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Crítica | Armadilha Para Turistas

Um slasher que funciona bem, mesmo com todas as suas limitações.

por Leonardo Campos
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As décadas de 1970 e 1980 foram bastante produtivas para o subgênero slasher. Filmes aos montes chegavam aos cinemas e deixavam as plateias cada vez mais estarrecidas. Um dos grandes problemas de boa parte destas narrativas era o ritmo, pois numa análise focada na contextualização histórico dos filmes deste segmento, me encontrei com muitas produções cansativas, amarradas, monótonas e sem dose alguma de emoção, o que não é o caso de Armadilha Para Turistas, uma trama bizarra com todos diversos dos principais elementos que compõem um roteiro slasher: mortes em sequência, jovens incautos, segredos do passado para explicação das ações do presente e uma ambientação distante dos grandes centros urbanos, por isso, perigosa e mortal para as vítimas em potencial, perdidas numa região desconhecida onde encontrarão a morte por uma perspectiva extremamente estranha. Apesar de não traçar uma lista gigantesca de corpos em seu caminho, o antagonista aqui criar toda uma penumbra de medo para deixar o suspense fervilhante e o clima soturno demasiadamente incômodo.

Sob a direção de David Schmoeller, cineasta que se guia pelo roteiro escrito em parceria com J. Larry Carroll, o slasher em questão traz um grupo de jovens que se perde numa região remota, após o pneu do carro furar por alguma armadilha indevida coloca na estrada por onde passam. Enquanto a maioria fica concentrada num determinado ponto, um deles vai atrás de apoio e acaba encontrando um monte de bonecos de cera estranhos, manipulados de maneira como nunca visto antes, um espetáculo bizarro que culmina em sua morte. Depois dele, é questão de tempo para que os demais sejam perseguidos e massacrados por estas figuras, em especial, o mais movimentado deles, uma criatura que corre, persegue e aniquila sem pensar duas vezes, trajado e postado em cena como uma espécie de releitura de Leatherface, uma das grandes inspirações para o filme que tem diversos traços do clássico O Massacre da Serra Elétrica.

Tudo em Armadilha Para Turistas é cuidadosamente construído para criar estranhamento. É uma narrativa slasher envolvente, responsável por nos deixar curioso para o que acontecerá em seu desfecho, mesmo que já saibamos mais ou menos quem está por detrás dos crimes. Nicholas von Sternberg entrega uma assertiva direção de fotografia,  o que permite ao filme o estabelecimento de um clima soturno, cheio de luzes e sombras assustadoramente em contraste. É um clima potencializado pela trilha sonora sempre angustiante de Pino Donaggio, um dos grandes colaboradores de Brian De Palma e marca expoente dos filmes vinculados ao giallo. A cenografia oriunda do design de produção de Robert A. Burns também é bastante importante para o filme chegar aos resultados esperados, produção que ainda conta com os figurinos de Karen Stern para fazer os personagens perseguidos e nós, diante das máscaras macabras, suarmos todos, temerosos diante do tom macabro da narrativa que envelheceu bem.

Depois do desaparecimento de Woody (Kath McDermott), acompanhamos a jornada de Euleen (Robin Sherwood), Molly (Jocelyn Jones) e do casal Becky (Tanya Roberts) e Jerry (Jan Van Ness). Eles aguardam no falido resort do Sr. Slausen (Chuck Connors), um homem pacato que comanda o local e logo revelará as suas pretensões com a chegada do grupo. Tributário da história de Leatherface, Armadilha Para Turistas é mais um dos slashers que subvertem o imaginário das pinturas de Norman Rockwell para demonstrar que o grande problema da sociedade estadunidense é a estrutura familiar que nem de longe é tradicional e harmoniosa como idealizado pelo american way of life. Uma traição entre esposa e irmão cria todo um espiral de horror que transtorna mente e cria monstros, colocando quem passa por perto em perigo. Em seu desfecho, talvez alguns segundos de corte teriam deixado o encerramento da narrativa mais interessante, mas o que acompanhado até então é satisfatório.

Armadilha Para Turistas (Tourist Trap, EUA – 1979)
Direção: David Schmoeller
Roteiro: David Schmoeller, J. Larry Carroll
Elenco: Chuck Connors, Jocelyn Jones, Jon Van Ness, Robin Sherwood, Tanya Roberts
Duração: 90 min.

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