Pessoas presas sem explicação, forçadas a usar lógica e matemática para sobreviver em espaços impossíveis. Já vimos isso antes? Vincenzo Natali provou, em Cubo, que premissas minimalistas podem gerar tensão máxima quando bem executadas e o diretor Philip Koch tenta algo parecido em Brick: Tim (Matthias Schweighöfer) e Olivia (Ruby O. Fee) descobrem seu prédio em Hamburgo selado por paredes de tijolos antracite. Existe uma promessa muito boa de história aí, mas Koch comete o erro de sobrecarregar essa base com conflitos e discussões que às vezes empurram o filme para o melodrama. Onde em Cubo havia foco na mecânica de sobrevivência, em Brick há a tentativa de criar um thriller psicológico e alguns estudos de relacionamento. A parede misteriosa deveria, de certa forma, intensificar esses conflitos pessoais, mas os diálogos rasos puxam a maior parte da projeção para o constrangimento. Schweighöfer, que estava muito carismático em Exército de Ladrões: Invasão da Europa, aqui, contracena com personagens escritos com pressa e afetação.
A mecânica básica da situação é até competente. Temos personagens furando paredes, testando propriedades magnéticas dos tijolos, mapeando o prédio. Esses momentos funcionam porque mantêm a simplicidade coesa de uma narrativa do gênero. Mas o diretor larga essa abordagem direta para introduzir um elenco coadjuvante que funciona como checklist de arquétipos: o policial conspiratório teorizando sobre “deep state“, o casal de turistas drogados, o avô armado protegendo a neta vulnerável. Cada personagem representa uma opinião específica sobre a situação, transformando o que poderia ser um desenvolvimento orgânico em exposição professoral, quase uma coleção de palpites.
A ambição do diretor é o que derruba a força de muitos blocos. Ao tentar fazer comentários sociais através de teorias conspiratórias, ele deixa o filme beirando o insuportável. Quando vai para o drama psicológico, explorando um relacionamento em crise, escorrega para o melodrama. É só beirando o terror (sugerido) e uma certa nuance de ameaça sci-fi que ele consegue alguns bons momentos. Por isso é que o filme não logra ser convincente na maior parte de suas frentes. Também vale dizer que a violência aqui é muito arrumadinha e limpa, algo que enfraquece o suspense. Comparado a No Topo do Poder (para quem não viu: é sobre um prédio de luxo onde uma guerra de classes explode entre moradores de diferentes andares), que encontrou comentário social genuíno em sua violência urbana, Brick parece tímido demais para defender suas próprias ideias. As tentativas de deixar o filme mais atual, através de paranoia política, ficam forçadas, parecendo que o roteirista passou semanas consultando as buscas dos trending topics.
Aquelas cenas repetidas de moscas presas em copos terminam sendo um resumão da própria essência do filme: óbvia demais para ser inteligente, fraca demais para funcionar de verdade. Brick tem momentos legais quando se concentra na logística da sobrevivência (quem não gosta de um bom escape-room?), mas perde a direção toda vez que tenta pisar fora dessa premissa simples. A parede misteriosa poderia ter sido base para um thriller de respeito, mas na dúvida entre fazer filme de gênero ou drama intricado e simbólico que viralizasse (na linha de O Poço, com sua pretensa “crítica social foda”), o diretor desperdiçou o conceito e acabou bagunçando toda a história. Não é absurdamente descartável, mas certamente vai irritar pela quantidade de chances jogadas fora.
Brick (Alemanha, 2025)
Direção: Philip Koch
Roteiro: Philip Koch
Elenco: Matthias Schweighöfer, Ruby O. Fee, Frederick Lau, Salber Lee Williams, Murathan Muslu, Sira-Anna Faal, Axel Werner, Alexander Beyer, Josef Berousek, Daniele Rizzo, Nader Ben-Abdallah, Daniela Galbo, Markus Ransmayr
Duração: 99 min.