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Crítica | Madre (2016)

por Fernando Annunziata
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Madre é mais um terror de baixo orçamento que, como não tem verbas para um CGI mirabolante, aposta tudo em no roteiro — que necessita se sustentar prioritariamente nos diálogos. Aqui encontramos uma obra que até inova, mas que contém desenvolvimento repetitivo. Na história, Diana (Daniela Ramirez) é mãe do autista de alto grau Martin (Matías Bassi). Ela está esgotada da vida com as necessidades especiais do garoto, até que encontra Luz (Aida Jabolin), uma mulher que promete melhorar a condição de Martin. Logo a mãe aceita a ajuda, porém começa a suspeitar das reais intenções da babá.

O primeiro ato é até interessante, mas o segundo parece repetir o primeiro. Sempre as mesmas cenas, com o mesmo dilema: a mãe cansada do filho que descobre alguma coisa bizarra envolvendo a babá. Esse movimento cíclico, além de nos deixar entediados depois do primeiro ato, ocasiona o maior problema do filme. Como temos várias revelações sobre a babá ao longo da trama, era inevitável que o excesso de pistas deixasse a narrativa previsível. Ainda mais quando a trama fazia a mesma revelação duas vezes, como no caso de Diana utilizando um aplicativo para traduzir o que Luz falava em Filipino e, incrivelmente, descobrindo a mesma coisa sobre a babá.

O final não conversa com o resto do roteiro. As pistas que a narrativa dá não são explicadas e parecem mais jogadas para preencher espaço a fim de estender a duração de Madre. O fim abre mais questões do que responde. Contudo, é interessante como esse final foi produzido. Apesar de ficar muito corrido, são sequências que prendem o espectador pela forma diferente de contar algo: cortes rápidos, repentinos, sem linearidade e com ofuscamento na fotografia que, somados, levam o espectador a entender o que está acontecendo. É uma forma inovadora de montagem que dá certo. 

O que mais salva o filme é a atuação de Matías Bassi. Ele atua brilhantemente como um garoto autista, causando desconfortos no espectador (e aqui é um elogio). A cena em que ele está no mercado e começa a derrubar os produtos da prateleira é tão eficiente que eu me coloquei na pele da mãe, sentindo vergonha e raiva ao mesmo tempo. A atuação de Aida Jabolin, entretanto, é inexpressiva. Talvez isso levante um pouco o ar misterioso que a babá necessitava ter e, às vezes, é melhor manter o mesmo rosto do que tentar expressar algo que ficará forçado. Porém, a mesma expressão durante toda a trama é algo um tanto quanto amador e desrespeitoso com o espectador, não?

A crítica não é mais negativa porque devemos ser mais flexíveis com baixos orçamentos. Não é fácil roteirizar algo que deva se sustentar nas falas e atuações. A nota se refere mais à ousadia do roteirista do que pela obra em si. Precisamos de pessoas com vontade de inovar no cinema! 

Madre é repetitivo e cansativo, mas traz uma montagem ousada. Talvez com um orçamento maior, o roteirista Aaron Burns pudesse apostar em sequências com dilemas diferentes e, assim, ter um filme mais fluído e coerente. De uma coisa temos certeza: corajoso ele é!

Madre – Chile, 2016
Direção: Aaron Burns
Roteiro Aaron Burns
Elenco: Daniela Ramírez, Cristobal Tapia Montt, Aida Jabolin, Matías Bassi, Nicolás Durán, Ignacia Allamand, Cristián Carvajal, Ignacio Furman, Elvira Cristi, Gabriel Urzúa, Fernando Alé, Marlene Vargas Brebes, Steffi Lutz, Aida Cabassa, Andrés Civilic
Duração: 94 minutos.

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