organa que são fundamentalmente diferentes, ainda que, em linhas gerais, tenham o mesmo objetivo de frear o andamento do Império em uma época em que o escopo das intenções de Palpatine ainda era completamente desconhecido. De um lado, temos a mais do que centrada e de certa forma até fria Mon Mothma usando a política para tentar passar legislação que restrinja os poderes do Imperador, algo que a obriga a começar a construir uma coalisão com os ex-Separatistas que estão prestes a ser aceitos de volta ao senado imperial, com seus crimes do passado sendo perdoados. A história de Mothma, aqui, é sem dúvida alguma a mais fortemente política no sentido estrito da palavra, com Freed trabalhando todos os meandros de uma luta legislativa pelos “corredores do senado”, algo que, com minha inábil descrição pode parecer algo cansativo, mas que o autor tira de letra e consegue criar ótimos momentos de tensão.

Do outro lado, temos Bail Organa obcecado em exonerar os dizimados Jedi da culpa pelas Guerras Clônicas, com um trabalho investigativo que tenta comprovar que a documentação utilizada por Palpatine para justificar a infame Ordem 66 fora forjada, algo que o leva a envolver-se com Saw Gerrera ainda no começo de sua resistência quase solitária contra a ditadura que se põe na galáxia. A linha narrativa de Organa é consideravelmente menos política no sentido estrito da palavra e envereda pelo lado da ação, ainda que de maneira discreta, servindo mais fortemente como uma forma de trazer Gerrera para a história, além de introduzir Soujen, um guerreiro com implantes biônicos que é uma arma dos Separatistas achada pelo jovem líder rebelde e também uma dupla de espiãs do Império. Há também a apresentação de um interessante planeta com superfície integralmente tomada por centros urbanos como Coruscant, mas que é muito mais antigo do que a capital da ex-República e que há milhares de anos fora abandonado, tornando-se uma relíquia assombrada que, por si só, merece ser explorado futuramente em outro romance focado nesse passado remoto. Em outras palavras, os eventos que gravitam ao redor do monotemático Organa tentam trazer “ação” propriamente dita ao romance, mas é importante que ninguém espere que Freed foque muito nisso, já que esse claramente não é o objetivo de sua obra.

Aliás, muitas sinopses que vi por aí indicam que A Máscara do Medo lida com o começo do Império por três pares de olhos – os de Mon Mothma, Bail Organa e Saw Gerrera -, mas isso, para ser bem honesto, não é verdade. O foco é em Mothma e Organa apenas, com Gerrera pelo menos nesse primeiro volume da trilogia prometida, tendo participação muito tímida. É mais fácil dizer que Soujen é o dono do terceiro par de olhos do que Gerrera. Mas, em todo o restante, a mais recente obra de Freed entrega o que promete, ou seja, uma história de intrigas políticas no nascedouro do Império que permite que o leitor tenha uma visão privilegiada da luta de dentro do Senado para entender o que está acontecendo e fazer o possível para frear o avanço de Palpatine, luta essa que envolve a compreensão do quão pouco os senadores, incluindo Mothma e Organa, fizeram quando tiveram chance para evitar a ascensão do mal supremo nessa galáxia muito, muito distante. Não é a leitura típica do que se espera da franquia, mas, como Andor, é justamente por isso que a obra merece destaque entre tantas que são lançadas.

Star Wars: A Máscara do Medo (Reinado do Império #1) (Star Wars: The Mask of Fear (Reign of the Empire #1) – EUA, 2025)
Autoria: Alexander Freed
Editora original: Random House Worlds
Data original de publicação: 25 de fevereiro de 2025
Páginas: 496

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