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Crítica | Invasão Secreta – 1X01: Resurrection

O retorno de Nick Fury!

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Quando o Marvel Studios – depois da infelizmente finada Marvel Television – enveredou pelas séries de TV, ampliando seu leque de ofertas, ele exagerou. Foram nada menos do que oito séries e minisséries (nove se computarmos Eu Sou Groot) que reutilizaram personagens oriundos dos filmes e apresentaram outros ainda inéditos no Universo Cinematográfico Marvel e isso sem contar com dois especiais, tudo em um período de menos de dois anos e apenas na Fase 4 que, no mesmo espaço de tempo, teve sete longas-metragens. Apesar de a empreitada na telinha ter sido, para mim, muito mais positiva do que negativa, ela foi inegavelmente estafante, contribuindo seriamente para aquela fadiga de obras do gênero que, pelo menos no meu caso, continua firme e forte.

Por isso é que, pelos mais diversos fatores, quando o estúdio decidiu reformular a cadência de lançamentos de suas novas séries e filmes, espaçando-as de maneira mais civilizada, minha reação foi de alívio. E, mais ainda, quando Invasão Secreta, protagonizada pelo Nick Fury de Samuel L. Jackson, sumido já há bastante tempo, passou a ser a primeira série (uma minissérie, na verdade) da Fase 5 desse universo sempre em expansão, apreciei a possibilidade de um retorno ainda que momentâneo a tempos mais simples com menos trajes espalhafatosos e um pouco mais de pé no chão. E, para já afastar aquela argumentação que indaga o porquê de os super-heróis existentes não serem chamados para lidar com uma crise como a apresentada em Resurrection, minha resposta é simples: porque não é necessário, porque já cansou e porque é muito mais desafiador seguir o caminho de humanos normais lidando com ameaças incríveis do que colocar um sujeito dentro de uma armadura para lidar com todos os problemas. E, mesmo que super-heróis acabem aparecendo – a presença de Don Cheadle no episódio é um óbvio indicativo disso que eu espero que não se materialize como Máquina de Combate ou Patriota de Ferro ou seja lá o que ele decidir ser agora -, torço para que o foco permaneça em Fury e em Talos, o Skrull bonzinho encarnado por Ben Mendelsohn que nos foi apresentado em Capitã Marvel.

Feito esse preâmbulo, vamos à Invasão Secreta, que é uma adaptação da saga homônima em quadrinhos escrita por Brian Michael Bendis e publicada entre 2008 e 2009 pela Marvel Comics e que tem como premissa uma “invasão silenciosa” dos Skrulls à Terra que, transmorfos que são, passaram a sequestrar humanos importantes, inclusive super-heróis, e a substituí-los, lentamente assumindo posições estratégias pelo mundo. Tratava-se, claro, de uma roupagem marveliana aos filmes semelhantes de invasão alienígena dos anos 50 e 60 que, por sua vez, representavam a paranoia estabelecida pela Guerra Fria, algo que a série tenta replicar ao introduzir a história na Rússia, estabelecendo que Skrulls rebeldes e desgostosos com a alegada inação de Fury e de Talos em achar um novo lar para eles, passaram a usar as usinas nucleares abandonadas por lá como esconderijos que servem ao mesmo tempo de lar e quartel-general para sua invasão em razão de sua fisiologia ser imune à radiação.

Essa premissa – em linhas gerais, claro – já havia sido usada pelo próprio Marvel Studios em Capitão América 2: O Soldado Invernal, ainda um de seus melhores filmes, e Invasão Secreta sabiamente mantém a mesma abordagem mais pé no chão e mais madura do referido longa para tudo o que vemos nesse primeiro episódio que funciona muito bem para alinhavar a história e reestabelecer Nick Fury como uma peça importante nessa vasta engrenagem. Não é um início extraordinário, de fazer o queixo cair, nem nada disso, mas ele promete não só colocar Fury pela primeira vez como efetivo protagonista solo de alguma obra do UCM, algo que já deveria ter acontecido antes, aliás, como entregar uma história de intrigas e traições que se cerca de uma aura clássica e elegante, sem deixar de facilmente fundir-se ao universo macro em que se insere.

