- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e séries do universo e, aqui, dos quadrinhos.
No universo de The Boys, ser um jovem com poderes é quase que garantia de problemas psiquiátricos em algum momento da vida e, se você não os tiver, é sinal de que talvez seja um sociopata. Ou seja, não tem saída. Afinal, poderes como controle de sangue, manipulação de pelos púbicos e situações que outros poderes podem levar, como a redução de tamanho para acabar testemunhando uma bunda “do tamanho do sol” prestes a defecar enquanto você está nadando no vaso sanitário são a receita para fundir a cabeça de qualquer um, mesmo que a pegada satírica de certa maneira suavize aquele que é um dos pontos nodais dessas séries, ou seja, a saúde mental. Some-se a isso a manipulação das informações, campanhas de difamação e toda a sorte de instrumentos para vergar e destruir qualquer semblante de ordem e pronto, não há escapatória, pois todos não passam mesmo de “bolsas de sangue” a serem controlados como uma “marionete de carne”.
É, meus caros. Gen V não é para os fracos, pois, assim como South Park e outras séries nessa mesma toada, a realidade ao nosso redor tem se tornado tão enlouquecida, tão fora de esquadro que sátiras perdem a força por não conseguirem mais serem versões absurdas e exageradas do que acontece de verdade no cotidiano. Como eu mencionei na crítica anterior, chega a ser assustador Eric Kripke ter sacrificado a arte para deixar claro aos que não querem enxergar a natureza das críticas que The Boys vinha fazendo desde o primeiro segundo do primeiro episódio da primeira temporada. Mas, diferente do que aconteceu com a quarta temporada da série mãe, em que isso se tornou um problema, Gen V chega à metade de seu segundo ano ainda em ótima forma, sabendo equilibrar seus comentários críticos, mas sem atenuá-los. Afinal, em Bolsas tivemos Elon Musk – o bode Elon Musk, eu sei – sendo explodido durante o treinamento de Marie, o que não tem nada de discreto, mas, vamos combinar, tem tudo de hilário.
Foi um grande acerto da temporada a apresentação do reitor da Universidade Godolkin como um personagem envolto em mistério, com uma belíssima atuação de Hamish Linklater que mistura com categoria doses iguais de fleuma, ameaça e controle de todas as situações. Ele é, como a revelação de seu poder ao final do episódio deixa claro, um efetivo “mestre marionetista” cujo desenvolvimento mantém ainda segredos estranhos, como é seu pai com o corpo todo queimado em uma câmara hiperbárica e o fato de ele ser um super sem composto V no sangue, o que pode mudar completamente o jogo sobre como supers são criados nesse universo. São os momentos com Cipher, seja no início do episódio quando ele determina que Marie e Jordan precisarão lutar em uma arena e que Jordan terá que perder, quando ele treina Marie a controlar melhor seus poderes (o lance do uso do braço é sensacional e acerta em cheio em uma penca de super-heróis dos quadrinhos) e, claro, quando ele está no camarote da Vought na arena fingindo cair na chantagem furada de Cate, que abrilhantam o episódio, com as sequências com Emma e sua “brigada subversiva” armando planos em cima de planos, com direito à mencionada viagem insólita pelo encanamento até a privada.
Não adorei que o final do episódio aponta para uma dobradinha com o próximo, algo que é amplificado pela desnecessária exibição dos três primeiros capítulos de uma só vez na semana passada. Se é para disponibilizar mais de um episódio por semana, que tal então fazer algo lógico, pois os três primeiros não carregaram cliffhangers assim e o quarto sim. Mas tudo bem, sei que provavelmente sou uma das únicas criaturas do mundo que insiste em afirmar que binge watching é a pior maneira de se ver uma série, então não vou nem mais levantar esse assunto, até porque Gen V tem sido uma surpresa muito positiva, um verdadeiro estudo sobre traumas e saúde mental em adolescentes que vem carregada de pertinentes comentários e críticas sobre o nosso insano mundo real. |
Obs: Não consegui encaixar naturalmente no texto, pelo que vai aqui mesmo: ao lado de Emma, Sam é um dos mais interessantes personagens adolescentes da série e sua ausência completa aqui foi sentida e eu espero que isso não mais aconteça e que ele seja integrado à narrativa como Cate foi.
Gen V – 2X04: Bolsas (Gen V – 2X04: Bags – EUA, 24 de setembro de 2023)
Desenvolvimento: Craig Rosenberg, Evan Goldberg, Eric Kripke
Direção: Alrick Riley
Roteiro: Brant Englestein, Chris Dingess
Elenco: Jaz Sinclair, Lizze Broadway, Maddie Phillips, London Thor, Derek Luh, Asa Germann, Sean Patrick Thomas, Hamish Linklater, Julia Knope, Ethan Slater, Valorie Curry
Duração: 48 min.