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Crítica | Batman Ninja vs. Liga Yakuza

Confusão ninja.

por Luiz Santiago
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Sete anos depois do ótimo Batman Ninja ter polarizado público e crítica com sua abordagem diferentona do Cavaleiro das Trevas (disse e repito: quem não gostou deste filme está errado!), Junpei Mizusaki e Shinji Takagi retornam com uma continuação que aumenta tanto os acertos visuais quanto os poucos tropeços estruturais do original. Animado pela Kamikaze Douga e YamatoWorks, Batman Ninja vs. Liga Yakuza abraça uma fusão temporal ainda mais ambiciosa: um dia depois de retornar do Japão medieval, a Batfamília descobre que o Japão contemporâneo desapareceu e uma ilha gigante chamada “Hinomoto” aparece no céu de Gotham City. Já é um princípio narrativo perigosíssimo, que abre as portas para o texto desnecessariamente confuso que toma conta dos 15 primeiros minutos do anime, tentando explicar um plano que até poderia convencer se o seu idealizador, como veremos mais adiante, tivesse alguma real motivação e um princípio de execução coerente. 

Desde as sequências iniciais, quando incontáveis Yakuza descem (ou caem?) dos céus para supostamente meter o terror em Gotham City, o roteiro de Kazuki Nakashima bombardeia o espectador com camadas de explicações truncadas e mistérios que parecem muito mais interessantes na teoria do que se mostram no decorrer da fita. Cada reviravolta temporal, cada apresentação de personagem e cada mudança de cenário vem acompanhada de falas explicativas que interrompem o fluxo natural da narrativa e, em vez de mostrar direto o que é importante, perde tempo palestrando para o público. Essa dependência de frases confusas e descrição de planos mirabolantes transforma o que deveria ser uma série de descobertas orgânicas em relatórios forçados, prejudicando o envolvimento emocional do espectador, principalmente quando o insuportável Ra’s al Ghul está em cena. O momento em que Diana explica o funcionamento de Hinomoto para Batman e Robin é exemplar desse problema: cinco minutos de pura exposição, onde os personagens ficam parados ouvindo informações que poderiam ser mostradas de forma mais dinâmica. Pior ainda é quando Ra’s aparece no final para revelar seu grande plano mestre. Compare isso com o Coringa do primeiro filme, que nem precisava explicar muito para ser ameaçador e terá uma visão clara da queda de qualidade.

O núcleo da trama gira em torno da Liga Yakuza, versões corrompidas da Liga da Justiça (vai vender mais bonequinhos ou não?) que dominam este Japão alternativo. Os primeiros três membros da Liga Yakuza que a Batfamília encontra são Raio Esmeralda (Jessica Cruz/Lanterna Verde), o segundo em comando, Dragão da Água (Aquaman) e Pés Ligeiros (Barry Allen/Flash). Muito parecido com o Sindicato do Crime da Terra-3, cada chefão dos Hagane são variantes multiversais de Superman (Kuraku), Lanterna (Zeshika), Flash (Bari) e Aquaman (Ahsa). Embora a ideia de confrontar o Batman com versões criminosas de seus aliados seja conceitualmente interessante, apesar de nada original, a execução permanece superficial… quase boba. Os personagens são apresentados mais como figuras de ação com mudanças cosméticas do que como interpretações genuinamente perturbadoras dos heróis conhecidos, talvez com exceção de Kuraku, que, no geral, está muito bom nessa nova configuração vilanesca, provavelmente inspirado no estilo do Superboy dos anos 90.

