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Crítica | Mayans M.C. -1X02: Escorpión/Dzec

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Livre das amarras impostas pela estrutura padrão de um episódio piloto, que foi particularmente movimentado em termos de apresentação das linhas narrativas, Mayans M.C. tem tempo para respirar logo em seu segundo capítulo, com o roteiro de Kurt Sutter muito mais objetivo e claro, sem atirar para todos os lados. Escorpión/Dzec vem para efetivamente firmar a qualidade da nova série do universo de Sons Anarchy e mostrar que tem um potencial destrutivo talvez ainda maior.

Começando do ponto em que o episódio inaugural parou, vemos os membros dos Los Olvidados, um deles uma criança, sequestrar o filho de Emily e Miguel, como vingança contra o cartel Galindo. O uso de uma estratégia como essa é uma baita aposta de Sutter, já que relativiza todo o grupo rebelde. Afinal, por mais que eles atuem de forma a minar o poder do tráfico de drogas no México, aproximando-se dos EUA, a estratégia é extremamente errada e inaceitável sob qualquer ponto de vista, o que somente acresce em complexidade toda essa teia narrativa, mesmo que objetivo final deles não seja fazer mal à criança.

Se, por um lado, Miguel fica enlouquecido com o sequestro, por outro ele está de mãos atadas, pois a retaliação pode significar o fim de Cristóban. Vemos, aí, um traço de humanidade no torturador frio e sádico que ele novamente mostra ser no seu quartinho nos fundos de uma fábrica de roupas. No entanto, é um traço tênue que é logo apagado pela influência nefasta que Devante (Tony Plana), seu conselheiro, e sua própria mãe exercem sobre ele, revelando o verdadeiro destino de seu irmão mais velho que jamais conhecera e que achava que havia falecido em razão de pneumonia. Ao revelarem a ele que, diferentemente do que sabia, Cristóban (seu irmão) fora sequestrado pelo cartel rival e seu pai, em resposta, destruiu seus inimigos sacrificando o filho no processo, Miguel cede e inicia o que pode significar um banho de sangue contínuo.

Claro que é um pouco desconcertante que Adelita (Carla Baratta), líder dos Los Olvidados não tenha pensado nessa possibilidade, o que revela um certo amadorismo em um grupo que parecia muito bem organizado e praticamente invencível. Qualquer cinéfilo poderia deduzir a reação de Miguel e a surpresa dela estica um pouco a corda da suspensão da descrença e deixa entrever uma conveniência de roteiro desnecessária e que talvez pudesse ser evitada dentro de uma outra estrutura. Afinal, isso só pode levar, em tese, a dois resultados, ou seja, ou Adelita devolve a criança ou ela permite que as mortes continuem, e é improvável que os rebeldes aceitem a morte de inocentes. Veremos como Sutter desamarrá essa armadilha que ele mesmo criou para si.

No meio dessa tensão, os Mayans ficam desesperados e é muito interessante reparar que o ponto de ruptura entre eles e o cartel Galindo não parece estar muito distante. Com Miguel cada vez mais tragando-os para esse mundo de que eles não querem fazer parte, o enfrentamento das ordens passa a espalhar-se entre praticamente todos ali, inclusive Bishop, que já havia demonstrado desagrado em relação a essa promessa de Alvarez ao finado pai de Miguel. Considerando a dissidência dentro do próprio motoclube liderada por Angel, o pavio que leva à dinamite parece cada vez mais curto.

E isso porque eu nem abordei a situação específica de EZ, conectado de quatro maneiras diferentes com isso tudo. Não só ele é membro dos Mayans, como da dissidência e, ele próprio, juntamente com o pai, formam uma terceira vertente conectada com o FBI, que quer desmantelar o cartel Galindo. Finalmente, há sua antiga relação com Emily, que o faz ficar especialmente revoltado com o sequestro. Essa situação toda vem correndo com surpreendente velocidade, colocando EZ contra a parede muito rapidamente, algo que, ao mesmo tempo que me agrada, me deixa receoso pela longevidade da série.

Lógico que Sutter tem um plano de médio prazo pelo menos e ele sabe qual é a chave que vai libertar EZ dessas correntes todas que o colocam em uma situação impossível, mas é inevitável ficar com a cabeça a mil tentando imaginar como é que diabos EZ sairá dessa sinuca de bico. Suspeito que Felipe, seu pai, terá um papel proeminente nessa resolução, com um final potencialmente trágico para o personagem de Edward James Olmos.

Mesmo com foco quase integral no sequestro, o roteiro ainda tem tempo de introduzir novas sub-tramas, especialmente a de El Coco (Richard Cabral) e sua irmã (ou seria filha?) no mercado de pornografia e sua mãe prostituta. Se Sons of Anarchy era como a classe média dos clubes de motoqueiros, Mayans lida com um estrato social menos abastado, em que as diferenças sociais e econômicas são ainda mais contundentes e dolorosas. A abordagem do showrunner parece querer desnudar essa outra camada, sem medo de lidar com temas difíceis e polêmicos. Outra breve linha narrativa lida com um pouco mais do passado de EZ, com um mini-flashback em que vemos sua mãe morta (ou quase) sendo levada em uma ambulância oito anos antes, algo que provavelmente tem conexão com o assassinato que ele cometeu.

Aguardava Escórpion/Dzec com ansiedade para ver como a série continuaria depois do tumulto inicial que, apesar de bom, teve mais problemas do que talvez um piloto devesse ter. Mas Sutter definitivamente saiu-se bem aqui e já deixa claro que seus Mayans parecem ter vindo para ficar.

P.s. Quem abriu um sorriso quando Chuck (Michael Marisi Ornstein) e suas próteses apareceram ali no ferro-velho levante o dedo (com trocadiho…)!

Mayans M.C. – 1X02: Escorpión/Dzec (EUA – 11 de setembro de 2018)
Criação:  Kurt Sutter, Elgin James
Direção: Norberto Barba
Roteiro: Kurt Sutter
Elenco: J.D. Pardo, Sarah Bolger, Michael Irby, Carla Baratta, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Antonio Jaramillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Maurice Compte, Frankie Loyal Delgado, Joseph Raymond Lucero, Clayton Cardenas, Tony Plana, Michael Marisi Ornstein
Duração: 55 min.

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