Há algo de valor em filmes que reúnem um elenco de celebridades consolidadas para deixá-las viver personagens que são, basicamente, versões de seus respectivos estilos em seus mais marcantes papeis. Em O Clube do Crime das Quintas-Feiras, baseado em livro homônimo de sucesso de Richard Osman que, já aviso logo, eu não li e, portanto, não traçarei paralelos, Chris Columbus faz exatamente isso, algo que vale inclusive para o próprio cineasta, já que o longa tem todas as características de sua própria filmografia, ou seja, leveza, humor, atenção ao elenco e uma atmosfera geral de pura diversão descompromissada. Reunindo Helen Mirren, Pierce Brosnan e Ben Kingsley como, respectivamente, Elizabeth, Ron e Ibrahim, que formam o clube do título que, em uma luxuosa residência para aposentados no interior da Inglaterra, tentam desvendar casos reais de assassinatos e acabam se deparando com o assassinato do coproprietário da mansão onde vivem, passando então a fazer uma investigação paralela.
Trata-se, obviamente, de uma simpática homenagem a todo um gênero literário e cinematográfico, especialmente às obras originais de Agatha Christie e às várias adaptações que se seguiram, fazendo dos protagonistas e outros atores que os cercam, como Celia Imre, que vive Joyce, uma ex-enfermeira que é convocada por Elizabeth para fazer parte do grupo temporariamente, Jonathan Pryce como Stephen, marido de Elizabeth que começou a ter sintomas de demência e que passa seus dias jogando xadrez e, na ala jovem, Tom Ellis como Jason, filho celebridade de Ron e Naomi Ackie como Donna De Freitas, policial novata que logo passa ser a informante de Elizabeth, peões de um jogo de identificação por parte do espectador, jogo esse a que o roteiro de Katy Brand e Suzanne Heathcote faz questão de chamar atenção e ajudar. Diria, até, que o longa desnecessariamente apoia-se demais nesse conceito, o que distrai o espectador do foco nos quatro idosos centrais, algo que é ampliado pela teimosia em adicionar novos personagens a cada intervalo de 10 ou 15 minutos.
Obviamente que os crimes investigados são construídos para ficar em segundo plano e, em sua simplicidade e resoluções que não se preocupam muito com lógica, existem apenas para tornar possível a abordagem lúdica do grupo principal e daqueles que gravitam ao seu redor, com Columbus beneficiando-se de equipes de direção de arte e figurinos que emprestam toda a pompa e circunstância à produção e com os atores muito claramente se divertindo em seus respectivos papeis, especialmente Mirren, que é o foco absoluto. A montagem de Dan Zimmerman, que tem diversos filmes de ação em sua filmografia e que trabalhou com Columbus em outro projeto do Netflix, o mediano Crônicas de Natal 2, é errática por vezes, ou acelerando demais ou de menos a narrativa de maneira a encontrar espaço para todo o elenco e para todas as pequenas revelações e reviravoltas que acontecem das maneiras mais diversas, seja por mero uso de celulares, seja pela visita à delegacia local ou à floricultura.
Mas o longa tem um problema talvez maior, que é ele parecer vazio, ainda que nunca de pessoas, obviamente. Faltou mais estofo aos personagens, que parecem, apesar dos esforços dos veteranos, recortes em cartolina ou, no máximo, apenas caricaturas, mesmo que sempre simpáticas e divertidas. O amor imortal entre Elizabeth e Stephen é bonito, mas só; a relação entre pai e filho de Ron e Jason é simpática, mas só; a fleuma e relativa solidão de Ibrahim é tocante, mas só; e a solicitude constante de Joyce, esforçando-se para fazer amigos, é terna, mas só. Os demais personagens, especialmente a comatosa Penny (Susan Kirby) e seu marido John (Paul Freeman), nem mesmo tem espaço para ganharem os descritivos que fiz e que, tenho certeza, alguns acharão injustos. É como se todo os personagens vivessem em vácuo e nascessem por meio de abiogênese: uma hora eles não existem, na outra eles aparecem já inteiramente formados, sem espaço para desenvolvimento. Sim, há diversão no longa (que talvez seja longo demais) e há boas, ainda que esporádicas risadas a serem dadas, mas o drama que dá real vida a cada um dos que transitam pela telinha inexiste ou existe apenas como características inerentes de cada um, como a demência de Stephen, o sindicalismo de Ron, a delicadeza de Joyce, o estoicismo de Ibrahim e a liderança de Elizabeth. Levantem o tapete, porém, e não há nada embaixo.
No final das contas O Clube do Crime das Quintas-Feiras é um típico produto de Chris Columbus, cineasta que, apesar de inegavelmente ter obras memoráveis em sua filmografia, nunca despontou como um grande diretor. Ele faz bem o básico e se contenta com a compreensão de que precisa depender de outros fatores para seus filmes realmente decolarem. Aqui, ele tem um grande elenco à sua disposição e é o elenco que faz o longa realmente valer a pena, mesmo que, quando os créditos começam a rolar, a vontade que dá é justamente procurar as obras de real qualidade em que os atores que vimos na telinha estrelaram ao longo de suas carreiras.
O Clube do Crime das Quintas-Feiras (The Thursday Murder Club – EUA, 28 de agosto de 2025)
Direção: Chris Columbus
Roteiro: Katy Brand, Suzanne Heathcote (baseado na obra de Richard Osman)
Elenco: Helen Mirren, Pierce Brosnan, Ben Kingsley, Celia Imrie, Naomi Ackie, Daniel Mays, Henry Lloyd-Hughes, Tom Ellis, Jonathan Pryce, David Tennant, Geoff Bell, Paul Freeman, Richard E. Grant, Ingrid Oliver, Joseph Marcell, Martin Bishop, Ruth Sheen, Susan Kirkby
Duração: 118 min.