A despeito dos impasses narrativos, é preciso elogiar a direção artística do filme, pelo cuidado visual e cultural empregado. Entre os chapéus sandogasa, guarda-sóis e outros artefatos culturais, a equipe de produção veste os personagens em estilos yakuza modernos e usa o cenário de um japão mesclado de estilos para desenvolver a aventura. A capa de Kuraku é um manto vermelho, usando óculos intimidantes e uma camiseta casual com o escudo ‘S’. Diana (Mulher-Maravilha) e Zeshika usam quimonos yakuza personalizados, enquanto Harin (Harley) usa um uniforme sukeban estilizado. A textura que, em algumas cenas, simula papel tradicional e o cel shading 3D oferecem uma identidade visual distinta que honra tanto a estética anime quanto elementos da cultura japonesa contemporânea. Animações criativas em 2D e 3D do tipo kamishibai acompanham as exposições quase constantes do filme. Isso inclui homenagens inesperadas, mas que me fizeram gargalhar, ao Science Ninja Team Gatchaman e um solo musical de City Pop bizarro, arrancado direto de um anime dos anos 80 ou um karaokê qualquer. Embora esses momentos demonstrem criatividade e humor autocrítico, eles também destacam a inconsistência tonal que permeia toda a produção, carente de equilíbrio.

Toda essa riqueza visual, no entanto, não consegue mascarar as deficiências estruturais do longa. O tal “origami temporal” criado por Ra’s al Ghul usa uma versão avançada da Quake Engine para dobrar realidades à vontade, mas sua funcionalidade nunca é adequadamente integrada à progressão da história, sem contar que, na real, não há nenhuma motivação convincente para Ras fazer o que está fazendo. O vilão criou uma história alternativa onde o Japão é governado por clãs yakuza e a Liga da Justiça foi importada como figuras alternativas, tudo bem. O conceito, contudo, funciona como simples isca para justificar os confrontos espetaculares (e sim, exceto as lutas com Ras, todas as cenas de porradaria aqui são, no mínimo, boas). A questão é que cada confronto acontece isoladamente: Batman enfrenta Kuraku, os Robins duelam com Flash, Mulher-Maravilha briga com Aquaman, mas essas batalhas não se conectam numa progressão dramática coerente. É como assistir episódios avulsos de uma série, onde cada luta resolve seu micro-conflito sem impactar o todo, exceto no bloco final.

Batman Ninja vs. Liga Yakuza é o famoso “puro suco” da oportunidade perdida. Sua força visual imensa, que combina tradições artísticas japonesas com técnicas modernas de animação, cria momentos de genuína beleza estética e até incita o espectador para aquele bloco dramático. A interpretação dos personagens DC através da lente cultural yakuza até mostra criatividade e ousadia conceitual, e recebe ótima dublagem de todo o elenco, especialmente nos casos de Batman e Superman. O problema é que essa ambição criativa não encontra correspondência na construção narrativa, que permanece refém de conveniências roteirísticas, desenvolvimento superficial de personagens e estrutura episódica que fragmenta o impacto daquilo que verdadeiramente deveria importar para o filme. O resultado é uma experiência visualmente interessante que deixa o espectador com a impressão de ter assistido a um espetáculo emocionalmente vazio, onde até o peso do clímax se dissipa numa cena final fraca e sem graça. É uma enorme queda de qualidade em relação ao primeiro filme, que conseguiu equilibrar sua loucura conceitual num arco narrativo mais coeso e focado. Esta continuação simplesmente se perde em explicações desnecessárias sobre multiversos, origamis temporais e motivações de vilão que nunca ficam claras. O primeiro filme sabia quando parar de explicar e partir para a ação; este não para de falar e se permite ser chato. Se fosse para entregar isso, era melhor terem parado lá em 2018 mesmo.

Batman Ninja vs. Liga Yakuza (Batman Ninja vs. Yakuza League) — Japão, 2025
Direção: Junpei Mizusaki, Shinji Takagi
Roteiro: Kazuki Nakashima
Elenco (vozes): Kôichi Yamadera, Bryson Baugus, Yûki Kaji, Akio Ôtsuka, John Swasey, Daisuke Ono, Ayane Sakura, Romi Park, Aaron Campbell, Hôchû Ôtsuka, Rie Kugimiya, Akira Ishida, Kengo Kawanishi, Wataru Takagi, Joe Daniels, Karlii Hoch, Molly Searcy, Nobuyuki Hiyama
Duração: 85 minutos

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