Para fazer isso, o roteiro co-escrito por Kyle Bradstreet (o showrunner egresso de Mr. Robot) e Brian Tucker (que tem apenas Linha de Ação em seu currículo) bebe bastante da mitologia de Fury estabelecida no UCM, notadamente do que vemos em ao final de Guerra Infinita, em que ele vira pó, e dos acontecimentos de Capitã Marvel, em que ele conhece os Skrulls, especialmente Talos. No entanto, o Nick Fury de Invasão Secreta é um homem profundamente mudado, envelhecido e entristecido, algo que o roteiro martela verbalmente muito mais vezes do que realmente necessário, com o blip de Thanos contribuindo para ele decidir abandonar o planeta para ajudar na construção de uma base espacial de defesa, ainda que seja evidente que há mais por trás de sua decisão abrupta. Esse desfazimento da imagem do Fury badass do UCM é bem-vindo e Jackson recria muito bem seu icônico personagem, mantendo a sombra do que foi em xeque pela pessoa que ele agora é, ainda que eu vislumbre um retorno mais padrão – do tipo “sem barba, com tapa-olho, roupa de couro e um trabuco” – muito em breve (mas eu espero estar enganado).

Em termos de estrutura, Resurrection faz bons e breves usos de Martin Freeman como um Skrull infiltrado e de Cheadle como assessor do Presidente dos EUA, além da imponente presença de ninguém menos do que Olivia Colman como Sonya Falsworth (personagem criada para a série), uma agente do MI6 que é antiga conhecida de Fury e que parece ter interesses de certa forma opostos a ele. Essa ampliação de escopo logo nesse começo, usando Everett K. Ross como ponta de lança para a premissa de que qualquer pessoa pode ser alienígena, é importante para o desenvolvimento da narrativa e para marcar bem o escopo amplo da invasão silenciosa, além de contribuir para a reconstrução, de seu próprio modo, da atmosfera de Guerra Fria que mencionei no começo. Por seu turno, a participação especial de Cobie Smulders como Maria Hill cumpre sua função de ser o sacrifício importante e necessário para nos informar que a minissérie quer apostar alto, ainda que eu tenha lá minhas dúvidas se ela vai mesmo seguir por esse caminho.

No lado puramente alienígena, é sempre um prazer ver Mendelsohn atuando e sua parceria como Jackson promete render bons frutos. Por seu turno, o núcleo vilanesco é ainda acanhado, com Emilia Clarke como a traiçoeira G’iah, filha de Talos, e  Kingsley Ben-Adir como Gravik, líder dos Skrulls invasores, não exatamente conseguindo mostrar a que vieram para além do básico que se espera de personagens assim, algo que vitimou Falcão e o Soldado Invernal, por exemplo. Espero que eles ganhem espaço e complexidade na trama e que seus planos de dominação mundial não sejam apenas o que está na superfície.

Invasão Secreta começa muito bem e o retorno de Nick Fury é uma ótima maneira de se inaugurar as séries da Fase 5 do UCM. Resta torcer para que o que foi apresentado nesse início não se perca em abordagens que apenas ensaiam ser algo mais do que o básico, mas que, na verdade, são repletas de saída fáceis e conveniências de roteiro como seria trazer seres superpoderosos para esse jogo de espionagem e infiltração. O gênero de super-heróis precisa, às vezes, deixar seus personagens mais coloridos no banco de reservas e enveredar por caminhos com menos fogos de artifício e essa minissérie é o veículo perfeito para isso.

Invasão Secreta – 1X01: Resurrection (Secret Invasion – EUA, 21 de junho de 2023)
Desenvolvimento: Kyle Bradstreet
Direção: Ali Selim
Roteiro: Kyle Bradstreet, Brian Tucker
Elenco: Samuel L. Jackson, Cobie Smulders, Ben Mendelsohn, Kingsley Ben-Adir, Emilia Clarke, Martin Freeman, Olivia Colman, Don Cheadle, Killian Scott, Samuel Adewunmi, Dermot Mulroney, Richard Dormer
Duração: 55 min.

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