- Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas do universo Dexter.
Apesar de meus temores sobre a série que mencionei em minha crítica anterior, sou o primeiro a admitir que o terceiro episódio de Dexter: Ressurreição lida exemplarmente com a multiplicidade de linhas narrativas, mesmo a mais extravagante de todas que se refere ao ainda não mostrado personagem de Peter Dinklage, o chefe de Charley (Uma Thurman) que, pelo visto, tem como hobby financiar serial killers com o objetivo de colecionar seus troféus. O que Copiloto Palpiteiro (ah, como eu detesto copilotos palpiteiros!!!) faz de melhor, na verdade, é não enrolar, não atrasar desenvolvimentos narrativos para manter mistérios bobalhões. Ao contrário, seria até perfeitamente aceitável dizer que o capítulo corre até demais.
Mas é uma “corrida” bem-vinda, com Dexter não só localizando, sequestrando e matando Red, o Passageiro Sombrio fajuto (Marc Menchaca), com aquele prazer típico do personagem em seu ritual cheio de plástico e facas que Michael C. Hall refestela-se em mostrar, como organicamente chegando ao convite para o jantar de serial killers, algo que é tão curioso e surreal que, mesmo pessoalmente não gostando do tumulto em potencial que isso pode significar para a série, deixou-me muito interessado. E toda essa linha narrativa ainda reservou espaço para um hilário prólogo com Dexter sendo um motorista de aplicativo abaixo das expectativas de clientes idiotas, para um simpático jantar com a família Blessing Kamara (Ntare Guma Mbaho Mwine) com direito a um “kit de primeiros socorros” para os citados clientes idiotas e um epílogo em que nosso assassino em série tem que tirar pedaços do corpo de Red da fornalha para colher um polegar. Foi, por assim dizer, muito satisfatório.
E essa satisfação também ocorreu com Angel Batista (David Zayas) aposentando-se da polícia para caçar Dexter, com direito às participações especiais de Masuka (C.S. Lee) e Joey Quinn (Desmond Harrington), pois esses revivals da série clássica precisam se alimentar de nostalgia, e também com toda a investigação da detetive Claudette Wallace (Kadia Saraf) ao som e ritmo de Bee Gees. Aliás, nesse segundo aspecto, apesar de o estilo “sabichona” de Wallace não ser uma grande novidade no audiovisual (para usar um eufemismo, claro), Saraf funciona muito bem, especialmente quando contracena com seu colega Melvin Oliva (Dominic Fumusa), que nada mais é do que seu ajudante e admirador e com Harrison (Jack Alcott), este mostrando ser “mais esperto do que a maioria dos ursos“. Será potencialmente muito prazeroso acompanhar Angel em sua caçada, especialmente se ele acabar se unindo à Wallace e os dois se envolverem com o colecionador de serial killers.
O que ainda não me convenceu de verdade é a forma como os roteiros lidam com a reticência de Dexter em revelar-se vivo para o filho. O que a série quer ganhar com isso exatamente? Espaço para desenvolvimento separado dos dois personagens? Depois de New Blood, talvez o importante seja justamente vê-los juntos novamente com tempo suficiente para crescerem como pai e filho. Ou a ideia é manter essa separação até o fim, o que seria corajoso, mas, em última análise, estranho. Considerando o quanto Dexter sabe a importância de um pai, ele preterir o filho em prol de um serial killer que – conscientemente ou não – usurpou seu nome parece fraco demais para funcionar por muito mais tempo. Fora que já há um “mistério protraído no tempo” na série, que é a aparição do personagem de Dinklage. Não me parece haver espaço para duas situações semelhantes.
Com Copiloto Palpiteiro, Dexter: Ressurreição sobe alguns degraus na escala de minha curiosidade e, como diria Calvin Candie, chegou no nível de atenção. O que tornará a série realmente boa é uma convergência lógica das narrativas que abra mais espaço para Harrison e para a investigação de Angel, e um caso macro que não a leve para um lugar-comum. Afinal, se é para haver um jantar de serial killers, que Clyde Phillips jogue fora a cartilha e alopre completamente no que é possível fazer nessa seara.
Dexter: Ressurreição – 1X03: Copiloto Palpiteiro (Dexter: Resurrection – 1X03: Backseat Driver – EUA, 18 de julho de 2025)
Desenvolvimento: Clyde Phillips (baseado na série desenvolvida por James Manos Jr. e na obra de Jeff Lindsay)
Direção: Monica Raymund
Roteiro: Nick Zayas
Elenco: Michael C. Hall, Uma Thurman, Jack Alcott, David Zayas, Ntare Guma Mbaho Mwine, Kadia Saraf, Dominic Fumusa, Emilia Suárez, James Remar, David Magidoff, Marc Menchaca, C. S. Lee, Desmond Harrington
Duração: 52 min.