Apesar de intitulado A Vingança de Bludd e mesmo considerando que essa vingança realmente toma boa parte das páginas do arco, o segundo volume da nova versão de G.I. Joe pela Skybound/Image Comics como parte do Universo Energon poderia muito bem ter sido batizado de “Coisas Que Duke Não Faz Ideia Que Está Acontecendo Debaixo de Seu Nariz”. E eu não falo isso por mal e nem em tom de reprovação pelo que Joshua Williamson esconde do líder dos Joes, praticamente fazendo-o de palhaço, mas sim apenas para fazer uma constatação, já que as três linhas narrativas do arco lidam com (1) Clutch escondendo de Duke que seu jipe é um Autobot; (2) Baronesa e Cover Girl saindo para passear em Paris e escondendo de Duke quem elas encontram por lá e (3) General Hawk escondendo de Duke que ele está formando a Força Noturna. Não vou nem falar dos planos do Comandante Cobra e de Destro, pois isso Duke não poderia saber mesmo.
Mas deixemos o coitado do Duke de lado por um momento e foquemos no arco que é interessantemente estruturado com duas aventuras independentes enquadrando a pancadaria central que é a tentativa do Major Bludd, com a ajuda de Raptor (tinha me esquecido como esse personagem é visualmente bacana!), de se vingar da Baronesa por ela ter arrancado um olho dele no arco inaugural da série. Essas histórias independentes não são de fato independentes, claro, pois é nelas que vemos a formação da Força Noturna, primeiro com Beach Head em plena missão solitária para obter um armamento de um bilionário sendo recrutado por Flint e Lady Jaye e, depois, com os três viajando até Darklonia para tirar Shooter da prisão para trazê-la à equipe secreta. São duas histórias bem diferentes em termos de como elas são conduzidas e que inclusive contam com desenhistas diferentes, já que Andrea Milana (que substituiu Tom Reilly no arco e que desenhou a minissérie do Comandante Cobra e uma edição da minissérie de Destro) cuidou apenas das cinco primeiras edições do arco, deixando a última nas mãos de Marco Foderà (sim, piada de 5ª série pronta com esse sobrenome aí) e ambas muito boas na maneira como lidam com essas dark ops.

O arco central, que começa com a Baronesa convencendo Duke a deixá-la desanuviar a mente fora da base dos Joes (em que ela é basicamente uma prisioneira, só saindo para missões), o que a leva à Paris para ela ver de longe seus pais ao lado de Cover Girl, sua cicerone obrigatória, somente para elas serem atacadas por Raptor a mando de Bludd, é o típico arco exagerado e clichê que poderia muito bem ter sido escrito por Larry Hama. Bludd é um maníaco obsessivo que literalmente quer cumprir o Código de Hamurabi e arrancar um dos olhos da Baronesa, mas, para fazer isso, ele aparentemente precisa de um show particular em que ele coloca as duas Joes para lutar em um poço no subsolo de Paris enquanto Raptor mantém os pais da Baronesa à vista e sob ameaça. É sem dúvida divertido, mas é quase um filler, mesmo que essa seja pelo menos em tese a história principal.
O que, por outro lado, funciona muito bem é a maneira como Williamson usa essa história histriônica na capital francesa como instrumento para que ele trabalhe intercaladamente o relacionamento de Clutch com Hound, formando uma dupla que, em sua busca por Energon, é seguida pelo sempre desconfiado Risk, levando a um momento particularmente inspirado da arte de Milana que cria um cliffhanger que seria típico de um filme de horror. De maneira semelhante, o roteirista sabe inserir a linha narrativa menos conectada de todas com os Joes, que lidam com o Comandante Cobra e Destro se bicando na base da organização Cobra, com planos sendo revelados, como é a conversão de parte dos soldados em seres cibernéticos e uma tentativa indireta de golpe de Destro que dará origem ao próximo arco envolvendo os Dreadnoks como peões do vilão escocês.
Apesar de a conexão efetiva dos Joes com os Transformers estar sendo deliberadamente atrasada, eu vejo isso com bons olhos. Primeiro é necessário desenvolver a equipe e todos grupos secundários como a Força Noturna e, claro, todo o lado ninja que só foi explorado na minissérie de Scarlett por enquanto, para, então, fazer o crossover. E é por isso que Duke, obsessivo em descobrir mais sobre os robôs cybertronianos, precisa ficar de fora de muita coisa, especialmente da relação de Clutch com Hound. Há muito a ser explorado apenas do lado dos G.I. Joes para envolver os Transformers de maneira mais aberta por agora, ainda que, claro, esse seja todo o objetivo do Universo Energon.
G.I. Joe – Vol. 2: A Vingança de Bludd (G.I. Joe – Vol. 2: Bludd’s Revenge – EUA, 2025)
Contendo: G.I. Joe (2024) #7 a 12
Roteiro: Joshua Williamson
Arte: Andrea Milana (#7 a 11), Marco Foderà (#12)
Cores: Lee Loughridge
Letras: Rus Wooton
Editoria: Ben Abernathy
Editora: Skybound (Image Comics)
Datas originais de publicação: 28 de maio, 18 de junho, 16 de julho, 20 de agosto, 17 de setembro e 15 de outubro de 2025 (encadernado publicado em 05 de novembro de 2025)
Páginas: 136
