O documentário Leviatã: A História de Hellraiser 2, dirigido por Kevin McDonagh e roteirizado por Gary Smart, nos oferece uma visão profunda sobre a produção do segundo filme da icônica franquia de terror, conhecida por seu cenobita central, Pinhead, interpretado por Doug Bradley. Com 120 minutos de duração, essa obra explora os múltiplos desafios enfrentados pela equipe em uma sequência particularmente complexa e que tentava vencer a sombra deixada pelo primeiro filme, que foi não só dirigido por Clive Barker, mas também criado por ele. O documentário se posiciona como o mais longo dos três produzidos para o lançamento especial em mídia física em 2015, e, embora apresente detalhes fascinantes e converse com a rica mitologia da franquia, também sofre com um ritmo que se estende em demasia, gerando certo desconforto no espectador que anseia por um fluxo mais ágil e conciso. Um dos grandes temas tratados no documentário é a pressão e a apreensão sentidas pelo cineasta Tony Randel, que assumiu uma tarefa monumental ao substituir Clive Barker na direção. Ele não apenas delineou a visão inicial do universo em questão, mas também infundiu a narrativa com uma intensidade emocional e psicológica que se tornou marca registrada do filme.
Randel, por sua vez, precisou não apenas reproduzir essa essência, mas também expandi-la, o que representa um desafio criativo significativo. Doug Bradley, o ator que dá vida ao icônico Pinhead, traz à tona um interessante paralelo com as óperas, sugerindo que este segundo filme não apenas continua a história de seu antecessor, mas a intensifica e eleva, oferecendo um aprofundamento na narrativa que certamente frustraria qualquer tentativa de mera repetição. Além da direção, o roteiro foi outra área repleta de tensão criativa, especialmente para Peter Atkins, o roteirista da sequência. A pressão dos produtores para que ele superasse a obra de Clive Barker adicionou uma camada de complexidade ao processo criativo, refletindo uma dinâmica comum em produções cinematográficas onde o legado do primeiro filme pesa consideravelmente. Os entrevistados, destacando a estética com uma atmosfera de pesadelo, concordam que os efeitos práticos, combinados com interpretações dramáticas em cenários imaginativos, contribuíram para uma experiência cinematográfica mais autêntica e impactante.
Essa abordagem contrasta fortemente com a dependência de efeitos digitais que caracterizam muitos filmes contemporâneos, solidificando a estética única de Hellraiser em um gênero repleto de inovações tecnológicas. Além do aspecto técnico e criativo, o documentário também se debruça sobre a recepção crítica e o legado cultural que se estabeleceu. O filme e seu desdobramento da história dos cenobitas, incluindo a transformação de humanos em criaturas das trevas, adquirem uma nova profundidade com o delineamento da biografia de Pinhead. Os críticos, muitos dos quais não conseguiram entender as complexas metáforas presentes no filme, como foi o caso do crítico Barry Norman, foram convidados a explorar o processo criativo e reconhecer como o filme, embora envolto em camadas de horror, carrega profundas discussões sobre a natureza humana e a dor. O documentário, portanto, não apenas oferece uma visão dos bastidores, mas também comenta sobre a percepção do público e a relevância cultural da franquia, destacando a figura de Pinhead como um ícone da cultura pop contemporânea.
Em linhas gerais, Leviatã: Os Bastidores de Hellraiser 2 é uma interessante exploração do processo de criação cinematográfica que transcende o próprio filme, funcionando como um testemunho da complexidade envolvida na produção de sequências no cinema de terror. Embora apresente uma narrativa um tanto arrastada em alguns momentos, a profundidade das entrevistas e a análise crítica da obra conferem ao documentário um valor indiscutível. Ele não apenas celebra o legado da criação de Clive Barker, mas também proporciona uma introspecção sobre as dinâmicas criativas e as expectativas que moldam a indústria do entretenimento. A jornada continua a influenciar gerações e a consolidar a figura de Pinhead como um símbolo complexo no horror cinematográfico. Como feito na audiência do primeiro documentário, retomei a sequência para observar os pontos retratados nesta produção, destacando alguns tópicos reflexivos.
Lançado em 1988, este é uma sequência direta do cultuado primeiro filme. A narrativa, com suas imagens assustadoras, expande a mitologia da franquia e aprofunda temas de dor, prazer e a natureza do mal. Desta vez, a trama aprofunda significativamente a origem dos cenobitas e do Labirinto. O conceito de um mundo de tortura e prazer é explorado de maneira mais ampla, dando ao público percepções mais profundas sobre os cenobitas e suas origens. O uso do Labirinto como um espaço metafórico e físico reflete a psicologia dos personagens. É uma representação visual dos seus medos e desejos, o que intensifica a sensação de claustrofobia e desespero, além de criar uma atmosfera onírica e de horror psicológico. A protagonista Kirsty é um personagem que lida com a perda e o trauma de forma intensa. Sua luta contra os demônios de sua mente é tanto literal quanto figurativa, refletindo a luta interna que muitos enfrentam após experiências traumáticas. Agora, temos a proeminente inserção do Dr. Channard, uma representação do lado obscuro da curiosidade científica e da ambição. Sua transformação em um cenobita simboliza o potencial de corrupção que vem com a busca por poder e conhecimento proibido, servindo como um eco da busca por prazer que caracteriza a mitologia do filme.
O filme é notável por seu uso de efeitos práticos e maquiagem, que criam um impacto visual arrepiante. A estética surreal dos cenobitas, em particular, estabelece um tom que é tanto repulsivo quanto fascinante, refletindo a dualidade do prazer e da dor. Há também um interessante debate acerca da dualidade entre a vida e a morte, prazer e dor, é um tema central. A forma como os cenobitas e os personagens humanos interagem destaca a fragilidade da identidade e a luta constante entre a essência humana e as forças demoníacas que a ameaçam. Hellraiser 2: Renascido das Trevas também utiliza elementos de horror psicológico, como os medos internos e as fraquezas humanas, além do terror físico representado pelos cenobitas. Essa combinação faz com que o horror não seja apenas uma experiência externa, mas também uma batalha interna para os personagens. Um dos temas filosóficos mais evidentes no filme é a relação complexa entre prazer e dor. Esta dualidade é central para a filosofia dos cenobitas e levanta questões sobre o que significa verdadeiramente ‘viver’, envolvendo escolhas morais que os personagens devem enfrentar. Ademais, o conceito de morte e ressurreição permeia o filme, especialmente em relação ao Dr. Channard, que busca transcender a mortalidade através da experiência cenobita. Isso ecoa temas de desejo de poder absoluto e as perigosas consequências de tais ambições. Uma trama que continua a narrativa de horror, mas também provoca reflexões sobre escolhas morais e os limites das experiências extremas.
Leviatã: A História de Hellraiser 2 (Leviathan: The Story By Hellraiser 2) — Estados Unidos, 2015
Direção: Kevin McDonagh
Roteiro: Gary Smart, Nicholas Helmsley
Elenco: Doug Bradley, Gary Smart, Nicholas Helmsley, Kevin McDonagh, Andrew Robinson, Clare Higgins, Imogen Boorman
Duração: 120 min