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Crítica | Indiana Jones e o Perigo em Delfos, de Rob MacGregor

Um jovem e petulante Indy.

por Kevin Rick
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Indiana Jones e o Perigo em Delfos (tradução livre) é a primeira história de uma série de livros do grande ícone cinematográfico. Lançado pouco antes de O Jovem Indiana Jones, a obra dá início a uma jornada literária que se passa vários anos antes dos eventos de Os Caçadores da Arca Perdida. Prelúdios e tie-ins de filmes não são normalmente obras-primas, ficando aquém dos materiais originais, mas é inevitavelmente curioso saber um pouco mais do cânone e do que outros criadores podem trazer para a mitologia de personagens queridos. Escrito por Rob MacGregor, este primeiro volume é situado em 1922, acompanhando um jovem Indy estudando linguística em Paris. Apesar de estar quase formando, o protagonista tem pensamentos de mudar sua carreira para arqueologia, inclusive pegando algumas aulas da matéria. Sua professora de arqueologia grega, Dorian Belecamus, percebe a inclinação e o talento de Indy, convidando-o para uma expedição à Delfos – cidade grega que na antiguidade era conhecida como o “centro do mundo” – com intenção de supervisionar a recuperação de um achado arqueológico, mais especificamente o Ônfalo, uma pedra sagrada que tem relação com o mito do oráculo Pítia, descoberto recentemente após um terremoto na região. Gradualmente, porém, Indy percebe que a viagem guarda segredos, muitos deles envolvendo sua professora misteriosa e uma organização que acredita que ela é o novo oráculo.

A premissa do livro é puro suco de Indiana Jones: uma expedição histórica com camadas políticas, um MacGuffin místico que todos os personagens querem e uma facção perigosa com intenções sombrias – temos até um sidekick mirim. A fórmula funciona por uma razão, com o início do livro agarrando o leitor rapidamente para a narrativa e para os questionamentos do que Indy está procurando e enfrentando em sua viagem para Delfos. O pano de fundo da mitologia grega é mais do que adequado, com diversas referências à Apolo e outros deuses, trazendo aquele ar gostoso de uma aventura histórica cheia de curiosidades da antiguidade com camadas sobrenaturais que a franquia sempre trabalhou tão bem. MacGregor tem um estilo de escrita mais de queima lenta do que necessariamente de uma diversão ligeira, então boa porção do curto livro é dedicada para o estabelecimento do mistério, com revelações sendo gradualmente construídas, motivações escondidas e coadjuvantes surgindo a passos largos (o grupo de figuras ao redor do Indy é bem simpático). A própria professora Belecamus agrega para essa sensação de mistério, caracterizada como uma femme-fatale, sedutora e dissimulada na mesma medida. A abordagem enigmática (no sentido de construção narrativa, não de puzzles) me surpreendeu positivamente, apesar de MacGregor passar um pouco do ponto com a preparação (só chegamos na aventura de fato em torno de 100 páginas de leitura).

Quando a aventura efetivamente chega, o livro deixa a desejar. Todo o conceito da trama é autocontido e com uma qualidade de intriga política, quase que completamente concentrado em um único sítio arqueológico com partes explicativas sobre disputas de poder, o que, de certo ponto, faz sentido para uma “primeira” aventura de Indy, mas que também perde o leitor em termos de escopo e de possibilidades de cenários variados. Falta ao autor aquele tato para criar emoção, para instigar nossa imaginação com as set-pieces da franquia, com um ou outro trecho literário carregando um sabor mais cinemático. É como se a história por trás do conflito ganhasse maior espaço do que o sentimento de aventura, sendo que a obra pouco se aproveita de quebra-cabeças também. Ainda assim, MacGregor se sai bem quando beira o místico, com alguns blocos puxando ali elementos do horror de Indiana Jones e o Templo da Perdição (com pouca violência, mas com o mesmo conceito de uma aventura bem sobrenatural conectada com profecias e seitas milenares). À medida que revelações vão sendo feitas e que o background mitológico tem maior espaço, o autor parece se soltar, deixando Indy finalmente se aventurar de verdade.

Essa gradual “libertação” do protagonista (e da aventura em si) é meio que natural para a abordagem introdutória de Indiana Jones e o Perigo em Delfos, que pega um Indy que já é petulante e corajoso, mas que ainda é hesitante e que fica à mercê de Belecamus por boa parte da história. De maneira geral, o livro é uma grande apresentação: aprendemos como o personagem se apaixonou por arqueologia; como iniciou sua jornada por expedições perigosas; como se tornou suscetível a acreditar no sobrenatural; e coisas do tipo – até penso que a obra tem problemas de continuidade com O Jovem Indiana Jones, que tem muitos dos mesmos elementos de introdução. A inocência do protagonista está intrinsicamente aliada com as amarras da história, que é sim boa, principalmente em termos de mistério, de construção do pano de fundo histórico-político, da qualidade mística da trama e de muitos bons coadjuvantes, mas que vacila no nervo principal da franquia: a emoção da aventura. Mesmo sabendo que a literatura é mais limitada nesse sentido, penso que MacGregor pode fazer um trabalho melhor nos próximos prelúdios com um Indiana Jones já mergulhado no seu elemento comum.

Indiana Jones and the Peril at Delphi — EUA, 1991
Autor: Rob MacGregor
Editora original: Bantam Books
Páginas: 248

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