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Crítica | Nosso Sonho (2023)

Um filme que é sobre um sonho plural, mas remete ao Buchecha singular.

por Davi Lima
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Nosso Sonho

A estética cinematográfica chamativa de Nosso Sonho proporciona a sensação de um filme organizado em seus planos e cenas. No entanto, a decupagem, especialmente na montagem e na tradução do roteiro, acaba evidenciando a fragilidade do drama central, dividido entre o medo do “Buchecha sem Claudinho” e a dor de Buchecha ao perdoar o pai.

A aura meio mística da narração de Buchecha antecipa os momentos mais dramáticos, criando um mistério. Contudo, a entrega parece anticlimática no conjunto. A cena inicial com as crianças, em conexão com a natureza, funciona bem, assim como outras, como a sequência pós-chuva de deslizamento no Salgueiro, com o ensolarado que une Buchecha e Rosana (Lellê), ou o clímax do show com a música “Assim Sem Você”. Essas são construções acertadas, mas com um ritmo inadequado.

A cadência do filme não parece acompanhar o que busca biografar. Apesar de o coração da narrativa estar alinhado à relação familiar da dupla de funk, há uma direção que valoriza excessivamente os atores em detrimento do roteiro, sem adaptações que equilibrem essa tradução. A mudança de última hora de Lucas Penteado (que interpretaria Buchecha) e Juan Paiva (que seria Claudinho), motivada por questões de personalidade, indica um olhar excessivamente atento ao drama, mas pouco focado nos tropos narrativos que poderiam enriquecer a história.

A Urca Filmes, produtora do longa, conhecida pelas parcerias de co-produção com Tropa de Elite 2, e com o filme arte de Selton Mello chamado O Filme da Minha Vida, investe em obras com planos bem desenhados na tela, mas com pouca flexibilidade na montagem – especialmente de comparado à obra do Selton. Toda a emoção é conduzida por uma didática rígida, que, embora valorize os atores e a fotografia, não sabe o momento certo de cortar a gravação da cena.

Por isso, as viradas do roteiro soam empobrecidas, quase sem nexo, mesmo com pontes dramáticas compreensíveis. No filme, as coisas simplesmente acontecem, e, mesmo com o caráter teleológico da narração de Buchecha, não há mística suficiente para harmonizar a narrativa, apenas para os planos silenciosos e bem compostos com os atores e a luz (mise-en-scène).

Ao final, Nosso Sonho tenta se desviar do padrão biográfico, mas cai em um ritmo dramático que esmorece suas bases biográficas, inevitáveis em seu propósito e finalização. A homenagem a Claudinho tem sua força temática, mas carece de uma coesão digna de elogios.

Nosso Sonho – Brasil, 2023
Direção: Eduardo Albergaria
Roteiro: Eduardo Albergaria, Daniel Dias, Mauricio Lissovsky, Fernando Velasco
Elenco: Gustavo Coelho, Boca de 09, Juan Paiva, Lucas Penteado, Antonio Pitanga, Isabela Garcia, Marcio Vito, Clara Moneke, Lellê, Juliana Thiré
Duração: 117 min.

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