Home TVEpisódio Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X08: Bala da Morte

Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X08: Bala da Morte

por Kevin Rick
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Bala da Morte

  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Eu também… não vi. Bala da Morte

– Gabi

Esse episódio se mostrou algo completamente inesperado para mim. Logo de cara, confesso que achei o início um tantinho anticlimático, apesar de fazer sentido dentro da situação emocional do Reiner e do desgaste físico de Eren, mas fiquei com uma certa pontinha de desapontamento por não ver a revanche mais destrinchada, que certamente (espero) acontecerá posteriormente – ainda que não veja a luta nem de longe justa, considerando o absurdo power up do protagonista. E não só o embate inicial do oitavo episódio, mas toda a narrativa de Bala da Morte foi na contramão do épico para trabalhar uma trama de revelações, elaborações e dilemas, vários dilemas.

Dentre eles, algo que foi pontuado esporadicamente durante as batalhas anteriores, temos a hesitação do nosso grupo principal de Paradis. A direção trabalha a tristeza com muito foco nos seus rostos e olhares melancólicos, e, pelo menos para mim, o laço construído entre o espectador e esses personagens faz o resto. Me senti bastante acometido com alguns desses olhares, especialmente os de Armin para Eren, uma mistura de decepção, entendimento e pena, assim como o momento de ternura entre Connie, Sasha e Jean, que ganha um tremendo significado no fim do episódio após… você sabe.

E saindo momentaneamente do nosso núcleo de protagonistas, temos o grande nome do episódio: Gabi. Aposto que desfiles de ódio e praguejamentos online estão sendo feitos para a personagem, com uma legião de fãs do anime se unindo ao grupo de indignados que leem o mangá. Definitivamente não faço parte desse coletivo, a despeito de entender o sentimento, que, de certa forma, é o intuito de Isayama. Contudo, existe uma tremenda série de camadas já conhecidas do anime construídas no arco de Gabi que a tornam uma das mais interessantes integrantes da obra. Muitos deles são temas batidos que já disse múltiplas vezes como perspectiva, o seu paralelo com Eren, a forma como o ambiente e a educação marleyana “escravizou” mentalmente essas crianças, e por aí vai.

Todos são, como sempre, bem construídos, porém, a parte que mais me intrigou é o diálogo entre ela e Falco, no qual ele explicita que não é necessariamente um ataque de Paradis, e sim uma retaliação, e para não me estender muito, ela pergunta se Falco presenciou a situação descrita, pelo qual ele responde negativamente, e ela diz, como está no início do texto, que também não viu. Isso pode significar que Gabi não acredita na veracidade dos fatos por não ter visto, contudo, acredito que a ideia do roteiro é mais complexa que essa, navegando na decisão consciente de Gabi que odeia um inimigo, e o vê como diferente e maligno, apesar de saber que sua nação incitou tais acontecimentos. Não existe racionalização, apenas ódio e instinto, o que resume muito bem a guerra e os conflitos entre Marley-Paradis. E a dualidade de Falco com os flashbacks da visão, digamos, “madura” de Eren do combate, elabora o interessantíssimo núcleo da jornada e relacionamento das duas crianças.

E o resultado da fúria de Gabi nos arrebate emocionalmente ao vermos Sasha estirada no chão. Assim como Gabi, muitos decidiram ignorar, mesmo “vendo” toda a narrativa se desenrolando, escolhendo o rancor para com a infante. E não estou criticando tal sentimento, mas exaltando como o roteiro, em um artifício até metalinguístico, é capaz de proporcionar esse jogo mental e emocional com o espectador. Infelizmente, para termos este acontecimento, tivemos que perder uma personagem querida, em uma sequência apreensiva, tocante e simplesmente destruidora na minha opinião. Ademais, dentre as reações comoventes, é preciso falar sobre Eren. O comportamento do protagonista na 4ª Temporada vem sendo respaldado por uma personalidade calculista, fria e genocida, o que torna sua resposta à morte de Sasha um viés de alívio por ver um reflexo humano, mas também te faz pensar nos caminhos cada vez mais sinistros que ele tem tomado.

A trama também trabalha um teor meio político, com uma rachadura na hierarquia e dinâmica dos personagens. Descobrimos que Eren manipulou Paradis ao ataque, o que transforma completamente seu relacionamento com o grupo, afinal, foi uma chacina “obrigada”. Isso tira o ideal de líder geral que imaginava, e propõe um mote de facções sendo criado na nação Eldiana. A conduta raivosa e relutante de Levi, o impacto da morte de Sasha, a festividade dos soldados eldianos, o soldado misterioso, e, principalmente, a traição de Zeke corroboram a inicialização de um arco de divergentes visões táticas e políticas em Paradis. Aliás, a mudança de lado do Titã Bestial abre um leque de situações interessantes na narrativa, desde sua dinâmica com Levi, o relacionamento com Eren, o choque de Gabi e Falco e o seu papel na história geral.

Flertei bastante com uma nota máxima para este episódio, pois não vejo nenhum problema que detraia a experiência, e tudo que ele se propõe a fazer, o faz com êxito primoroso. É mais um sentimento pessoal meu, ou enjoeira do crítico se quiserem colocar dessa forma (he, he). Ainda assim, Bala da Morte configura um divisor de águas na construção narrativa de Attack on Titan, provocando aqueles dilemas que estamos acostumados de modo súbito e emocionante, enquanto elabora bastante elementos para situações futuras. Um episódio importante, revelador e, mais do que tudo, trágico.

Attack on Titan – 4X08: Bala da Morte (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 凶弾 Kyōdan, Japão, 01 de fevereiro de 2021)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Hidetoshi Takahashi, Lie Jun Yang, Yōsuke Yamamoto
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco:  Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura,  Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min.

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