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Crítica | Kill List (2011)

por Kevin Rick
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Lançado em 2011, Kill List é um filme de terror britânico de baixo orçamento, dirigido por Ben Wheatley, um cineasta que posteriormente ficaria conhecido por sua linguagem cinematográfica, digamos, confusa, ou pelo menos aleatória. Essa característica de construção fílmica complexa de Wheatley já pode ser vista em Kill List, o segundo longa-metragem do diretor britânico, que inicialmente parece um drama familiar sobre um casamento ruim, e aos poucos se desenvolve como um thriller mesclado com ocultismo.

A história acompanha Jay (Neil Maskell), um ex-soldado que desde que deixou o exército, se tornou um assassino contratado, trabalhando junto de seu parceiro Gal (Michael Smiley), também com envolvimento da sua esposa, Shel (MyAnna Buring). No início da fita, descobrimos que Jay está afastado do ofício há oito meses, após um acontecimento ruim em um trabalho em Kiev. Uma noite, Gal chega na casa de Jay para jantar, contando que recebeu uma oferta de contrato para eliminar as pessoas de uma “lista de mortos”, e quer que um Jay relutante suba a bordo e o ajude. Eventualmente, o protagonista aceita retornar à parceria, entrando em uma sucessão de circunstâncias estranhas com a Kill List e seus contratantes misteriosos.

Como disse, Wheatley preza por uma mescla de gêneros e estilos para organizar sua mise-en-scène. O cineasta é bem inteligente na construção cênica dos diferentes elementos que aborda, organizando sua narrativa em diferentes blocos narrativos com uma boa premissa visual. Inicialmente, o diretor imprime um realismo com os dramas domésticos do casal, nos situando da vida familiar problemática de Jay e Shel, ao mesmo tempo que usa em seu favor o baixo orçamento para situar a audiência em um meio simplório e cotidiano (de certa forma até minimalista nos vários planos próximos e o ritmo mais vagaroso e introspectivo), exercendo o tom realista.

Após Jay aceitar o contrato, Wheatley muda quase que por completo a dinâmica narrativa, se afastando da relação matrimonial para nos aprofundar no thriller de hitman do protagonista com seu parceiro Gal. Novamente, o cineasta trabalha bem o diferente bloco narrativo, nos oferecendo no segundo ato um horror de violência gráfica e chocante. Existe um aspecto cru com o crime, até algo underground britânico, que é estranhamente eficaz em termos visuais de mistério, com o crescendo de sequências sinistras que o diretor cria.

É nesse ponto do mistério que Kill List encontra sua maior qualidade em termos de atmosfera. Mesmo fazendo uma transição inicialmente abrupta e estranha entre os dois atos iniciais opostos, Wheatley mantém um ótimo ambiente de incógnita. Desde as lutas matrimoniais até os chocantes assassinatos, a obra tem como base um sentimento de mau presságio; pequenas pontuações que criam uma sensação de pressentimento e/ou anunciação de um futuro mau agouro.

A falta de respostas ajuda nesse sentido, e então Wheatley te mantém engajado com a narrativa sinistra, uma espécie de curiosidade mórbida, tanto de Jay quanto do espectador, para o desenrolar dos fatos bizarros que acompanham a lista dos mortos.  Os problemas acontecem no terceiro ato, em que o diretor britânico novamente revira a narrativa para adentrar na parte oculta e de seita da história, pois ao invés de recompensar o espectador, seja com respostas e/ou um bom clímax de atmosfera, Wheatley parece se perder em encontrar um desfecho que une seus diferentes tons e gêneros.

Do início realista ao thriller e ao horror inexplicável do fim, Kill List se desmorona como uma obra que constantemente cria mistério e uma atmosfera enigmática em prol de uma aleatoriedade vazia, perdida em conectar seus dramas, elementos visuais e questionamentos em um final coeso. O que acontece com Jay é uma tragédia ou é uma ambiguidade? Não sabemos e não entendemos nada. E não é nem uma reclamação por explicação (o que a obra nunca propõe), mas a sensação de que Wheatley apenas está jogando um monte de elementos e estilos que não fazem sentido juntos, seja tematicamente ou narrativamente, em prol de um investimento atmosférico que não é recompensado. Ainda assim, Ben Wheatley se mostra um excelente diretor em termos de construção cênica de cada ato, só falta fazer sentido de toda essa mescla, uma característica que infelizmente continua acompanhando sua frustrante carreira.

Kill List – Reino Unido, 2011
Direção: Ben Wheatley
Roteiro: Ben Wheatley, Amy Jump
Elenco: Neil Maskell, MyAnna Buring, Michael Smiley, Emma Fryer, Struan Rodger, Harry Simpson
Duração: 95 min.

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