Lançado em 1998, Comportamento Suspeito é uma intrigante mistura de estilos, num flerte com os gêneros suspense e ficção científica, dirigido por David Nutter e escrito por Scott Rosenberg. Não é excepcional, mas também não é nada descartável, ao contrário, funciona como entretenimento que, para quem consegue observar as camadas críticas, traça algumas reflexões com doses generosas de ironia. Ao explorar as pressões sociais que os adolescentes enfrentam em ambientes escolares, especialmente quando inseridos em uma comunidade que valoriza a conformidade acima da individualidade, a produção nos apresenta suas situações por meio da perspectiva de Steve Clark, interpretado por James Marsden, um jovem que, após a trágica perda de seu irmão, se muda com a família para Cradle Bay, um lugar que parece idílico à primeira vista, mas que esconde um lado bastante sombrio, dominado por segredos que começam a ser desvendados pelo protagonista. Ele será um desses heróis cinematográficos que luta contra a homogeneização de seus colegas e a busca por sua própria identidade em um ambiente hostil à diferença. O local, uma espécie de microcosmo social, é uma espécie de laboratório de experimentos nada éticos, em que ele, uma das cobaias, vai se rebelar e batalhar.
No ambiente escolar em questão, os alunos não apenas se agrupam por interesses comuns, mas também se definem por meio de estereótipos, como skatistas, “nerds”, amantes de carros que adoram impressionar as garotas deslumbradas e os integrantes do grupo “fita azul”, caracterizados como os estudantes mais exemplares, aquele modelo que supostamente deve ser seguido por todos, padronizados para causar inveja em alguns e orgulho para os pais e responsáveis, que almejam filhos comportados e sem os hormônios inquietantes comuns para o período da adolescência. Este uso de rótulos revela o desejo inconsciente dos adolescentes de se encaixar em categorias socialmente aceitáveis, enquanto o protagonista, Steve, torna-se cada vez mais desconfortável com o que vê. A história ganha profundidade quando ele percebe que a aparência normal e ordenada de seus colegas esconde uma manipulação mais insidiosa. O surgimento dos integrantes do grupo azulado sugere uma espécie de lavagem cerebral que transforma jovens audaciosos em produtos de uma sociedade que valoriza o comportamento correto e a obediência cega. Nestas passagens, lembra bastante o clássico Laranja Mecânica.
Além de sua postura nada conformista com a situação que se apresenta, a amizade de Steve com os “rejeitados”, Gavin (Nick Stahl) e Rachel (Katie Holmes) é fundamental para o desenvolvimento da trama. Essa relação simboliza a resistência à conformidade e a necessidade de conexão autêntica em um ambiente que se opõe a isso. Rachel e Gavin, ao perceberem que uma força sobrenatural pode estar influenciando os estudantes, oferecem uma perspectiva externa que instiga Steve a questionar as normas estabelecidas. Juntos, eles não apenas desafiam a padronização, mas também se tornam agentes de mudança ao buscar respostas sobre o que realmente está acontecendo na escola. A figura autoritária do Dr. Caldicott (Bruce Greenwood), o psicólogo que lidera um programa destinado a transformar os “problemáticos”, representa a instituição que busca controlar e moldar o comportamento dos jovens em conformidade com as expectativas sociais. Essa dinâmica entre os protagonistas e a autoridade simboliza a luta constante entre a liberdade individual e a repressão institucional é o que movimenta a trama e estabelece os seus conflitos e momentos de perseguição.
Em muitos aspectos, Comportamento Suspeito evoca a estrutura dramática de Prova Final, escrito e dirigido por Robert Rodriguez. Confesso que não pesquisei para saber quem veio primeiro, mas ambos os filmes são contemporâneos e compartilham uma crítica subjacente a uma sociedade que valoriza a conformidade, enquanto mergulham em temas como identidade e liberdade individual. Nutter, no entanto, traz uma abordagem que, embora leve e muitas vezes divertida, induz à reflexão sobre as expectativas sociais e os rótulos que são impostos aos jovens. Essa dualidade entre diversão e crítica é uma característica marcante de produções dos anos 1990, que conseguiam entreter enquanto abordavam questões sociais mais profundas. A trilha sonora, composta por Mark Snow, se destaca como um dos pontos altos do filme, amplificando os momentos de tensão e descontração com eficiência, tendo em vista complementar a narrativa visual, que por sua vez, é guiada pela direção de fotografia de John S. Bartley. As imagens são vibrantes e dinâmicas, refletindo a energia da juventude e a transformação social. O uso de cores e ângulos de câmera intensifica a sensação de individualidade em um ambiente frequentemente opressivo, ressaltando o conflito entre a singularidade e a massificação dos comportamentos na sociedade, em uma narrativa que em sua simplicidade, consegue entreter, capturando a atmosfera dos anos 1990 de maneira irônica e divertida.
Comportamento Suspeito (Strange Behavior, Estados Unidos – 1998)
Direção: David Nutter
Roteiro: Scott Rosenber
Elenco: Katie Holmes, Nick Stahl, James Marsden, Steve Railsback, Bruce Greenwood, William Sadler, Chad Donella, Ethan Embry
Duração: 84 minutos
