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Crítica | O Morcego Diabólico

por Leonardo Campos
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Mesmo sem uma gota de sangue sequer, tampouco as habilidades narrativas das gerações posteriores, mais avançados nos efeitos especiais e, depois, visuais, O Morcego Diabólico consegue ser muito mais interessante que algumas narrativas recentes de terror que tem nos animais, o antagonismo assassino. O clássico preserva algumas falhas típicas de sua época, haja vista a ausência de alguns recursos que podem deixar as plateias frenéticas e mais violentas de hoje um pouco entediadas, mas para quem consome entretenimento sincrônico e diacrônico sem limitações, a narrativa envolve por sua atmosfera peculiar, a abordagem divertida e na época, ainda pouco experimentada. Lançado em 1940, o filme protagonizado por Bela Lugosi envolve os espectadores num clima fantasmagórico, mesmo que sua estrutura central esteja focada num morcego transformado em criatura alada por um ser humano, diante de experimentos científicos.

Tal como Terrores da Noite faria três décadas depois, os morcegos não agem por algum acidente ou anomalia da própria natureza, mas somente após alguém acioná-los para uma missão comandada por um humano, desejoso de vingança ou com outra motivação qualquer. O interesse, no entanto, é ceifar vidas sob encomenda. Dirigido por Jean Yarbrough, cineasta guiado pelo roteiro escrito pela dupla formada por George Bricker e John T. Neville, O Morcego Diabólico nos faz acompanhar, ao longo de 68 minutos, os planos do cientista Paul Carruthers (Bela Lugosi), o “cientista maluco” que decide utilizar as suas habilidades para administrar maldades e resolver os seus problemas de recalque. Ele trabalha na área de cosméticos e deseja ser rico como os patrões. A sua inveja diante das posses alheias o consome diariamente, pois de acordo com a sua observação das coisas, os chefes estão milionários com base nos produtos que ele cria.

O que fazer? Simples: criar uma loção trabalhada minuciosamente em laboratório, focada em desenvolver um itinerário no morcego que cria num determinado lugar de sua casa. Será por intermédio desta criatura que ele promoverá a trilha de corpos durante o filme que aponta sempre para sugestão e trabalha de maneira humorada diversas questões sobre o comportamento humano. Os morcegos, transformados em monstros mortais, tocam o terror na cidade, sob o comando de seu mentor. Manipulado em laboratório, a criatura alada ataca apenas com base nas orientações de Paul Carruthers, o que significa matar aqueles que em algum momento, utilizam a loção criada pelo cientista. Será preciso a astúcia de um repórter local para desvendamento dos crimes cometidos pelo personagem de Lugosi, criador do aroma-alvo que deixa o morcego assassino em puro frenesi. Não há, como já observado, crimes hediondos em cena, ao contrário, pois cada vez que o morcego “monta” em sua vítima, temos um fade e a narrativa segue para o próximo passo nos planos diabólicos com a fragrância mortal.

Os ataques são sempre similares, com o morcego a sobrevoar linearmente o céu, num truque óbvio, delineado pela direção de fotografia padronizada de Arthur Martinelli, acompanhada da produção musical de David Chudnow. Na seara das imagens, o filme não traz nada de especial, com maquiagem básica, design de produção também comum, assinado por Paul Palmentola, setores que dialogam com a divertida sonoridade do morcego, animal que ao entrar em cena para a matança, emite um irritante, mas não menos engraçado, para os padrões atuais, som de fera assassina esganiçada. Creio que seria bem interessante conferir uma versão atualizada da história, algo que sem dúvida alguma, ganharia excesso no CGI para tornar o morcego uma criatura mais mortal que o animatrônico construído pelo estúdio PRC, na época, em sua primeira produção. Conhecido por suas histórias de baixo orçamento, o local foi reduto de muitas produções do cinema B clássico, com direito a uma continuação não oficial em 1946, perdida nos arquivos da memória da sétima arte.

O Morcego Diabólico (The Devil Bat/Estados Unidos, 1940)
Direção: Jean Yarborough
Roteiro:George Bricker, John T. Neville
Elenco: Bela Lugosi, Suzanne Kaaren, Dave O’Brien,  Guy Usher, John Ellis, Yolande Mallott, Donald Kerr
Duração: 68 min.

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