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Crítica | Dear Mr. Watterson

por Melissa Andrade
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Quando perguntamos a algum fã de quadrinhos por indicações do que ler, 9 em 10 pessoas vão sugerir Calvin e Haroldo. É incrível como tem muita gente que gosta desse menino com uma super imaginação que apronta várias aventuras arrastando seu tigre de pelúcia por aí.

E cada um deles tem uma história diferente para falar a respeito do Calvin. Uma tirinha favorita. Uma lembrança.

Pensando justamente nisso que Joel Allen Schroeder teve a ideia para o documentário Dear Mr. Watterson onde decide investigar o impacto que Calvin e Haroldo teve na vida das pessoas, incluindo do criador Bill Watterson.

Longe de ser um especialista em quadrinhos, Joel começa seu documentário narrando como foi o seu encontro com o Calvin, bem lá atrás, na década de 80, graças a uma professora da 3º série. Desde então, sua coleção, assim como a sua paixão apenas aumentou.

Assim como ele, diversas pessoas nutrem esse sentimento especial pelos quadrinhos de Watterson como é possível ver em depoimentos espalhados ao longo do documentário. Diferentes pessoas, em diferentes estados, mas todas tinham algo em comum: o sorriso.

O documentário vai atrás de figuras importantes do mundo dos quadrinhos como a curadora Jenny Robb, que trabalha no Museu & Livraria de Quadrinhos Irlandês, que guarda alguns originais de quadrinhos famosos, incluindo do próprio Watterson, Lee Salem que detêm o controle de licenciamento dos quadrinhos de Watterson, Nevin Martell autor do livro Looking for Calvin and Hobbes que viajou até a cidade natal de Watterson em Chagrin Falls, para coletar material de pesquisa para seu livro. Martell conta que ao chegar lá caiu imediatamente em um dos cenários dos quadrinhos, pois as florestas, a cidade, as ruas, eram idênticas aquelas que haviam sido desenhadas por Watterson.

Joel também visita a biblioteca de Cayanoga, onde existe um acervo grande de quadrinhos antigos, jornais e alguns trabalhos de Watterson antes dele começar a fazer sucesso. A gerente do local, Kimberly Dressel conta que só veio conhecer o quadrinho do Calvin após a morte de sua mãe. Seu marido tinha alguns livros e ao folheá-los ela conseguiu sorrir pela primeira vez em alguns meses de luto.

Porém, por mais que todos os depoimentos e personagens sejam deveras interessantes, é ainda mais intrigante descobrir o possível motivo da reclusão de Watterson e o fato dele nunca mais ter sido visto em público, ou de nunca ter gostado de dar entrevistas.

Joel entrevistou especialistas na área como Charles Solomon, famoso crítico americano de quadrinhos e Berkeley Breathed criador de Bloom County e que costumava trocar cartas com Bill. Breathed afirma que Bill tinha total aversão ao sindicato dos quadrinistas americanos e que por diversas vezes escreveu cartas e desenhou tirinhas que criticavam a maneira como as criações e seus criadores eram tratados por eles. Bill, assim como muitos hoje em dia, acreditava piamente que quadrinhos é sim uma forma de arte, logo, deve ser tratada e respeitada como tal. Algo que aos olhos de Bill, não era o que acontecia. Principalmente quando o espaço para tiras nos jornais começou a diminuir mais e mais, passando a comprometer a qualidade dos desenhos, pois com espaço menor, dificultava para o leitor apreciar o estilo e traço de um determinado autor, como também, prejudicava a entrada de novos artistas.

Tendo isso em mente, fica mais fácil de entender a razão pela qual Bill Watterson nunca quis que sua criação caísse nas mãos do mercado publicitário. Por isso não há pelúcias do Haroldo ou canecas e camisetas oficiais do Calvin. Para ele, a arte é aquilo ali no papel, nos livros, que deve ser apreciado e desde o momento que sai do papel e é transformada em outra coisa, perde valor.

Dear Mr. Watterson: An Exploration of Calvin & Hobbes é rico em detalhes e a história é um prato cheio para todos aqueles que são fãs das estripulias de Calvin e seu fiel amigo tigre Haroldo. Seja como o Cosmonauta Spiff, passando no transmogrifador, fingindo ser um dinossauro ou simplesmente criando bonecos de neve que particularmente, são minhas tirinhas preferidas.

Não perca! Está em cartaz no Netflix.

Dear Mr. Watterson (EUA – 2013)
Direção: Joel Allen Schroeder
Elenco: Berkeley Breathed, Seth Green, Stephan Pastis, Bill Amend, Jef Mallet, Lee Salem, Wiley Miller, Nevin Martell, Jean Schulz, Charles Solomon, Jenny Robb
Duração: 89 min.

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