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Crítica | G.I. Joe: Cobra Commander (minissérie)

E eis que surge o líder da organização vilanesca Cobra.

por Ritter Fan
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Duke foi a primeira minissérie do projeto do selo Skybound, da Image Comics, de contar de seu jeito a origem das organizações rivais G.I. Joe e Cobra dentro de um contexto em que elas existem ao lado dos Transformers, no chamado Universo Energon, que fora iniciado no título inédito Void Rivals capitaneado pelo próprio Robert Kirkman. Se, anteriormente, o foco foi nos Joes ou, mais precisamente, nos personagens centrais que formarão a equipe militar, agora é chegada a vez de ninguém menos do que o próprio Cobra Commander, em uma história que lida com o nascimento do líder mascarado, com voz de taquara rachada, do grupo vilanesco Cobra.

Joshua Williamson, que escreveu o roteiro de Duke, também encabeça a história aqui, só que sua abordagem para o Cobra Commander é completamente diferente à que foi dada para o sargento traumatizado pelo Decepticon Starscream tentando reconstruir sua vida e entender exatamente o que acontecera. O que antes vinha galgado em um grau mínimo de realismo, com uma aventura de cunho militar que serviu para apresentar uma série de personagens chave para o futuro do projeto da Skybound, como Destro, Baronesa, Stalker e Scarlett, abriu espaço para uma pegada mais abertamente de ficção científica em que vemos o misterioso cientista humano que se torna o Cobra Commander na cidade secreta e milenar de Cobra-La, nos Himalaias, comandada por Golobulus, a quem ele parece servir obedientemente.

Apesar de eu pessoalmente não gostar do uso de elementos fantásticos demais na mitologia das organizações G.I. Joe e Cobra, creio que, dentro da proposta da editora de fundir para valer os dois universos mencionados – sei que não é a primeira vez que G.I. Joe e Transformers compartilham uma publicação, mas, agora, o projeto parece ser de longo prazo, sustentado mesmo – faz todo sentido que a origem do Cobra Commander seja profundamente entrelaçada com Cobra-La, já que o local, na mitologia estabelecida antes em HQs e animações tem conexão com Cybertron e os robôs disfarçados. Com isso, minhas preferências pessoais pouco importam, restando-me tentar olhar mais objetivamente para o que Williamson faz aqui, que é colocar o personagem titular em uma jornada para localizar uma fonte de Energon nos pântanos da Flórida, depois que ele passou um bom tempo extraindo informações, na base da tortura, de ninguém menos do que o grande Megatron, aprisionado em Cobra-La, finalmente explicando – ainda que não em detalhes – sua ausência na Arca que vemos no primeiro arco de Transformers.

Com isso, o começo, ou, mais precisamente, os flashbacks mais exagerados nos Himalaias ganham uma abordagem simplificada, com o Cobra Commander tendo que lidar violentamente com os Dreadnoks – Buzzer, Ripper, Zarana, Zandar e Torch – e também com um homem barbado que é enviado por Golobulus ostensivamente para ser seu segurança, mas que se revela como sendo Nemesis Enforcer, com um objetivo bem diferente do que proteger o Commander. É uma história estranha, que se refestela na violência e se perde em sua narrativa que parece apressada demais, conveniente demais com um quase que completamente ignorante no funcionamento do mundo humano de repente trafegando por lá muito facilmente a ponto até mesmo de estabelecer contato com Destro e criar a cidade-base secreta de Springfield, ainda que o nome em si não seja mencionado, tudo com uma passagem temporal muito mal conduzida pelo texto de Williamson que pesa a mão na introdução incessante de personagens.

Chega a ser curioso que o roteirista cometa esses erros, considerando o quão bem ele conduziu tanto a passagem temporal quanto a introdução de personagens na minissérie Duke. Lá, tudo pareceu mais orgânico, mais bem estabelecido. Em Cobra Commander, muito ao contrário, o que temos é uma história que verga sob seu próprio peso e não consegue estabelecer uma ameaça realmente crível em seu personagem titular. Tudo bem que o Cobra Commander, pelo menos para mim, sempre foi apenas um personagem visualmente interessante, mas narrativamente muito fraco – e, peço perdão aos leitores de longa data, mas o “sssssss” na pronúncia da letra “S” do sujeito continua ridículo – e, por isso, eu já não esperava muito dele, mas o pulo que Williamson dá entre um cientista lacaio de Golobulus a um líder de uma organização criminosa é enorme e pouco sustentável, quase que literalmente na base do “aceita sem discutir e pronto”.

A arte de Andrea Milana, por outro lado, lida muito bem tanto com os aspectos mais sci-fi, em Cobra-La, quanto os mais terrenos, notadamente no pântano do sul dos EUA, criando uma inusitada, mas bem-vinda – e necessária – unicidade visual que faz até mesmo a insistência do Cobra Commander em usar sua máscara constantemente algo que podemos aceitar, mesmo que por vezes ela venha acompanhada de um chapéu bastante ridículo. A fluidez da ação é também muito boa, com uma progressão de quadros eficiente que só falha mesmo quando Williamson corre na passagem de tempo. A violência, de pegada exagerada, quase cartunesca, com muito sangue pelas páginas, encaixa-se bem com a natureza quase cômica – ainda não sei se inadvertidamente ou proposital – que o protagonista tem.

A minissérie do Cobra Commander é muito mais funcional para o Universo Energon do que algo que tenha valor intrínseco. É como um supletivo do 2º grau que acelera uma narrativa que merecia mais vagar, comprimindo-a em relativamente poucas páginas e, no final das contas, atropelando muita coisa de forma a acabar com a formação da organização Cobra. Resta agora saber se as duas minisséries seguintes – Destro e Scarlett – terminarão de estabelecer a concepção geral dos grupos antitéticos de forma que um título mais amplo e mensal, semelhante a G.I. Joe: A Real American Hero, possa ser então lançado para andar em paralelo com Transformers.

Cobra Commander (EUA, 2024)
Contendo: Cobra Commander #1 a 5
Roteiro: Joshua Williamson
Arte: Andrea Milana
Cores: Annalisa Leoni
Letras: Rus Wooton
Editoria: Sean Mackiewicz, Jonathan Manning
Editora: Skybound (Image Comics)
Datas originais de publicação: 17 de janeiro, 21 de fevereiro, 20 de março, 17 de abril e 22 de maio de 2024
Páginas: 157

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