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Crítica | Hellraiser: O Mundo do Inferno

Tal como Jason e Michael Myers, Pinhead também é levado para o mundo da tecnologia numa perspectiva infernal.

por Leonardo Campos
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Depois de tantas incursões em sequências desgastantes, as franquias de terror habitualmente precisam de renovação. E, neste caso, muitas delas recorrem ao processo de modificação do espaço narrativo, tendo em vista colocar novos ou velhos personagens, diante de seus antagonistas, para duelar em terrenos que dialogam com outras realidades. Foi assim com Sexta-Feira 13, ao levar Jason para o espaço sideral, bem como Halloween: Ressurreição, tenebroso episódio da saga de Michael Myers no centro de um reality show. Surfando na caudalosa onda da internet e das tecnologias, Hellraiser: O Mundo do Inferno, coloca Pinhead, pela última vez, interpretado pelo icônico Doug Bradley, numa dinâmica que envolve jogos e cibercultura. A transformação do espaço narrativo até que é interessante, mas os envolvidos esqueceram, por sua vez, que um bom roteiro, tal como desempenhos dramáticos dignos, também são elementos necessários para o sucesso de uma trama, não apenas de terror, mas de qualquer segmento. E, neste oitavo filme da franquia criada por Clive Barker, iniciada em 1987, a inovação espacial não conseguiu dar conta do magnetismo com seu público, nem com a crítica, pois estamos diante de um dos piores momentos dos cenobitas, tamanha falta de qualidade estética e dramatúrgica.

Lançado em 2005 e dirigido por Rick Bota, o roteiro, que se inspira no conto Dark Can’t Breathe de Joel Soisson, não foi inicialmente concebido como parte da franquia, mas adaptado para isso, numa proposta que nem é tão forçada, cabendo tranquilamente no universo de Pinhead, mas que, no entanto, não foi bem executada. A trama gira em torno de um grupo de jovens que se tornam viciados em um jogo online chamado Hellworld, inspirado na série em questão, num esquema de metalinguagem que toma de empréstimo a atmosfera estabelecida por Wes Craven em Pânico. A obsessão por esse jogo leva Adam (Stelian Urian), um dos amigos da galera em cena, a cometer suicídio, o que gera um sentimento de culpa entre os cinco restantes durante seu funeral. Dois anos após a tragédia, os amigos decidem comparecer a uma festa privada temática do Hellworld, realizada em uma antiga mansão, após receberem convites pela plataforma do jogo.

Nesta mansão, o quinteto é calorosamente recebido pelo anfitrião que os orienta pela mansão, um antigo convento e asilo criado por Philip LeMarchand, além de lhes fornecer celulares para comunicação com outros convidados. No entanto, durante a festa, os personagens são separados e brutalmente assassinados pelo Anfitrião, Pinhead, e seus lacaios cenobitas. Lá, como podemos já imaginar, terão de lidar com as consequências do contato viral diante da configuração dos lamentos, um objeto que só ao ser mirado, já causa conflito. Quem assistiu aos filmes desde o primeiro sabe exatamente do que estou versando. Assim, em seus 95 minutos, a narrativa explora os conflitos internos dos personagens e as consequências de sua ligação com o jogo, à medida que eles enfrentam horrores sobrenaturais relacionados ao universo de Hellraiser. A história se desenvolve em um ambiente de mistério e tensão, enquanto os jovens lidam com seus traumas e a presença ameaçadora dos cenobitas, novamente com pouco espaço em cena, escolha econômica e criativa que mina a qualidade da história.

A mudança no formato da série após a aquisição dos direitos pela Dimensions Films é notável, com as sequências a partir de do terceiro filme, tramas que geralmente nos apresentam enredos mal construídos e violência menos explícita, algo decepcionante, pois diminuiu consideravelmente a intensidade visual que fez da franquia um sucesso no passado. Clive Barker, longe do projeto, é lembrado por aqui, como alguém que gostaríamos que estivesse, ao menos, supervisionando os bastidores, para uma necessária injeção de criatividade. Ademais, filmado com o inconfundível estilo de Rick Bota, isto é, uma condução abaixo do razoável e sem momentos de conexão com a plateia entediada, o enredo retrata uma vingança elaborada pelo personagem interpretado por Lance Henriksen, que busca se vingar dos amigos de seu filho, que cometeu suicídio após participar de um jogo do Hellworld. Para isso, ele cria uma farsa trágica, convidando todos para uma festa e os drogando com substâncias alucinógenas, levando-os a serem enterrados vivos, enquanto enfrentam suas mais profundas inseguranças. Com insossa direção de fotografia de Gabriel Kosuth e condução musical de Lars Anderson, esta produção é o verdadeiro “inferno” no sentido literal, adequado para o padrão de qualidade apresentado em tela.

Frágil dramaticamente e visualmente deselegante, este oitavo filme antecede Hellraiser: Revelações, lançado em 2011, com trechos associado ao found foutage.

Hellraiser: O Mundo do Inferno (Hellraiser: Hellworld, EUA – 2005)
Direção: Rick Bota
Roteiro: Tim Day
Elenco: Lance Henriksen, Katheryn Winnick, Steven Koney, Richard Lilly, Christine Kavanagh, Michael L. Cummings, Doug Bradley
Duração: 95 min.

 

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