Indiana Jones e o Cajado dos Reis – em tradução livre – é um dos diversos jogos do Indiana Jones que tiveram sucesso moderado e uma recepção crítica morna ao longo das décadas, capitalizando mais no sucesso da franquia cinematográfica do que necessariamente criando sua própria identidade no universo dos games. Sempre imaginei que jogos do Indy tinham o potencial de almejar algo como Uncharted, o que apenas se concretizou recentemente com Indiana Jones e o Grande Círculo, da Bethesda, o qual também teremos a crítica nas próximas semanas. Mas as obras antigas não são de se descartar, com Indiana Jones e o Cajado dos Reis sendo um exemplar interessante do que um protótipo de um grande jogo do Indy se parece, se aventurando pelo Sudão, Panamá, São Francisco e Nepal, enquanto procura artefatos arqueológicos.
A premissa do jogo é básica, mas bem típica para a mitologia da franquia. Situada em 1939, um ano depois de Indiana Jones e a Última Cruzada, a narrativa acompanha Indy investigando o desaparecimento de Charles Kingston, seu ex-professor universitário que estava buscando o Cajado de Moisés antes de sumir do mapa. Durante o processo de investigar o sequestro, claro que eventualmente descobrimos que os nazistas também estão procurando o artefato bíblico para motivos hediondos, dando início a uma jornada global do nosso protagonista lutando contra a expedição alemã para evitar que a peça poderosa caia nas mãos do inimigo, enquanto tenta salvar seu colega e um eventual interesse romântico que surge na história. Uma aventura com elementos místicos, nazistas e um mentor em perigo, o game é extremamente familiar e bebe direto da fonte dos filmes.
Se por um lado a fidelidade carrega a essência da franquia, por outro a produção soa como uma versão menos inspirada de uma história que já vimos antes. Sei que muitas pessoas não gostam de jogos mais narrativos, mas Indiana Jones e o Cajado dos Reis peca por não ter uma trama mais envolvente, com uso mínimo de cut-scenes, quase nenhum desenvolvimento dos personagens coadjuvantes e antagonistas, e até pouca participação de Indy, que está ali mais como a figura jogável do que como um protagonista particularmente carismático (a falta de diálogos e do tom bem-humorado dele fazem muita falta). Também diria que a boa premissa não é exatamente aprofundada, com o contexto histórico servindo mais como pano de fundo do que uma parte integral da experiência. Mesmo com essas ressalvas, a riqueza arqueológica do jogo e o macguffin do Cajado de Moisés são bem utilizados como fios condutores de uma aventura em escala global, nos levando para diversas localidades e para vários cenários padrões da franquia, como templos, florestas, cavernas e passagens secretas.
A variedade de localidades é um ponto forte do jogo. Num minuto estamos lutando contra a Tríade em Chinatown e no outro estamos desbravando uma pirâmide arruinada no Panamá, com uma característica de constante movimentação e um senso de escopo que enfatizam a pluralidade visual e seus diversos códigos postais. Os gráficos não são os melhores para a época, com exemplares do final dos anos 2000 com trabalhos mais polidos, mas ainda é um jogo visualmente bonito em suas diversas paisagens, do ambiente urbano em São Francisco, as florestas e templos ancestrais do Panamá, até a vista eternamente nevada das montanhas do Nepal. A trilha sonora icônica da franquia é um baita componente auxiliar em termos de imersão e ambientação na aventura.
Infelizmente, a exploração desses locais é limitada, com muitas fases semelhantes entre os diferentes ambientes, com a paisagem mudando, mas com pouca alteração no que efetivamente estamos fazendo com o personagem. Em determinados momentos, a obra tenta trazer uma diversidade de missões, como uma sequência de fuga no Sudão em que controlamos um avião, um tiroteio enquanto Indy está em um bonde em andamento ou então uma divertida perseguição final em uma motocicleta, mas de maneira geral, o jogo é uma repetição de escaladas, alguns tiroteios à distância e pequenos blocos de combate corpo a corpo. A falta de uma qualidade stealth é sentida, com Indy sempre indo de cabeça contra os inimigos sem qualquer possibilidade de furtividade ou de uma exploração espacial dos cenários, sempre curtos e fechados.
Também tenho sentimentos mistos com os quebra-cabeças do game. Como a história serve quase que unicamente como pano de fundo, pouco desse contexto histórico é incorporado aos puzzles que temos ao longo da narrativa, muitos que se resumem a pegar um objeto e colocar em determinado local, exigindo pouco do jogador e mostrando uma certa limitação criativa na incorporação de quebra-cabeças práticos. Uma pequena exceção seria o bloco no Panamá, com uma trajetória pelo submundo de uma civilização Maia que tem seus momentos um pouco mais envolventes em termos de descobrir uma passagem secreta ou de como desvendar os mistérios do cenário para poder passar de fase. Um nível particularmente notável envolve a reorganização de certos objetos com base em conhecimento astronômico, sem dúvida alguma o puzzle mais empolgante do jogo. Talvez pensando para a época do lançamento do jogo, não seja um trabalho necessariamente ruim – até longe disso, diria -, mas também não é um grande destaque.
Em termos de jogabilidade, a obra também é limitada, porém eficiente. Em uma dieta de escaladas, momentos que temos que nos pendurar ou passar de forma estreita por cenários complicadas, evitar armadilhas elaboradas e declives, além dos pequenos puzzles práticos que citei, a estrutura linear das fases é simples e repetitiva, mas também divertida e nostálgica, emulando diversas sequências dos filmes. O combate é bem objetivo, com socos, defesas e contra ataques típicos do PlayStation 2 em suas variações restritas de controles, com o chicote sendo o elemento de maior distinção, servindo tanto para as lutas, quanto para progressão pelas fases e remoção de obstáculos. Temos alguns segmentos que podemos usar nossa arma, até com uma dinâmica mais difícil do que o restante da gameplay e que exige timing do jogador, mas é uma pena como os movimentos são restringidos nesses blocos. Quando estamos em um veículo ou então em um tiroteio em movimento, o jogo varia um pouco melhor a interação com o combate, sendo essas as melhores partes da obra, incluindo o desfecho fantasioso que precisamos enfrentar inimigos em uma motocicleta atravessando o Mar Vermelho aberto mais uma vez pelo Cajado de Moisés.
Indiana Jones e o Cajado dos Reis está longe de ser uma obra-prima do gênero de aventura como os primeiros filmes da franquia cinematográfica, mas ainda é um jogo divertido e um bom passatempo que resgata diversos elementos da cinessérie, tanto em termos narrativos quanto no sentimento de pura aventura adaptado para o mundo dos games, desbravando locais secretos, cenários ancestrais e artefatos esquecidos ou escondidos, sempre com aquele toque místico que dá um sabor a mais para a jornada. A jogabilidade limitada, as missões um tanto repetitivas e restringidas, a história relativamente superficial e a falta de uma qualidade de exploração certamente atrapalham o resultado final da obra, mas para quem é fã do Indy e para quem gosta de jogos de aventura, mesmo um mais datado como esse, o game é uma boa pedida e um exemplar que agrega para a mitologia e para a franquia do icônico arqueólogo.
Indiana Jones and the Staff of Kings
Desenvolvedora: Artificial Mind & Movement
Lançamento: 09 de junho de 2009
Gênero: Ação, Aventura
Disponível para: Nintendo DS, PlayStation 2, PlayStation Portable, Wii