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Crítica | Desejo Sombrio – 2ª Temporada

O fim de um retorno desnecessário.

por Felipe Oliveira
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Chegando quase dois anos depois de sua estreia, a sensação da Netflix estrelada por Maite Perroni, Desejo Sombrio, retorna para seu ciclo final. Sendo o que sobressaiu anteriormente na trama novelesca o argumento da criadora e roteirista Leticia López Margalli voltado para o público feminino, era incrementado ao texto uma carga apelativa de melodrama e suspense para movimentar o mistério envolvendo conspiração e morte. No desfecho, a autora soube manter um senso de coerência para o que debatia, mesmo que um desfecho desesperado por um cliffhanger sendo esboçado.

Pior do que forçar reviravolta, foi apontar para um rumo que não se mostrava empolgante e obviamente, não era necessário. Desfazendo a ansiedade da longa espera, a série retorna com um novo mistério a ser solucionado no decorrer de seus quinze episódios. E para isso, apresenta um capítulo confuso, tanto no que está propondo, quanto na montagem que não sabia definir se misturava flashforwards ou linhas presentes para preparar a audiência. Tal escolha, logo se revela a solução da produção para se livrar do péssimo gancho deixado, tanto que o capítulo seguinte ao começo da temporada, confirma que as sequências de eventos confusas aconteceram, ao mesmo tempo que pretendia desacelerar, para, assim, direcionar qual seria a base do mistério em questão.

Nessa corrida, Oscuro Deseo tinha como objetivo se afastar lentamente do que poderia ter sido desenvolvido com o cliffhanger. Então, ficou claro que Margalli percebeu que o caminho apontado não teria potencial e decidiu escrever um mistério que pudesse se manter na fórmula usada na temporada passada, e principalmente, se aproximasse da ideia de criar um reflexo acerca das realidades de mulheres afetadas por homens tóxicos. Ainda assim, contornar esse caminho e repetir o método de mistério, suspense policial e as quebras constantes com reviravoltas, só serviram para enfraquecer ainda mais o argumento desesperado para permanecer atrativo.

Embora cansativa, a fórmula se sustentou no ano de estreia da série ao não vacilar com a resposta para o mistério levantado: o assassinato da melhor amiga de Alma (Maite Perroni). Mesmo fazendo disso um motor para querer ser surpreendente, indo e vindo com falsas pistas para emendar com twists, a resposta se mantinha atrelada com a discussões propostas sobre violência de gênero, feminicídio, relacionamentos abusivos, obsessão e estigmas impostos ao papel da mulher na sociedade. O “desejo sombrio” do título não demorou a fazer sentido ao retratar como a mulher era considerada ao não atender a versos pré-estabelecidos na sociedade.

Agora, mais um assassinato se fez presente para definir a dúvida da vez, e no processo pretendia revelar a verdadeira intenção em três suspeitas: Alma, Darío (Alejandro Speitzer) e Lys, interessante nova personagem vivida por Catherine Siachoque. Pior do que apelar para a abordagem que por sorte deu certo, em sua segunda e última temporada, Oscuro Deseo quis fazer malabarismo com o óbvio, jogando a audiência em movimentos que caíam em cenas eróticas avulsas e totalmente anticlímax, conveniências e inconsistências tudo em prol de um suspense que queria de todo modo se mostrar parte um grande quebra-cabeça supostamente indecifrável.

Se agarrando a essa ideia de que é imprevisível, Desejo Sombrio joga com um fraco suspense melodramático que não consegue manter uma reflexão pertinente — exemplo dos efeitos traumáticos em Alma pela relação nociva com Dário sendo suprimidos pela pressão de atender ao suspense —, caindo numa dinâmica exaustiva da própria abordagem que cria um nó de tantas voltas que dá tentando se superar. Apesar de um retorno inferior, Maite Perroni compensa ao brilhar com mais uma personagem complexa e memorável.

Desejo Sombrio – 2ª Temporada (Oscuro Deseo – México, 2022)
Criação: Leticia López Margalli
Direção: Kenya Marquez, Pitipol Ybarra
Roteiro: Leticia López Margalli
Elenco: Maite Perroni, Alejandro Speitzer, María Fernanda Yepes, Erik Hayser, Regina Pavón, Jorge Poza, Catherine Siachoque, Mahoalli Nassourou, Magali Boyselle, Ariana Saavedra, Arturo Barba, María de Villa
Duração: 30 a 38 min (15 episódios, cada)

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