Há filmes que chegam como confidências, não como espetáculos. As Vantagens de Ser Invisível é um desses raros relatos visuais em que a adolescência não é apenas palco de dramas, mas um terreno sensível, onde cada gesto parece carregar o peso do mundo. Adaptado e dirigido por Stephen Chbosky, o filme é um mergulho íntimo nas fragilidades de crescer, e nisso reside sua força. A direção de Chbosky merece atenção especial. Com pouca experiência em cinema, à época, ele conduz o longa com a delicadeza de quem conhece as dores que está retratando. Ao escolher um estilo subjetivo, cria uma atmosfera que quase suprime o olhar externo: estamos dentro de Charlie. Essa escolha estilística, com o uso constante de planos fechados, a cadência emocional das cenas e os silêncios cuidadosamente posicionados, revela não apenas uma abordagem sensível, mas uma linguagem visual que conversa com o universo interior do protagonista. É uma técnica que lembra, por exemplo, ao que Richard Linklater faz em Boyhood, onde a câmera acompanha os gestos cotidianos para captar o invisível do amadurecimento.
A instabilidade emocional de Charlie é moldada por pequenos gestos: hesitações, desvios de olhar, respirações entrecortadas. E a direção respira junto. Não há pressa em acelerar sua recuperação nem em explicar suas dores. A montagem evita cortes bruscos e prioriza um ritmo melancólico, introspectivo, quase literário. Nesse sentido, há pitadas da construção narrativa de As Virgens Suicidas, de Sofia Coppola, onde a idealização juvenil encontra um pano de fundo inquietante e doloroso. Mas, se Coppola fala de ausência e mistério, Chbosky escolhe a exposição gradual: Charlie é um mistério que se revela aos poucos, como um diário lido em voz baixa. As incertezas que atravessam os personagens, e não apenas Charlie, são mostradas com uma abordagem que escapa do estereótipo juvenil. Sam, vivida com sinceridade por Emma Watson, está às voltas com escolhas que não parecem ter respostas definitivas. Patrick, interpretado por Ezra Miller com uma energia que beira o trágico, vive uma espécie de revolução pessoal em meio ao preconceito e à autocensura. Os três existem em estado de transição e a direção acerta ao não dar soluções fáceis. O crescimento, aqui, não é linear, tampouco romântico. É feito de idas e voltas, erros e hesitação.
No centro disso tudo está a trilha sonora, usada com discrição e propósito. Heroes, de David Bowie, não é apenas uma música inserida para causar impacto; ela funciona como metáfora visual e narrativa. Bowie a escreveu em sua fase de Berlim, em busca de reconstrução, e essa canção marca o momento em que Charlie deixa de se observar à distância e escolhe, mesmo com medo, viver. Mesmo com algumas falhas, como a narração em off que por vezes sublinha demais o que já foi dito pela imagem, As Vantagens de Ser Invisível escapa dos clichês por sua honestidade formal e emocional. É uma obra que acolhe as incertezas dos espectadores e não tem pressa em curá-las. Muito mais que uma história sobre juventude, é uma carta aberta sobre a necessidade de ser visto… mesmo que isso signifique expor as feridas.
As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower) – EUA, 2012
Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Stephen Chbosky
Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Mae Whitman, Paul Rudd, Nina Dobrev, Dylan McDermott, Kate Walsh, Melanie Lynskey, Joan Cusack, Johnny Simmons, Nicholas Braun, Julia Garner, Erin Wilhelmi, Tom Savini, Reece Thompson, Patrick de Ledebur, Owen Campbell, Adam Hagenbuch, Jennifer Enskat
Duração: 102 min.
