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Crítica | Britney Spears: Menina Perdida, de Christopher Head

Uma biografia supostamente "imparcial" que deflagra a saga épica pop e midiática da cantora Britney Spears.

por Leonardo Campos
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Dizem que nunca devemos julgar um livro pela capa, mas foi isso que fiz ao adquirir Britney Spears: Menina Perdida, biografia da cantora pop estadunidense, escrita por Christopher Head, uma figura conhecida em sua área por já ter biografado outras celebridades. Lançado pela Prumo, por aqui, a publicação pode parecer, superficialmente, mais um conteúdo caça-níqueis focado em extrair grana do sofrimento midiático pelo qual a artista passou desde os seus primeiros sinais de crise, entre 2003 e 2004, ao ápice da humilhação entre 2006 e 2008, com direito ao cabelo raspado radiografado pelas lentes de dezenas de fotógrafos da imprensa suja focada na miséria alheia como entretenimento para massas sedentas por consumo de tragédias. Mas não é. Apesar de sua capa vulgar e do seu título oportunista, o livro em questão é uma biografia que tenta, a todos instantes, manter a imparcialidade no julgamento das situações, delineando como Britney Spears e sua família atravessaram um furacão vertiginoso de acontecimentos que eles sequer imaginavam como lidar.

Diferente de outros textos focado no “caso” Spears, o texto de Christopher Head possui um bom apuro jornalístico. Conta cada caso com algum distanciamento, demonstra os paradoxos de todos os envolvidos nesta história tenebrosa de busca pela fama e falta de sustentação para lidar com os problemas oriundos de ser uma das pessoas mais perseguidas pela mídia mundialmente. Interessante também observar, como um estudo para jornalismo, a maneira como Britney Spears se tornou critério de noticiabilidade na época. Cada passo que a artista dava, seja para comprar um lanche no McDonalds, ou visitar um amigo, ou fazer uma ligação. Em suma: até em suas copiosas crises de choro, quando precisava colocar para fora o sofrimento psíquico que a consumia, jornalistas estavam em seu encalço, fotografando, fazendo perguntas, criando um círculo aprisionador para garantir uma boa imagem de topo, uma sedutora linha fina, o lead ideal para os editores e a matéria que garantiria os acessos e a audiência.

Cuidadoso nas peculiaridades do processo que demarcam a infância e a pavimentação da cantora na cultura midiática, Britney Spears: Menina Perdida vai ao passado para delinear o nascimento da artista, a relação dos seus pais na época, a matriarca uma professora de crianças e pedagoga e, o pai, um empreendedor com sérios problemas de alcoolismo. Os primeiros passos da jovem que ganhou os palcos de maneira vertiginosa depois do hit Baby One More Time é explicado em detalhes, num texto que ganha o leitor pela fluência na maneira como narra tudo, sem uma linguagem vulgar, tampouco posicionamento misógino, haja vista a escrita ser oriunda de alguém sem o lugar de fala feminino para lidar com as circunstância da perturbadora vida de Britney Spears, uma mulher milionária, mas aprisionada diante daquilo que sempre sonhou: a sua carreira de cantora performática da cultura pop.

Lúcido, Christopher Head evidencia que tanto Britney quanto a sua família foram vítimas de um processo. Exposta cedo demais aos perrengues da vida midiática, a princesinha do pop lidou com muitos traumas onde não tinha o tempo disponível para processar. Passou por perdas, decepções, ao alcançar o topo em diversas paradas de sucesso, não tinha tempo para gozar dos privilégios do dinheiro que acumulava, num espiral de sofrimento que também era demarcado pela impossibilidade de confiar plenamente em todo mundo, até mesmo naqueles que se passavam por seus amigos, pois com tantas grana envolvida, muitos eram comprados e vendiam informações suas, bem como fotos, para os tabloides ávidos por noticiar a sua derrocada. Em linhas gerais, Britney Spears: Menina Perdida, é uma biografia dinâmica, de leitura tranquila, com uma linguagem jornalística cuidadosa e desenvolvimento meticuloso na análise de cada situação que todos aqueles, até mesmo que não consome a artista enquanto entretenimento, foram expostos pelos telejornais, revistas e demais veículos de comunicação.

Christopher Head, neste livro, dá uma aula de como construir uma biografia. Só faltou uma capa mais atraente e menos vulgarizada. Ademais, uma leitura que vai além do livro para fã.

Britney Spears: Menina Perdida (Little Girl Lost/Estados Unidos– 2014)
Autor: Christopher Head
Editora no Brasil: Editora Prumo
Tradução: Maria Elizabeth Hallak Neilson
Páginas: 244

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