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Crítica | Balada de um Jogador

Melhor passar.

por Ritter Fan
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É difícil reconhecer algum traço de Edward Berger em Balada de um Jogador. Depois de se revelar ao mundo em 2022, com Nada de Novo no Front, filme que, dentre outras premiações, concorreu a nove estatuetas do Oscar, abocanhando quatro, inclusive a de Melhor Filme Internacional, seguido por Conclave em 2024 que concorreu a oito estatuetas, incluindo a de Melhor Filme e Melhor Diretor, levando a de Roteiro Adaptado, o cineasta alemão embarcou em um projeto de escopo reduzido estrelado por Colin Farrell como um homem viciado em jogo que se passa por lorde britânico em Macau onde se esconde gastando os últimos centavos que tem em suítes luxuosas, muita bebida e apostas irresponsáveis e que tem uma chance de redenção. Acho ótimo um diretor ainda sem uma filmografia muito grande tentar coisas novas e acho melhor ainda ele não se prender a um estilo ou a um tipo de filme, mas chega a ser desconcertante o resultado aqui.

Farrell até está bem como um homem em processo avançado de autodestruição, ainda que, pelo menos em termos comparativos em obras tematicamente semelhantes, seu colega Nicolas Cage tenha feito muito melhor em Despedida em Las Vegas e a direção de fotografia de James Friend, que levou o Oscar dessa categoria por Nada de Novo no Front, é vistosa, com cores fortes, quase surreais, criando uma atmosfera de inferno na Terra para o protagonista. Mas os elogios param por aí, já que a participação do outro grande nome do longa, Tilda Swinton, é diminuta e nada realmente especial e o roteiro de Rowan Joffe, baseado em romance de Lawrence Osborne não passe de uma concentração de clichês do gênero costurados juntos sem muito rigor, já que tudo serve ao propósito único de oferecer oportunidades para Lorde Doyle (Farrell) cometer seus excessos, algo que ganha alguma suavização somente quando a funcionária de cassino Dao Ming (Fala Chen) entra na história para levar o protagonista para um outro caminho, mesmo que a história continue dependendo de tropos narrativos cansados e utilizados de maneira robótica.

Quantas vezes precisamos ver Doyle levantar só a beirada de suas cartas com luvas de couro amarelo que ele diz ter comprado em Saville Row? E quantas vezes precisamos ver o personagem ou completamente bêbado ou se empanturrando de todo o tipo de comida como se fosse um troglodita que não come há semanas? Joffe escreve um roteiro tão repetitivo, que tudo acaba sendo telegrafado. Eu, que tenho desprezo por filmes que se valem da tão desejada “imprevisibilidade” para funcionar, tenho mais desprezo ainda por diálogos e situações que telegrafam em detalhes tudo o que vai ocorrer em seguida. E não, não há contradição nesses meus desprezos, pois um filme em que os acontecimentos ocorrem de maneira lógica a partir do que foi mostrado antes não precisa ter esses acontecimentos anunciados quase que literalmente. E Balada de um Jogador faz isso inclementemente o tempo todo, seja na primeira metade com Doyle se destruindo em velocidade vertiginosa e sendo caçado por Cynthia Blithe (Swinton), seja na segunda metade em que a conexão dele com Dao Ming é fortalecida. É quase como se o filme parasse, Farrell olhasse para a câmera e falasse algo como “e, agora, veremos isso, isso e aquilo acontecer, ok?”, como aquele amigo chato que já viu o filme e fica do seu lado estragando todos os momentos importantes da obra.

E não é de forma alguma um problema que recaia exclusivamente no colo de Berger. O material é insosso ou, pelo menos, a adaptação feita por Joffe é, pois não li o livro para poder estabelecer uma comparação, o que leva a uma dependência imagética com o trabalho de Friend que, como já disse, é bom, mas não é isso tudo e entrega para Farrell e Swinton papeis de uma nota só, caricatos, exagerados, histriônicos e que esgotam a novidade muito rapidamente. Não tem filme que fique de pé dessa maneira, por mais talentoso que possa ser um cineasta, o que Berger definitivamente é, ainda que, aqui, tenha se mostrado sem inspiração para além de alguns maneirismos de câmera que são mais teatrais do que algo usado para contar a história sendo proposta, por vezes até chamando atenção demais para si mesmo, o que dificulta a imersão no drama de Doyle.

Mas isso faz parte. Edward Berger apenas apostou suas fichas erroneamente, o que acontece nas melhores famílias. Afinal, são raros – muito raros – os diretores que acertam sempre e todo mundo tem o direito de dar uma derrapada feia uma ou duas vezes na carreira. É só uma pena que Balada de um Jogador venha tão cedo na carreira do cineasta, quando ele vinha ganhando tração, já que ele talvez merecesse mais alguns grandes acertos antes de tropeçar e cair escadaria abaixo. Fica a torcida para que ele não fique sem cacife para novos projetos e que quebre a banca mais uma vez em futuro próximo.

Balada de um Jogador (Ballad of a Small Player – Alemanha/Reino Unido, 2025)
Direção: Edward Berger
Roteiro: Rowan Joffe (baseado em romance de Lawrence Osborne)
Elenco: Colin Farrell, Fala Chen, Tilda Swinton, Deanie Ip, Alex Jennings, Alan K. Chang, Jason Tobin
Duração: 102 min.

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