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Crítica | Alice in Borderland (mangá) – Vol. 1

E os jogos começam!

por Ritter Fan
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Como não sou um leitor assíduo de mangá, conheci Alice in Borderland primeiro por meio da adaptação em série pelo Netflix, tendo ficado fascinado com a primeira temporada. Algum tempo depois, corri atrás da obra original de Haro Asō não exatamente com o objetivo de ler os nove encadernados lançados nos EUA pela Viz Media que foram usados como padrão para o lançamento pela JBC no Brasil e que abordam todo o mangá principal (há dois spin-offs), mas sim, apenas, para saber como era o material fonte e se a transposição para a TV tinha sido feita com as sempre necessárias modificações.

Fico feliz em constatar que o primeiro volume de Alice in Borderland, reunindo os dois primeiros tankōbon do mangá originalmente serializado na revista Shōnen Sunday S, da editora Shogakukan, e que vai até o final do “jogo do cavalo serial killer” para quem viu a série do Netflix, é uma interessante abordagem sobre as dúvidas e o vazio da adolescência que arremessa três amigos sem rumo, Ryōhei Arisu, Chōta Segawa e Daikichi Karube, em uma Tóquio quase completamente vazia, o que imediatamente os leva a um estado de excitação de estar em um lugar em que eles não devem mais satisfação para ninguém e, em tese, estão livres para fazer o que bem entenderem. No entanto, claro, toda liberdade tem um preço e, nesse mundo estranho, eles logo descobrem que precisam competir em jogos mortais para sobreviver e ganhar “visas” que lhes permitem permanecer alguns poucos dias sem jogar.

É na elaboração de jogos interessantes e complexos que Haro Asō parece refestelar-se, com o primeiro, em que a trinca central se une à bela Saori Shibuki, já com experiência nessa distopia, inusitadamente combinando perguntas e respostas com flechas incendiárias e que serve para explicar a lógica (se é que podemos chamar assim) do lugar em que eles agora precisam viver. O segundo jogo é mais explicitamente violento, com dois dos jovens e mais diversos outros participantes tendo que sobreviver a um assassino com cabeça de cavalo portando metralhadoras com balas infinitas em uma arena que é um prédio de apartamentos e em que conhecemos outros personagens relevantes, a alpinista Yuzuha Usagi e o observador e calculista Shuntaro Chishiya. Em ambos os jogos, a habilidade de Arisu de compreender padrões é salientada, com o segundo jogo usando Chishiya para reiterar esse aspecto, já que ele permanece quase que o tempo todo distante, só comentando e se surpreendendo positivamente com as escolhas de Arisu.

Em termos narrativos, pouco realmente acontece nesse primeiro volume e o foco repousa mesmo na introdução a esse mundo estranho e aos personagens centrais e aos três que não necessariamente se agregam aqui a eles, mas que certamente terão funções relevantes no futuro (a julgar pela série televisiva, claro, mas posso estar enganado). É, por assim dizer, uma preparação para o que está por vir, com Haro Asō compreensivelmente mais preocupado em deslumbrar do que efetivamente trabalhar com profundidade os temas que gravitam ao redor da angústia adolescente. Falando em deslumbrar, a arte do mangaká tem ótimos e potentes momentos, especialmente quando ele se dedica a desenhar páginas inteiras e páginas duplas, seja Arisu entrando na “toca do coelho” logo no início, seja a visão de Tóquio vazia também no começo, ou outros momentos como quando vemos um prédio explodindo e, especialmente, o serial killer com cabeça de cavalo de corpo inteiro, uma imagem inegavelmente impactante e digna dos melhores filmes de horror. Por outro lado, em termos de progressão narrativa, considero os quadros de Haro Asō um tanto quanto tumultuados, por vezes até confusos e não ajuda que os balões de fala são muitos e substancialmente grandes, atravancando a fluidez e tornando esse volume 1, apesar de não especialmente longo, mais complicado de ser lido em uma sentada só (ou mesmo duas).

Por outro lado, é inegável que o começo de Alice in Bordeland reúne grandes qualidades, seja a premissa tirada de diversas outras obras famosas, de A Longa Marcha até Jogos Vorazes, passando por O Concorrente e Battle Royale, mas sem dúvida trazendo um twist e personalidade próprios, seja a engenhosidade dos jogos ou a capacidade do mangaká em lidar com a juventude moderna que luta para encontrar rumo e razão de ser. Quem sabe eu não me animo e continuo lendo a história para ver onde é que ela vai dar?

Alice in Borderland (今際の国のアリス / Imawa no Kuni no Arisu – Japão, 2010)
Contendo: tankōbon #1 e 2
Roteiro e arte: Haro Asō
Editora original: Shogakukan (Shōnen Sunday S)
Datas originais de publicação: 18 de abril e 16 de setembro de 2011 (serialização iniciada em novembro de 2010)
Editora no Brasil: Editora JBC
Data de publicação no Brasil: 02 de julho de 2025
Páginas: 336

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