- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e de toda a franquia Alien.
Era absolutamente essencial sabermos dos detalhes do que aconteceu na USCSS Maginot a ponto de um episódio inteiro ser dedicado a isso? Certamente que não. Afinal, tudo o que há de novidade em No Espaço, Ninguém…, que basicamente muda a forma como encaramos o ciborgue Morrow, poderia ser muito facilmente abordado de outra forma. No entanto, a grande verdade é que Noah Hawley podia e queria fazer o episódio do jeito que fez e, tenho para mim que, lá atrás, no pitch da série, o quinto capítulo da temporada foi usado como uma forma de os executivos do estúdio toparem o projeto. E o resultado não só é sensacional, como é, também, o terceiro melhor “filme” da franquia com bastante folga, com o showrunner, que também roteiriza e dirige o episódio, recriando o primeiro longa na forma de um média metragem, só que com assinatura própria e sempre – SEMPRE! – respeitando a construção imagética clássica.
Em termos de inserção na temporada, o momento foi perfeito, criando uma pausa entre os horrores que vimos em Observação e a mudança de estratégia de Morrow para recuperar os espécimes lá da Terra do Nunca, que deve significar uma invasão com um destacamento armado até os dentes da Weyland-Yutani liderado pelo ciborgue. Em termos de direção de arte, figurinos, design de produção, No Espaço, Ninguém foi um delicioso e nostálgico retorno ao filme de 1979 que, pelo menos durante a metade de sua duração, tem o exato mesmo tipo de ritmo e atmosfera, apressando-se talvez um pouco demais na segunda metade, o que imediatamente me fez pensar que o episódio deveria ter tido a duração de um longa-metragem e, mais ainda, merecia passar no cinema tamanha sua qualidade. Havia espaço para mais exploração dos alienígenas novos e havia também espaço para uma abordagem um pouco mais lenta e profunda de pelo menos alguns dos membros da tripulação, especialmente Zoya Zaveri (Richa Moorjani), a oficial executiva que assume o cargo de comandante já no início da crise.
Mas, independente do que o episódio poderia ter sido, o que ele é mais do que cumpriu sua função de reprisar Alien, O Oitavo Passageiro com o molho de Hawley, molho esse que inclui um tripulante sociopata que tem o hábito de se masturbar diante de uma das mulheres em criogenia, um aprendiz de engenheiro que claramente não tem ideia de como o mundo funciona, uma oficial de ciência irresponsável e, claro, uma oficial executiva transformada em capitã que não tem a menor capacidade de assumir a função. Some-se a isso um sabotador comprado por Boy Kavalier e criaturas novinhas em folha para causar o caos e pronto, tem-se a tempestade perfeita que nem a frieza de Morrow consegue minimizar, obrigando-o a tomar medidas extremas para salvaguardar a prioridade máxima de sua missão.
A grande jogada, porém, é justamente o estudo de personagem que Hawley faz de Morrow que, antes, víamos como um ciborgue monotemático e obsessivo e que, agora, ganha fascinantes nuanças, como o sofrimento por uma filha na Terra falecida em um incêndio durante sua viagem pelo espaço e sua real intenção inicial, mesmo com a diretiva de Yutani, de tentar salvar a vida da tripulação, com direito a breves momentos de empatia pelas mortes que ocorrem, além de absoluta aversão tanto por atos nojentos como o de Teng (Andy Yu), como pela relação amorosa contratualmente condenada entre Zaveri e Bronski (Max Rinehart). Na verdade, mais do que isso, aquela imagem do que é um ciborgue em filmes de ficção científica é completamente relativizada aqui, já que, em essência, Morrow é um humano com partes cibernéticas e não o contrário, o que o distancia e muito de Ash, o demoníaco sintético vivido por Ian Holm. Sim, Morrow tem uma dívida de vida com o clã Yutani e sim, a descoberta de que a morte de seus colegas e a destruição da Maginot se deram em razão de Kavalier transformam sua missão de recuperação de bichos escrotos absolutamente pessoal, mas é justamente por isso que sua humanidade se sobressai tanto com Babou Ceesay encontrando o exato equilíbrio entre máquina fria e humano sofredor.
E, claro, o uso das criaturas à bordo da Maginot foi genial. Hawley deixou o xenomorfo no banco de reservas até quase o final para focar nos pequenos, mortais e altamente inteligentes bichos, seja o sugador de sangue que sabe abrir jarras ou o preferido de todos (porque sim, ele é o preferido de todos, não?), o polvo zoiudo que até tenta avisar Chibuzo (Karen Aldridge) do carrapato demoníaco e, vendo oportunidade, escapa de sua própria prisão, toma controle de Shmuel (Michael Smiley) e se mostra um simbionte capaz de criar problemas para o xenomorfo. E, lógico, o bom e velho xenomorfo ganha seu destaque nos minutos finais (que pena que Hawley não o mostrou destroçando Teng…) para, então, criar a conexão com a cena que vimos – e que ganha contexto completamente diferente agora – de Morrow deixando Zaveri para trás para garantir ao máximo sua sobrevivência de maneira que a missão possa ser cumprida.
No Espaço, Ninguém… é, basicamente Cinema na TV e, só reiterando o que disse antes, eu realmente acho que, se Hawley inserisse mais algumas sequências aqui e ali para pelo menos fazer o capítulo chegar a 90 minutos (mas poderia ser mais!), a Disney teria em mãos um lançamento cinematográfico de qualidade. Mas eu também ficaria satisfeito com a Versão do Diretor do episódio sendo lançada em streaming quando a temporada acabar. Agora é aguardar a reta final para ver como Morrow fará para cortar o pescoço do “Menino Prodígio”…
Alien: Earth – 1X05: No Espaço, Ninguém… (Alien: Earth – 1X05: In Space, No One… – EUA, 02 de setembro de 2025)
Desenvovimento: Noah Hawley
Direção: Noah Hawley
Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Babou Ceesay, Samuel Blenkin, Sandra Yi Sencindiver, Richa Moorjani, Amir Boutrous, Karen Aldridge, Michael Smiley, Jamie Bisping, Andy Yu, Max Rinehart, Enzo Cilenti, Tom Moya, Victoria Masoma, Tanapol Chuksrida
Duração: 66 min.
