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Crítica | A Última Faraó, de Iain McLaughlin e Claire Bartlett (Erimem #1)

Megalomania mitológica.

por Luiz Santiago
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Erimem é uma personagem que surgiu no Universo Expandido de Doctor Who. Originalmente apresentada em The Eye of the Scorpion, com o 5º Doutor e Peri, a personagem, filha de Amenófis/Amenhotep II (que reinou provavelmente entre 1427 e 1401 a.C. ou, segundo outras referências, entre 1427 e 1397 a.C.) passou bastante tempo viajando na TARDIS e deu asas à sua personalidade exploradora, curiosa, aventureira, sempre com ânsia de fazer justiça e conhecer novos lugares, civilizações, pessoas e culturas. Conseguindo os direitos para criar uma série literária com Erimem, a editora Thebes Publishing iniciou um grande projeto em 2015, abrindo com este A Última Faraó, trazendo, além de uma capa tenebrosa, uma história que tinha tudo para ser instigante, mas terminou corroída pela megalomania dos autores. 

O responsável pela série é Iain McLaughlin (criador de Erimem), que aqui trabalha ao lado de Claire Bartlett, autora que já tinha divido textos com o colega na excelente série da UNIT, dez anos antes. O resultado é um livrinho simples e curto que se inicia com uma promissora aura de terror, mas que rapidamente se perde numa tentativa de reinventar a roda, um verdadeiro fardo para o projeto. Por vezes, o texto se arrasta, protelando revelações que, se apresentadas mais cedo, poderiam ter enriquecido a trama. Depois, veremos o caminho contrário: uma aceleração em coisas que precisariam de mais tempo para se firmar como algo aceitável ou melhor compreensível. Essa decisão de ocultar informações evidentes acaba por desviar o foco central do livro, diluindo o impacto que a trama poderia ter alcançado com uma abordagem mais direta, especialmente na primeira parte.

Até o ponto em que a ação se desloca para a Grécia, durante a Batalha de Áccio (31 a. C.), a leitura mantém um certo encanto desencontrado. Contudo, a partir desse momento, o livro adquire uma dimensão excessivamente grandiosa, com Erimem tentando encontrar o seu caminho através de um transporte espaço-temporal gerado por tempestades de energia. A introdução de um culto empenhado em libertar uma divindade ancestral (Ash-Ama-Teseth), banida desta dimensão pelo avô de Erimem — um viajante no tempo sobre o qual não se fornecem mais detalhes –, e a inclusão de personagens secundárias da Universidade, contribuem para uma encheção contraproducente. Esta expansão sobrecarrega desnecessariamente a aventura, desviando-a do seu potencial inicial e tornando-a menos envolvente para o leitor, porque há coisa demais (e grandiosas demais) para se considerar, resolver e contornar, tudo num livro de pouco mais de 200 páginas.

É inegável que a obra possui momentos de genuíno brilho, particularmente aqueles que se centram na figura de Erimem, estudando sua capacidade de adaptação, personalidade forte, bravura inata e história pessoal. A relação estabelecida com Ibrahim, o historiador, é igualmente notável, desenvolvendo-se de forma cativante desde o primeiro encontro. No entanto, estes pontos positivos são gradualmente enfraquecidos pelo ambicioso. A grandiosidade do plano, que envolve personagens como Marco Antonio e Cleópatra, além de batalhas históricas, viagens no tempo e uma série de complicações narrativas, parece desnecessária para alcançar resultados que, considerando a natureza da força divina em jogo, poderiam ter sido obtidos de forma mais simples. A sensação é a de que a história se expandiu para além do que era realmente necessário, perdendo a oportunidade de focar na jornada íntima dos seus protagonistas.

A Última Faraó tenta conciliar muitos elementos díspares — terror, ficção científica, drama histórico e fantasia — sem conseguir integrá-los de verdade. A premissa, focada na figura enigmática de Erimem e no mistério da sua chegada ao presente, prometia uma exploração mais íntima e focada, que se perdeu no meio de uma teia de acontecimentos grandiosos e, por vezes, inverossímeis. A força da personagem principal e a sua relação com Ibrahim são os pilares que sustentam o texto, mas mesmo estes são postos à prova pela ampla abertura de caminhos. Uma abordagem mais contida, que valorizasse a profundidade em detrimento da amplitude, teria resultado em algo capaz de explorar com maior eficácia as ricas possibilidades inerentes à sua protagonista e ao seu universo. Uma pena.

Erimem: A Última Faraó (The Last Pharaoh) — Reino Unido, 9 de junho de 2015
Autores: Iain McLaughlin e Claire Bartlett
Capa original: Paul Mudie
Editora original: Thebes Publishing
202 páginas

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