Home FilmesCríticasCatálogosCrítica | Milk: A Voz da Igualdade

Crítica | Milk: A Voz da Igualdade

Uma cinebiografia sobre temas completamente relevantes ainda no contemporâneo.

por Leonardo Campos
369 views

Lançado em 2008, Milk: A Voz da Igualdade é um aclamado filme dirigido por Gus Van Sant, com roteiro de Dustin Lance Black, que retrata a vida de Harvey Milk, o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público na Califórnia, como membro da Câmara de Supervisores de São Francisco. Visualmente interessante, com a direção de fotografia de Harris Savides, adequada na composição narrativa, bem como uma trilha sonora envolvente de Danny Elfman, responsável por acentuar os seus diversos momentos emocionais, a trama começa em 1972, quando Milk se muda de Nova Iorque para São Francisco com seu namorado, planejando abrir uma loja de fotografias na rua Castro, em um momento em que gays enfrentavam intensa discriminação. Apesar dos desafios, o protagonista se estabelece como uma figura carismática e bem-humorada, e rapidamente se torna um símbolo da luta pelos direitos dos homossexuais, apresentado ao público ao longo de 128 minutos de trama.

O filme explora a luta por direitos civis da comunidade gay na década de 1970, mostrando como Milk se tornou uma figura central nesse movimento e seu papel na promoção da igualdade e da aceitação, além de abordar a descoberta e aceitação da própria sexualidade, tanto de Milk quanto de outras pessoas da comunidade, além dos desafios enfrentados por aqueles que se assumiram. O roteiro é sábio ao retratar a importância da representação política, enfatizando as dificuldades que Milk enfrentou em sua carreira política e sua determinação em fazer a diferença, tendo também como foco mostrar como o protagonista organizou e mobilizou a comunidade LGBTQ+ em São Francisco, incluindo a criação de associações e eventos que promoviam a solidariedade. O longa retrata a homofobia e a discriminação presentes na sociedade da época, incluindo a proposta de lei anti-gay de Briggs, que abordava a possível demissão de professores homossexuais, uma pauta debatida e resolvida em muitas frentes, mas constantemente retomada ainda na contemporaneidade, mesmo com todos os nossos avanços e batalhas.

Ademais, o filme também foca nas relações pessoais de Milk, incluindo seus relacionamentos românticos, amizades e o impacto que a política teve em sua vida pessoal, ao retratar retrata os conflitos internos e externos que ele enfrentou, incluindo a oposição política e os desafios emocionais de ser um pioneiro no ativismo gay. Ao explorar o legado de Harvey Milk e o impacto que suas ações tiveram na luta pelos direitos LGBTQ+ subsequente, inspirando futuras gerações de ativistas, a produção evita o tom novelesco que a saga do personagem poderia se tornar num viés ficcional, com o seu desfecho culminando no trágico assassinato de Milk e do prefeito George Moscone, abordando o impacto dessa perda na comunidade e a luta contínua por direitos e igualdade.

A determinação de Harvey Milk, numa brilhante interpretação de Sean Penn, em lutar por igualdade e direitos civis transforma-o em um líder político respeitado, liderando campanhas nacionais em prol da comunidade LGBTQ+. Sua habilidade em unir diferentes grupos e atrair apoiadores, até mesmo de figuras conservadoras como Ronald Reagan, ilustra a abrangência de sua influência. O filme não apenas narra sua trajetória pessoal e política, mas também destaca a importância da mobilização e do ativismo em face da opressão. Assim, sua trajetória se tornou um marco na luta pelos direitos humanos, mostrando como sua coragem e visão contribuíram para a mudança social, fazendo de Milk: A Voz da Igualdade uma produção cativante e coesa em seu desenvolvimento. O filme recebeu indicações ao Oscar de 2009 em oito categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator para Sean Penn e Melhor Ator Coadjuvante para Josh Brolin. Além dessas, a produção também foi indicada a Roteiro Original, Trilha Sonora Original, Figurino e Edição de Imagem, vencendo os prêmios de Melhor Ator e Melhor Roteiro Original.

Essas conquistas enfatizam o impacto e a relevância do filme na representação da luta pelos direitos LGBTQ+. O lançamento do filme em DVD no Brasil gerou controvérsia, particularmente em relação à dublagem. Marco Ribeiro, dublador habitual de Sean Penn no país, recusou o convite para dublar o ator nesta obra, afirmando que “não se sentia à vontade para fazer o filme”. Ribeiro, que já havia dublado Penn em filmes como 21 Gramas e A Grande Ilusão, optou por não participar devido à temática da produção. Em resposta, Marlene Costa, diretora da dublagem, decidiu substituir Ribeiro por Alexandre Moreno. Essa decisão pode ser vista como um reflexo das diversas reações que o filme suscita, destacando a complexidade do diálogo sobre a representação LGBTQ+ em diferentes culturas. Equilibrado em seu desenvolvimento, com uma direção firme de Sant, esta produção emociona e além de entreter, promove reflexões.

Milk: A Voz da Igualdade (Milk, EUA – 2008)
Direção: Gus Van Sant
Roteiro: Dustin Lance Black
Elenco: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, James Franco, Diego Luna, Alison Pill, Stephen Spinella, Victor Garber
Duração: 128 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais