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Crítica | O Guarani – 1X01: Episódio 1

Amor impossível?

por Luiz Santiago
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 1
Número de episódios: 35
Período de exibição: 19 de agosto a 28 de setembro de 1991
Há continuação ou reboot?: Não.

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Livre adaptação do romance O Guarani, de José de Alencar, esta minissérie de grande sucesso da rede Manchete se passa na primeira metade do século XVII, e explora as relações extremamente violentas entre a maioria dos portugueses e indígenas, bem como as exceções a esse tipo de relação, além de mais algumas outras questões ligadas à identidade, etnia, origem e o destrato dos supostos cristãos em relação aos nativos (tratados como animais). Também vemos em cena um religioso infame e corrupto, o ex-frade Loredano (Luiz Armando Queiroz) que conseguiu um valioso mapa de minas de prata e que fará de tudo para chegar ao local indicado e iniciar a exploração. Criada e roteirizada por Walcyr Carrasco (que vinha de outra minissérie da Manchete, chamada Filhos do Sol, sobre alienígenas e mistérios entre São Tomé das Letras e Machu Pichu), O Guarani tem uma clara ambição artística e uma produção que não faz feio.

Escalada para o papel de Cecília de Mariz/Ceci, Angélica força uma postura mais plácida, encantadora e angelical. Por não ser uma boa atriz, é claro que suas cenas trazem aquele aspecto incômodo de adequação da personagem à realidade representada, mas pelo menos nisso a edição solta e aleatória do capítulo ajuda: não passamos muito tempo com closes da personagem em cena, pelo menos não neste Piloto, o que impede que as cenas em que Ceci se destaca sejam prejudicadas pelo “olhar de peixe morto” que a atriz dirige à câmera, sem cintar suas poucas e afetadas falas. O fato de ser Agélica uma apresentadora de sucesso acabou tornando o seu personagem icônico nessa minissérie, até atraindo parte do público para a produção, mas uma coisa é certa: ela não se destaca aqui por sua qualidade dramatúrgica. Bem longe disso, na verdade.

Citei a edição aleatória e solta no parágrafo anterior porque este é o setor técnico mais fraco nesse início de O Guarani. Quando temos personagens em destaque e uma cena que exige que o indivíduo olhe para diferentes lados, os problemas começam: os cortes não fazem sentido e a montagem coloca o rosto direcionado para lados diferentes, a ponto de não sabemos se o personagem estava mirando o céu, o interlocutor, o horizonte, um passarinho ou o Superman. É incômodo demais. Em compensação, a direção de Marcos Schechtman faz algo muito legal nas tomadas externas, deixando com que o personagem de Leonardo Brício (Peri) se movimente bem e explore amplamente a natureza ao seu redor. Melhor ainda é a trilha sonora, esta, sim, a cereja do bolo de toda a equipe de técnica. A beleza dos temas e a escolha dos momentos certos de aparecem na trama, bem como sua duração nas cenas, são elogiáveis, ajudando muito a construir as atmosferas e validar o tempo histórico pretendido pelo texto, algo que nem sempre é possível abstrair pela direção de arte ou mesmo pelos figurinos.

Da ganância de um religioso (cristão) criminoso à tentativa de ligação entre nativos e exploradores portugueses a partir da casa de um fidalgo importante, O Guarani não está focado em transliterar o original, mas em partir da essência da obra de José de Alencar para desenvolver uma história de amor entre dois jovens de origens diferentes, num período em que o contato entre eles só poderia ser, na melhor das hipóteses, de gratidão temporária. Gosto da maneira como Walcyr Carrasco apresenta os principais conflitos da minissérie aqui, tanto do lado dos personagens, quanto do lado do espaço cênico ativo (a natureza, as tribos e a casa da família Mariz). É uma produção visualmente muito bonita, com boa direção de externas e, a despeito da presença fraca de Angélica e de uma edição nada criteriosa, consegue entreter e deixar o público curioso pelo desenvolvimento da saga.

O Guarani – 1X01: Episódio 1 (Brasil, 19 de agosto de 1991)
Criação: Walcyr Carrasco
Direção: Marcos Schechtman
Roteiro: Walcyr Carrasco
Elenco: Angélica, Leonardo Brício, Luiz Armando Queiroz, Carlos Eduardo Dolabella, Darlene Glória, Luigi Baricelli, Caíque Ferreira, Constância Laviola, Leila Lopes, Monique Evans, João Signorelli, Nani Venâncio, Marcos Wainberg, Rubens Corrêa, Fernando Eiras, Eduardo Conde, Ivan de Albuquerque, Henrique César, Jitman Vibranovski, Luis de Lima, Jacy Halfoun
Duração: 35 min.

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