A situação já é conhecida na indústria do entretenimento. Uma produção ponto de partida ganha admiração e funciona com a audiência e logo os envolvidos no projeto resolvem encomendar uma sequência, mesmo que a sua história não possua pertinência alguma para existir. Este é o caso de A Volta do Padrasto, lançado em 1989, continuação de O Padrasto, de 1987, narrativa que embora não tenha alcançado o status de um filme grandioso, obteve sucesso comercial e conquistou algumas críticas favoráveis, o que justificou a produção deste novo capítulo. Sob a direção de Jeff Burr, o longa apresenta Terry O’Quinn novamente no papel do psicopata Jerry, que, após escapar de um manicômio, se reinventa como conselheiro matrimonial em outra cidade. Apesar de manter a premissa do filme original, a sequência se destaca pelo seu enredo previsível e pela falta de inovação, refletindo uma produção irregular que carece de coesão e originalidade, resultando em uma experiência cinematicamente insatisfatória. Um festival de situações risíveis se estabelecem, com pouquíssimos bons momentos para considerar.
O roteiro, escrito por Carolyn Lefcourt e Brian Garfield, apresenta uma narrativa que reitera a fórmula do filme anterior. Jerry, agora apresentando uma fachada de homem dócil e atencioso, se infiltra na vida de Meg Foster, interpretada por Carol Grayland. Embora a ideia de um psicopata se disfarçando como conselheiro matrimonial tenha potencial para explorar temas de vulnerabilidade e manipulação, a execução falha em desenvolver uma trama envolvente. Ao longo de seus 93 minutos, a narrativa torna-se repetitiva, com situações previsíveis e diálogos fracos. A falta de novos elementos e a abordagem superficial das motivações das personagens deixam a desejar, exigindo do espectador uma dose exagerada de suspensão da descrença para se manter interessado no festival de clichês que se desenrola.
A dinâmica de suspense, que poderia ter sido a alma do filme, é comprometida por um enredo frágil e previsível. Quando Jerry, em sua nova vida, começa a perder o controle e ser desmascarado, a transformação de personalidade se revela abrupta e exagerada, algo ao estilo O Médico e o Monstro. A culminância em uma saga de violência familiar dá a entender uma tentativa de abordar as consequências dos atos do protagonista, mas a representação é tão exagerada que falha em criar a seriedade que um tema tão delicado requer. Ao invés de provocar uma reflexão sobre a natureza do mal e as traições que se desenrolam no seio familiar, a história se afunda em clichês que fazem com que cada reviravolta pareça forçada e insincera.
Embora a atuação de Terry O’Quinn traga alguma dignidade ao filme, sua interpretação de Jerry não é capaz de salvar um roteiro mal construído. Enquanto a trilha sonora de Jim Manzie e Pat Regan tenta estabelecer uma atmosfera angustiante, e a direção de fotografia de Jacek Laskus oferece alguns momentos visualmente criativos, isso não é suficiente para transformar A Volta do Padrasto em uma obra memorável. A cena final, centrada em uma festa de casamento, embora trate de uma dinâmica metafórica da violência, não se desenrola de maneira eficaz, culminando em um fechamento que parece mais uma tentativa frustrada de atender às expectativas do público do que uma conclusão satisfatória da narrativa. Em linhas gerais, uma continuação desencorajada que revela a falta de criatividade e inovação na construção de histórias de terror e suspense, colocando em evidência a importância de uma abordagem mais cuidadosa e original em sequências cinematográficas.
Mais uma trama que sofre com a maldição das continuações. Até que suportável de se assistir, mas não possui, como mencionado, o vigor necessário para ser minimamente memorável.
A Volta do Padrasto (The Stepfather II/EUA, 1989)
Direção: Jeff Burr
Roteiro: Carolyn Lefcourt, Brian Garfield
Elenco: Terry O’Quinn, Caroline Williams, Meg Foster, Henry Brown, Jonathan Brandis, Mitchell Laurance, Miriam Byrd-Nethery, Leon Martell, John O’Leary
Duração: 93 min.
