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Crítica | And Just Like That: Um Novo Capítulo de Sex and The City – 3ª Temporada

O fechamento digno da jornada das icônicas personagens televisivas.

por Leonardo Campos
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Com extenso legado e impacto cultural, Sex and The City atravessou diversas fases desde que ganhou a televisão em sua primeira temporada, lá em 1998. Primeiro, foram as suas seis temporadas, encerradas em 2004. Segundo, a sequência de dois filmes irregulares, mas ainda assim, grande sucesso de público. Depois, tivemos uma série de duas temporadas sobre a juventude da protagonista Carrie Bradshaw, seguida do renascimento das histórias na atual And Just Like That: Um Novo Capítulo de Sex and The City, jornada encerrada em sua terceira temporada. Apesar de ser um grande admirador deste universo, confesso que o último ciclo é o mais morno de todos, mas compreensível, afinal, longe de querer “passar pano” como se diz no popular, os doze episódios que pavimentam o desfecho desta caminhada para Carrie, Charlotte e Miranda apresentam histórias mais tranquilas, sem grandes arroubos dramáticos, mesclando comicidade e questões sérias para versar sobre a fase madura das protagonistas que já vivenciaram muitas peripécias pessoais e profissionais ao longo de três décadas na cultura do entretenimento. Assim, a produção termina na dinâmica do “bom”, muito distante do que a maioria das críticas brasileiras determinou como “estrago”, “sem necessidade”, dentre outras classificações que considero apressadas e com falta de embasamento.

Em And Just Like That: Um Novo Capítulo de Sex and The City, a primeira temporada é marcada de forma intensa pelo luto, com a morte de Mr. Big no primeiro episódio, o que estabelece um tom melancólico para a narrativa. Carrie, que antes era a epitome da sagacidade e do humor, agora se vê imersa em silêncios e reflexões tristes. Miranda, uma das personagens mais profundas da série original, é mostrada em situações constrangedoras, envolvendo-se em um enredo com Che Diaz que parece forçado e desconectado da essência da personagem. Charlotte, por sua vez, se vê presa a uma representação de mãe perfeccionista, incapaz de se adaptar às complexidades do mundo moderno, resultando em uma caracterização que parece mais superficial do que a profundidade esperada. Visualmente, a série mantém o padrão conhecido, com figurinos belos e locações sofisticadas, destacando Manhattan como um coadjuvante importante na história. No entanto, a impressão geral é de que este encerramento da série prioriza o brilho visual em detrimento da substância narrativa. Apesar de amar a produção, não posso ser tão leviano. A presença de Cynthia Nixon, Kristin Davis e Sarah Jessica Parker em tela ainda continua bem magnética, pois são ótimas atrizes. Mas, há uma sensação de necessário encerramento de ciclo que os realizadores notaram e souberam estabelecer para evitar novas jornadas vazias e sem envolvimento.

As interações entre os personagens, que antes eram recheadas de nuances e desenvolvimento, agora parecem menos profundas, levando a uma frustração por parte dos fãs que buscaram uma continuidade mais significativa e autenticidade nas histórias de suas protagonistas. Assim, a série parece se perder ao tentar equilibrar nostalgia e inovação, resultando em um retrato das personagens que carece da complexidade que as tornou tão icônicas anteriormente. A terceira temporada de And Just Like That, por sua vez, trouxe a sensação de alívio, apresentando episódios com um fio narrativo mais coeso e envolvente. Carrie, ao concluir seu relacionamento com Aidan, demonstra uma maturidade que estava faltando nas temporadas anteriores, permitindo aos espectadores reencontrar a essência de sua personagem. Além disso, Charlotte e Harry tiveram arcos mais robustos, pois lidaram com os desafios contemporâneos da paternidade e questões de identidade, resultando em um desenvolvimento mais interessante e relevante. Essa nova abordagem ajudou a reviver dinâmicas entre os personagens, conferindo-lhes uma profundidade que havia sido negligenciada.

O maior mérito desta temporada talvez resida no tom de despedida que permeou a narrativa, levando à percepção de que a série estava consciente de que seu ciclo estava chegando ao fim. Essa consciência conferiu peso emocional nas várias das cenas finais, que anteriormente, em alguns episódios, careciam de maior profundidade. Carrie, agora sóbria e consciente, simboliza não apenas o fechamento de um capítulo em sua vida pessoal, mas também o fim de uma era na televisão. A evolução de seus personagens, acompanhada por um encerramento reflexivo, sugere uma valorização do que a série representou ao longo dos anos, estabelecendo uma conexão memorável com o público que sempre a acompanhou. Assim, a terceira temporada se solidifica como um desfecho digno e emotivo para uma saga amada. Ao longo de And Just Like That, a atualização das personagens e situações para refletir os novos tempos é uma das principais inovações, com a introdução de personagens mais diversas, como Seema, interpretada por Sarita Choudhury, e Lisa, por Nicole Ari Parker.

Essa mudança representa um passo importante em direção à inclusão, algo que a série original Sex and the City não abordava de maneira significativa. A terceira temporada demonstrou uma melhora considerável, equilibrando e modernizando suas narrativas de forma eficaz. Isso não apenas enriquece a dinâmica entre as personagens, mas também reflete questões contemporâneas de diversidade e identidade. Entretanto, essa evolução das personagens femininas levanta reflexões sobre as expectativas sociais que ainda permeiam a vida das mulheres maduras. No contexto atual, em que muitos parecem ter dificuldade em abandonar comportamentos infantis e consumistas, as mulheres na série são chamadas a assumir responsabilidades e renunciar a frivolidades associadas à juventude, como moda e relacionamentos superficiais. Essa pressão para serem sempre “evoluídas, sábias e perfeitas” parece criar uma nova forma de prisão social, que impõe padrões elevados e muitas vezes inatingíveis. Assim, a série, apesar de sua tentativa de modernização, pode inadvertidamente reforçar normas que limitam a liberdade e a diversidade de experiências das mulheres na vida real, desafiando-nos a ponderar sobre o custo dessa evolução pretendida.

Enfim, um desfecho aberto, permeado por polêmicas, mas que funciona como entretenimento envolvente e deixa debates consideráveis para os cientistas sociais.

Basta saber, agora, quando e se teremos uma nova abordagem neste universo mais adiante.

O que nos resta, neste caso, é aguardar.

And Just Like That… – Um Novo Capítulo de Sex and The City: 3ª Temporada (And Just Like That/EUA, 2025)
Criador: Michael Patrick King
Direção: Michael Patrick King, Nisha Ganatra, Gillian Robespierre, Anu Valia, Cynthia Nixon
Roteiro:
 Elisa Zuritsky, Samantha Irby, Julie Rottenberg, Michael Patrick King
Elenco: Sarah Jessica Parker, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, David Eigenberg, Willie Garson, Mario Cantone, Karen Pittman, Nicole Ari Parker, Bridget Moynohan, Neall Cunningham, Cathy Ang, Sara Ramirez, Alexa Swinton, Sarita Choudhury, Ivan Hernandez
Duração: 12 episódios (40 min).

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