Home Música Crítica | “Jordi” – Maroon 5

Crítica | “Jordi” – Maroon 5

por Kevin Rick
1,7K views

É difícil pensar em uma banda que mais se rendeu ao mercado do que Maroon 5. O grupo musical liderado pelo vocalista Adam Levine explodiu nos anos 2000 com um rock funk que misturava jazz e pop, e aos poucos foi se submetendo ao sucesso comercial, seguindo todas as possíveis tendências de pop, participações estratégicas com rappers, inserção de batidas traps genéricas e a venda da figura de Adam Levine como popstar lascivo e banal. E, bem, considerando que Maroon 5 é uma das poucas bandas com consistência nas paradas de sucesso, a fórmula certamente funciona, mas não sem seu preço artístico.

Jordi, álbum nomeado em homenagem a Jordan Feldstein, o gerente da banda e amigo de infância de Levine, que faleceu em 2017, é o mais novo lançamento de um grupo musical que encontrou o fundo do poço autoral ao trazer sua obra mais calculada para agradar o máximo possível do “grande público”. É o costumeiro negócio e mercantilização musical ao dar às pessoas exatamente o que elas esperam atualmente, desde músicas sintetizadas, letras luxuriosas e vazias de verdadeira sensualidade, participações de figuras centrais do pop/hip-hop e o desejo de ser um hit de verão sem personalidade.

Beautiful Mistakes estabelece o tom de clichê romântico pré-adolescente que se tornou marca da banda há mais de uma década. Uma canção embebida em traps genéricos e a pegada de house tropical tão famosa em músicas de hip-hop e eletrônicas, com letras como “nah nah nah” e “ayy ayy“,  sobre dor de cotovelo e sensualidade barata como “beautiful mistakes I make inside my head / She’s naked in my bed”, Maroon 5 demonstra ao que veio na sua primeira faixa: criar música de shopping. O fato da rapper Megan Thee Stallion injetar algum nível majestoso de personalidade nessa faixa demonstra a autoridade de uma artista dona de seu próprio estilo, mas mostra o outro lado negativo de Maroon 5, confortável em orbitar o sucesso de outros músicos em sua própria obra, cada vez mais escravo do sucesso a qualquer custo identitário.

O restante do álbum, creditado com 47 escritores, é puro conformismo convencional em canções formuladas com precisão de ganchos, sintetizadores e rimas previsíveis encaixando em cada lugar comercial. Honestamente, acho que nunca tinha ouvido um álbum tão transparente em sua proposta vendida. Can’t Leave You Alone, em parceria com Juice WRLD, mantém a pegada de romance banal em letras como “In a strip club tryna get all the pretty girls to dance / Yeah, yeah, yeah, huh / I remember back in high school, they said I wouldn’t stand a chance.”, cheio de outras convenções do mercado como distorções vocais e uma melodia que parece ter saído de um SoundCloud rap.

O single Memories, também uma forma de homenagem à Jordan, é uma das duas músicas que gostei no álbum, até porque é capaz de trazer algum nível de emoção com a letra sobre luto e tragédia, mas em contraponto, a melodia continua pálida, cheio de “doo doo doo” e uma guitarrinha meio pop-acústico – me pergunto onde foi parar o jazz de Maroon 5, que seria perfeito nesta canção. Convince Me Other Way é a única canção que realmente me senti ouvindo algo fora de uma embalagem comercial, onde a sensacional H.E.R. entrega vocais cativantes em uma espécie de soul oitentista diluído em sintetizadores psicodélicos. Novamente, Maroon 5 é acompanhante do artista convidado, mas o dueto entre o falsetto de Levine e a voz áurea de H.E.R. finalmente entregam algo sonoramente diferente no álbum.

Infelizmente, entre letras como “living young and dying fast”, de Remedy, e “would you stay if I’m broke?”, de Lifestyle, o álbum como um todo oferece uma jornada desgostosa por todos os parâmetros “corretos” e fórmulas de pop que ditam o mercado atual, desde canções exaltando o estilo de vida luxuosa e a depreciação da mulher, melodias sintetizadas mergulhadas em batidas habituais de trap e tropical house, até o “rock” cada vez mais subjugado a um arranjo simples para permitir os cantos de “na na na” e acordes limpos sem atrito. As participações trazem alguma energia e personalidade, seja por bem (H.E.R.) ou por mal (Jason Derulo), à Jordi, mas não retiram Maroon 5 da sua zona de conforto musical. Uma banda que personifica o sellout em cada nova produção que parece se afastar ainda mais de suas raízes artísticas para manter o status de estratégia comercial. O resultado está aí sempre que eles tem mais um hit e continuam no topo das bandas mais ouvidas pelo globo, mas o preço artístico parece estar sempre aumentando.

Aumenta!: Convince Me Other Way
Diminui!: Todo o resto!
Minha canção favorita do álbum: Convince Me Other Way

Jordi
Artista: Maroon 5
País: Estados Unidos
Lançamento: 11 de junho de 2021
Gravadora: Interscope Records, Polydor Records, 222
Estilo: Pop, Tropical House, Hip-Hop

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais